TCU aponta quase 30 mil indícios de irregularidades na distribuição e no uso de recursos do Fundeb.
Indícios vão desde a
permanência de falecidos na folha de pagamentos até a contratação de
professores sem formação adequada. Fundo é o principal meio de financiamento da
educação básica.
O Tribunal de Contas da
União (TCU), em conjunto com os tribunais de contas estaduais, encontrou quase
30 mil indícios de irregularidades na aplicação de recursos do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) em 2020 e 2021.
O Fundeb é o principal meio
de financiamento da educação básica no Brasil. É um fundo que ajuda a manter as
escolas funcionando e ajuda a pagar, por exemplo, o salário de professores.
Os recursos vêm, via de
regra, de impostos e tributos que, por lei, devem ser aplicados no
desenvolvimento do ensino. Uma outra parte do fundo é complementada com
recursos da União.
Os indícios de
irregularidades verificados vão desde a permanência de pessoas falecidas na
folha de pagamentos do fundo até contratação de professores sem formação
adequada.
Segundo os dados reunidos
pelo TCU:
👉18.869 escolas públicas do
país teriam professores de português e de matemática nas turmas finais do
ensino fundamental lecionando as disciplinas sem possuírem formação específica
prevista na legislação, o que é proibido pela Lei de Diretrizes de Base da
Educação. O problema foi verificado em todos os estados brasileiros, com
destaque para o Maranhão;
👉3.768 entes federados com
titularidade indevida da Conta Única e Específica vinculada ao Fundeb. A lei
estabelece a obrigatoriedade de os repasses ocorrerem diretamente ao órgão de
educação, com o objetivo de garantir a aplicação dos recursos à educação,
evitando sua utilização em outras funções de governo;
👉3.218 entes federados não
possuem contas únicas para receberem os recursos do Fundeb. Essas contas
obtiveram créditos de diferentes origens, impossibilitando, na prática, saber
se o dinheiro foi aplicado corretamente; e
👉3.315 servidores falecidos
recebendo remuneração com recursos do Fundeb. A lei veda o uso dos recursos do
Fundeb ou de qualquer outro recurso público para o pagamento a pessoas
falecidas. Também é vedado o pagamento de aposentadorias e pensões com recursos
do Fundeb.
A identificação dos indícios
de irregularidades foi possível devido ao uso de uma ferramenta chamada Sinapse
(Sistema Informatizado de Auditoria em Programas de Educação), criada pelo TCU
em conjunto com tribunais de contas estaduais.
Com essa ferramenta, os
tribunais conseguem cruzar e analisar informações de diversos bancos de dados
para identificar os indícios de irregularidades.
O projeto começou em 2020.
Não foi quantificado, nessa primeira fase, o eventual prejuízo financeiro que
as possíveis irregularidades podem ter causado aos cofres públicos.
O objetivo, segundo os
auditores envolvidos no projeto, é usar os achados de maneira educativa, de
forma a orientar o gestor público a corrigir os erros e a não errar mais.
"O objetivo do Sinapse
neste momento é ensinar o gestor a proceder corretamente, cessando condutas impróprias
ou irregulares", afirma o TCU, em nota.
Próximos passos
Com os achados, os órgãos
públicos ligados às possíveis irregularidades identificadas deverão prestar
esclarecimentos.
Os tribunais de contas
locais vão analisar as respostas e decidir como agir em cada caso.
Novo Fundeb
O Fundeb funciona como uma
espécie de "pote de dinheiro" destinado exclusivamente às escolas
públicas de educação básica (creches, pré-escola, educação infantil, ensino
fundamental, ensino médio, educação especial e educação de jovens e adultos).
Os recursos vêm de impostos e tributos que, por lei, devem ser aplicados no
desenvolvimento do ensino, como ICMS, IPVA e IPI.
A ideia é combater a
desigualdade regional e distribuir o dinheiro para garantir um valor mínimo
investido por aluno, igual a todos os estados.
A lei que regulamentou o
novo Fundeb foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em dezembro de
2020 e definiu as regras para a distribuição dos recursos.
O novo Fundeb começou a
valer em janeiro em 2021. A lei determinou que a contribuição financeira da
União ao fundo aumente gradativamente.
Antes, o governo federal
contribuía com 10% do valor total. No novo Fundeb, esse percentual subiu para
12% em 2021 e seguirá aumentando aos poucos até chegar a 23% em 2026.
Pela lei, a distribuição do
dinheiro, tanto do Fundeb quanto dos fundos estaduais, levará em conta o número
de alunos matriculados na rede pública.
No novo modelo, 70% do
Fundeb pode ir para o pagamento de salários de profissionais da educação. A
regra passou a incluir psicólogos e profissionais de serviço social. Antes,
esse percentual mínimo era de 60%.
Por Jéssica Sant'Ana, g1 —
Brasília
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