Prolongar aleitamento materno depois dos 12 meses diminui consumo de açúcar e chances de cárie nas crianças de até dois anos, diz estudo.
Pesquisa com 800 crianças
brasileiras aponta os benefícios de se estender a amamentação. Pesquisadores
também destacaram que leite materno, sozinho, não causa cárie.
Um estudo coordenado por uma
pesquisadora brasileira concluiu que prolongar o aleitamento materno para além
dos 12 meses de idade ajuda a diminuir as chances de cárie na primeira
infância. Isso ocorre porque essas crianças consomem menos açúcares na
comparação com aquelas que têm a interrupção precoce da amamentação.
A pesquisa acompanhou 800
crianças nascidas entre 2015 e 2016 no município de Cruzeiro do Sul (AC). A PhD
em odontopediatria e primeira autora do trabalho, Jenny Abanto, explica que a
inclusão de açúcar na dieta das crianças é a principal causa para a incidência
de cárie até os dois anos de idade, o que é potencializado pelo fim precoce do
aleitamento materno.
"Bebês que são
amamentados por mais de doze meses consomem menos açúcares. E é de consenso
científico que a cárie dentária é uma doença que requer uma única causa:
açúcares. E o aleitamento materno reduz o seu consumo. Assim, amamentar por
mais tempo protege indiretamente contra a cárie dentária", diz.
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de
idade e, de forma complementar, pelo menos, até os dois anos. Na prática,
segundo a pesquisadora, quanto maior a duração do aleitamento materno depois
que a criança completa o primeiro ano, menor é o consumo de açúcar e, portanto,
as chances de ela desenvolver cárie.
"O que elas podem
esperar é que quanto maior a duração do seu aleitamento materno, maior,
provavelmente, será a aceitação de alimentos saudáveis por essa criança, sendo
que ela não terá um consumo alto de açúcares".
A cárie afeta mais de 600
milhões de crianças no mundo todo, de acordo com a Associação Internacional de
Odontopediatria (IAPD). Quando ocorre na primeira infância, ou seja, até os
seis anos, pode levar à dor crônica, infecções e outros problemas. Tanto a OMS
quanto a IAPD recomendam a não ingestão de açúcares pelas crianças de até dois
anos.
Embora tenha o açúcar como
principal vilão, a cárie é uma doença multifatorial, explica Ilana Marques,
odontopediatra. Além de uma alimentação cariogênica – com excesso de açúcar – ,
a higiene bucal inadequada, falta de flúor e composição salivar podem
contribuir para a doença. Nos casos mais graves, pode, inclusive, levar à morte
do paciente.
"Ela se manifesta,
inicialmente, com manchas brancas, que podem evoluir para manchas amarelas e,
então, se tornar cavidades, podendo destruir o esmalte do dente, chegar até o
canal, provocando, assim, uma infecção que, se não cuidada, pode levar até a
morte".
Outra descoberta importante
do trabalho, de acordo com os pesquisadores, foi que prolongar o aleitamento
materno (após um ano de idade) só pode causar cáries, como alguns estudos
apontaram, se houver açúcar na dieta. Sozinho, o leite materno é incapaz de
afetar a primeira dentição das crianças, explica Abanto.
"Os estudos prévios
tinham mostrado uma associação entre o aleitamento materno além do primeiro ano
de vida e a cárie dentária. Também observamos tal associação, embora fraca. E o
mais importante: essa associação está mediada pelo consumo de açúcares do bebê,
coisa que os estudos anteriores nem sempre tinham mostrado. Ou seja, o leite
materno por si só não contribuiria no desenvolvimento da cárie, mas, sim, os
açúcares que já estão presentes na dieta do bebê", ressalta.
"Esse consumo diário
acaba fazendo com que o açúcar da dieta mude a estrutura e a composição da
placa dentária, e essa placa dentária torna-se mais porosa, mais pegajosa, o
que a gente chama de mais cariogênica, e aí o leite materno que, por si só, não
teria potencial acidogênico ou para induzir uma lesão de cárie, muda um pouco a
sua característica, poderia ser visto com algum grau, mesmo que fraco, de
risco", completa.
Das 800 crianças
acompanhadas pelos pesquisadores, 22,8% tiveram cárie, isto é, duas em cada
dez. Além disso, apenas 2,8% nunca havia ingerido a substância até os 24
meses. Já duas em cada três tinham consumido alimentos com açúcar mais de cinco
vezes ao dia. Durante o primeiro ano de vida, apenas 7,6% nunca havia ingerido
açúcar.
Os resultados do estudo
foram publicados na revista Community Dentistry and Oral Epidemiology.
Fonte: Brasil 61 -
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