Caixa acaba de vez com empréstimo consignado do Auxílio Brasil.
A Caixa Econômica Federal
decidiu encerrar de forma definitiva a oferta de crédito consignado para
beneficiários do Auxílio Brasil –programa que voltará a se chamar Bolsa
Família.
Novas concessões de
empréstimo estavam suspensas desde janeiro enquanto a modalidade passava por
revisão.
“A Caixa informa que os
estudos técnicos sobre o Consignado Auxílio foram concluídos e que o banco
decidiu retirar o produto de seu portfólio. A linha de crédito estava suspensa
desde o dia 12 de janeiro para revisão”, afirmou o banco, principal operador do
empréstimo, em nota.
De acordo com a Caixa, não
há alterações para os contratos já realizados. “O pagamento das prestações
continua sendo realizado de forma automática, por meio do desconto no
benefício, diretamente pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social,
Família e Combate à Fome”, disse.
No dia 9 de fevereiro, o
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou novas regras com
o objetivo de restringir o endividamento das famílias.
A principal mudança foi a
redução do limite de 40% para 5% sobre a fatia do benefício mensal que pode ser
descontada para quitar as prestações do empréstimo.
Passou também a valer uma
taxa de juros inferior à determinada no ano passado, diminuindo de 3,5% para
2,5% ao mês –na Caixa, a taxa de juros ficava um pouco abaixo do teto (3,45% ao
mês).
A taxa de juros estabelecida
no primeiro formato do crédito equivale a 51,1% ao ano. A medida limitou também
o número de parcelas mensais e sucessivas a seis. Nas regras anteriores, eram
permitidos pagamentos em até 24 meses (dois anos).
Desde a implementação,
especialistas consideram arriscada a modalidade de empréstimo para
beneficiários do Auxílio Brasil. A dívida permanece em caso de perda de direito
ao benefício social enquanto o empréstimo não tenha sido completamente quitado.
A liberação das contratações
do consignado foi usada como trunfo na campanha do presidente Jair Bolsonaro
(PL), que acabou derrotado por Lula nas eleições.
Os empréstimos do consignado
do Auxílio Brasil somaram cerca de R$ 5 bilhões em outubro de 2022, de acordo
com dados do Banco Central. A Caixa respondeu por R$ 4,3 bilhões liberados
entre o início da operação, em 11 de outubro, e o dia 21 do mesmo mês.
A maioria dos bancos, porém,
não quis ofertar a linha de crédito diante do elevado risco de inadimplência,
além de possíveis danos à imagem das instituições por embarcar em uma política
que, na prática, incentiva o endividamento de uma população vulnerável.
Depois do segundo turno das
eleições, o banco público passou a restringir a oferta de suas linhas de
crédito e mudou a análise de empréstimos para beneficiários do programa de
transferência de renda.
Em novembro, o banco passou
a liberar menos dinheiro nas concessões, limitando o comprometimento da renda a
20%, ante os 40% do teto válido.
O início das concessões foi
marcado por reclamações de crédito cancelado, demora na liberação do dinheiro,
cobrança de taxa extra e sobrecarga nos sistemas da Caixa.
A modalidade chegou a ser
suspensa antes do segundo turno das eleições, após recomendação do TCU
(Tribunal de Contas da União).
No início de novembro de
2022, contudo, o ministro do TCU Aroldo Cedraz negou um pedido do Ministério
Público para que a Caixa deixasse de fazer novos empréstimos consignados para
os beneficiários do auxílio.
No dia 14 de novembro, o
banco voltou a liberar a modalidade, mas passou a limitar a oferta de suas
linhas de crédito depois de ter atingido os limites orçamentários para o ano de
2022 e mudou a análise de empréstimos do Auxílio Brasil.
Durante o governo de
transição, um comitê formado por funcionários e ex-dirigentes da Caixa alertou
Lula sobre o risco de superendividamento de famílias de baixa renda com a
concessão de empréstimos consignados para esses beneficiários.
Em janeiro deste ano, ao
tomar posse como presidente, Rita Serrano anunciou a suspensão do empréstimo
consignado do Auxílio Brasil, que agora será retirado do portfólio do banco.
“O banco não tem como arcar
com isso”, disse Serrano na ocasião. “Decidimos suspender essa modalidade por
dois motivos. O primeiro é que o governo está revendo o cadastro. Então, não
seria de bom tom [manter]. O segundo é que os juros são muito elevados para
essa parcela da população.”
O ministro do
Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington
Dias, já afirmou que famílias que desejarem tomar crédito para empreender terão
acesso a outras linhas mais apropriadas, como o Pronampe
Já os endividados poderão
pedir auxílio para renegociar seus débitos por meio do programa Desenrola
Brasil, que será lançado pelo governo.
*NATHALIA GARCIA BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
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