PF vai apurar se houve crime no caso de joias dadas pelo governo árabe.
Joias apreendidas pela receita federal - Twitter/Reprodução
Ministro aponta possibilidade de
delitos contra administração pública
O ministro da Justiça e Segurança
Pública, Flávio Dino, enviou, nesta segunda-feira (6), ofício à Polícia Federal
(PF) para que apure as suspeitas de que integrantes do governo do então
presidente Jair Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no país, em 2021, com um
conjunto de joias que o governo da Arábia Saudita supostamente deu de presente
à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
No ofício ao diretor-geral da PF,
o delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, o ministro afirma que, “da forma
como se apresentam”, os fatos divulgados pela imprensa “podem configurar crimes
contra a administração Pública”.
De acordo com o jornal O Estado
de S. Paulo, fiscais da Receita Federal apreenderam, em outubro de 2021, no
Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, um colar, um anel, um
relógio e um par de brincos de diamantes. Avaliadas em cerca de 3 milhões de
euros (aproximadamente R$ 16,5 milhões), as joias foram encontradas na mochila
do militar Marcos André dos Santos Soeiro, que era assessor do então ministro
de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Soeiro e Albuquerque retornavam
de uma viagem oficial ao Oriente Médio. Ainda segundo o jornal, o então
ministro teria pedido aos servidores da Receita que liberassem as joias, mas os
fiscais não atenderam ao pedido, alegando que o ingresso no país com presentes
oficiais de governantes estrangeiros ao governo brasileiro obedece a trâmite
legal específico.
Pela legislação, itens com valor
superior a US$ 1 mil estão sujeitos a tributação quando ingressam em território
nacional. Nesse caso, além do pagamento de 50% em impostos pelo valor dos bens,
seria cobrada multa de 25% pela tentativa de entrada ilegal no país, ou seja,
sem declaração às autoridades alfandegárias.
Retidas pelo não pagamento dos
tributos devidos, as joias permanecem em posse da Receita. Toda a abordagem no
aeroporto foi devidamente filmada por câmaras de segurança existentes no local.
O ministro Flávio Dino já tinha
anunciado, na sexta-feira (3), que pediria a PF para investigar o assunto. Em
sua conta pessoal no Twitter, Dino afirmou que os fatos “podem configurar os
crimes de descaminho, peculato e lavagem de dinheiro, entre outros possíveis
delitos”.
No ofício encaminhado hoje ao
diretor-geral da PF, Dino enfatiza que, segundo reportagens publicadas nos
últimos dias, a apreensão das joias que “seriam entregues ao então presidente
da República” suscitaram, “nos meses subsequentes [à retenção], diversas
providências [por parte da gestão federal] visando à liberação das joias
mantidas sob a guarda da Receita Federal”.
O jornal O Estado de S. Paulo
informou que, nos últimos meses de seu governo, Jair Bolsonaro teria tentado,
ao menos quatro vezes, por meio de ofícios, receber as joias apreendidas, sem
sucesso. Um desses ofícios foi enviado em 28 de dezembro 2022, às vésperas do
fim do mandato presidencial, mas o pedido foi novamente negado pela Receita
Federal.
No sábado (4), a Receita Federal
divulgou nota à imprensa em que afirma que, desde que as joias foram
apreendidas, não houve nenhuma tentativa de regularizá-las, nem tampouco um
pedido fundamentado para incorporar as joias ao patrimônio público, mesmo após
orientações do órgão.
Outro lado
Após a divulgação das denúncias,
a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fez uma postagem em sua conta no
Instagram para comentar o assunto. Ela chegou a ironizar o caso. “Eu tenho tudo
isso e não estava sabendo? Meu Deus!”, escreveu.
Já o ex-presidente Jair Bolsonaro
negou qualquer ilegalidade. À CNN, Bolsonaro afirmou que as joias iriam para
acervo da Presidência da República. “Estou sendo acusado de um presente que eu
não pedi, nem recebi. Vocês vão longe mesmo, hein?! Estou rindo da falta de
cabimento dessa imprensa vexatória. Não existe qualquer ilegalidade da minha
parte. Nunca pratiquei ilegalidade. Veja o meu cartão corporativo pessoal.
Nunca saquei, nem paguei nenhum centavo nesse cartão."
Em nota, a assessoria do
ex-ministro Bento Albuquerque informou que as joias eram "presentes
institucionais destinados à Representação brasileira integrada por Comitiva do
Ministério de Minas e Energia – portanto, ao Estado brasileiro. E que, em
decorrência, o Ministério de Minas e Energia adotaria as medidas cabíveis para
o correto e legal encaminhamento do acervo recebido".
A afirmação difere de declarações
anteriores que o jornal Folha de S.Paulo atribuiu a Albuquerque. Segundo o
jornal, anteriormente, o ex-ministro confirmou que as joias eram um presente do
governo saudita a Michelle Bolsonaro.
Agência Brasil
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