BOMBA: Ex-diretor da Abin admite que adulterou relatório por ordem de G. Dias.
Confrontado pela relatora da CPMI do dia 8 de janeiro, Saulo Moura confirma que alertou o ex-ministro do GSI G. Dias por telefone, duas horas antes da invasão dos prédios da Praça dos Três Poderes.
O depoimento do ex-diretor
da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Saulo Moura da Cunha, na CPMI
(Comissão Parlamentar de Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro nesta terça-feira
(1º) foi marcado por revelações bombásticas por parte do depoente.
A CPI do 8 de Janeiro é
mista, por envolver parlamentares da Câmara e do Senado. O colegiado foi
formado com objetivo de apurar eventuais responsabilidades e omissões que
possam ter contribuído com a invasão e a depredação dos prédios da Praça dos
Três Poderes, no início do ano.
Saulo Moura foi convocado
para depor porque ocupava o cargo de diretor da agência no dia 8 de janeiro,
quando ocorreu a depredação de prédios públicos na Praça dos Três Poderes. Ele
deixou a diretoria do órgão no início de março.
Logo no início da sessão, o
ex-diretor da Abin já revelou o que parecia ser a parte principal do
depoimento: “Eu conversei por telefone duas horas antes das depredações com o
general Gonçalves Dias”, informou. G. Dias, como é conhecido o general citado
por Saulo Moura, era o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) do presidente Lula (PT) no dia 8 de janeiro.
Adulteração
No entanto, até a própria
relatora da CPI Mista, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), uma parlamentar da
base do governo, ficou surpresa quando Moura revelou que, por ordem de G. Dias,
modificou os dados da planilha de informações da Abin sobre o 8 de janeiro.
“O general Gonçalves Dias
pediu que eu retirasse o nome dele como uma das pessoas que receberam os
relatórios, porque não era para que ele fosse um de seus destinatários”.
Perguntado de que se tratam
as mencionadas planilhas, o ex-diretor da Abin respondeu que era a primeira
planilha confeccionada no dia 8: “Essa primeira planilha ficou arquivada na
Agência Brasileira de Inteligência e incluía alertas de inteligência enviados
aos grupos da Abin e também todos aqueles alertas que encaminhamos e que eu encaminhei,
do meu telefone pessoal, ao Ministro”, afirmou o servidor público.
Nesse momento, ele foi
interrompido pela relatora da CPI: “Ou seja: o senhor está dizendo que
adulterou o documento a pedido do G. Dias?!”, questionou.
“Eu não adulterei”
“Eu não adulterei, eu refuto
isso”, replicou o depoente, alegando que, segundo ele, um dos artigos do
regimento interno da Abin determina que o Ministro do GSI é quem decide as
informações que serão repassadas às autoridades.
No entanto, Eliziane Gama
insistiu que fora uma ação ilegal: “Quando ele fez essa solicitação ao senhor –
e o senhor seguiu uma ordem absurda – é bom lembrar que o senhor também tem
responsabilidade sobre isso”, contraditou a relatora.
“O senhor atendeu a um
pedido de uma ilegalidade, o senhor retirou a verdade, retirou um dado e não
apresentou o relatório que foi encaminhado à Cecap”, afirmou Gama. “Então, há
uma responsabilidade compartilhada por ter atendido a uma ordem absurda, que
isso fique bem claro, porque isso está claro no processo legal que trata da
administração pública”, argumentou.
33 alertas
Ao longo do depoimento do
ex-diretor da Abin, Saulo Moura reiterou que a Agência Brasileira de
Inteligência enviou vários alertas sobre o risco de violência na Praça dos Três
Poderes. “No prazo de uma semana antes das invasões, nós enviamos 33 alertas
aos órgãos de segurança do Distrito Federal e do Governo Federal”, afirmou.
“Em um desses alertas, nós
falamos que houve detecção de risco de invasão e depredações de prédios. No
próprio dia 8, nós falamos da presença de pessoas próximas à Esplanada que
diziam estar armadas. Posteriormente, enviamos a identificação de algumas
pessoas. Em tempo real, a Abin produziu esses alertas”, detalhou Saulo Moura
aos parlamentares da Comissão.
Ele foi convocado para depor
a pedido do deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), que foi diretor da Abin no
governo passado. Ramagem justificou no requerimento solicitando a presença de
Cunha pelo fato de a Abin ter emitido 33 alertas a várias autoridades da
Segurança Pública, sobre o risco de ações ilícitas contra autoridades e o
patrimônio público no dia 8 de janeiro passado, dia em que aconteceu o
vandalismo.
Novos requerimentos
A comissão parlamentar mista
de inquérito tem 819 requerimentos pendentes de votação. A maior parte deles
sugere novos depoimentos: são 504 pedidos de convocação e 31 convites. A
oposição quer ouvir sete ministros do presidente Lula:
>Flávio Dino, da Justiça
e da Segurança Pública;
>José Múcio Monteiro, da
Defesa;
>General Marcos Antonio
Amaro dos Santos, do Gabinete de >Segurança Institucional (GSI);
>Rui Costa, da Casa
Civil;
>Alexandre Padilha, da
Secretaria de Relações Institucionais;
>Paulo Pimenta, da
Secretaria de Comunicação Social; e
>Márcio Costa Macêdo, da
Secretaria-Geral da Presidência da República.
Os governistas, por outro
lado, querem a convocação do general Augusto Heleno, ministro do GSI durante a
gestão do presidente Jair Bolsonaro. Um pedido apresentado durante o recesso
sugere a convocação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Os parlamentares
apresentaram 158 requerimentos para a quebra de sigilos bancário, fiscal,
telefônico e telemático. Uma parte dos pedidos se refere a empresas, sindicatos
e pessoas físicas suspeitas de participação ou financiamento dos atos do dia 8
de janeiro.
Outro lote de requerimentos
busca alcançar figuras públicas. Há pedidos para a transferência de dados
sigilosos do ex-presidente Jair Bolsonaro, do empresário Luciano Hang, do
ex-deputado federal Daniel Silveira (RJ) e da mulher do tenente-coronel Mauro
Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid.
Fonte: Brasil 61 -
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