Tena: um educador do esporte.
Foi numa manhã de domingo que fui, amigavelmente, recebido na
quadra de esportes do bairro Chico de Adauto, em Picuí. Havia ali um amistoso
entre os meninos daquela localidade e o Paysandu, time de Damião Sebastião da
Silva Araújo, o Tena, que logo ao me avistar foi passando o apito de jogo para
um menino continuar apitando a partida dos garotos. Tena, ao me cumprimentar, tratou
logo de me contar sobre sua trajetória no futebol amador de Picuí. Contou fatos
curiosos como a vez em que, hesitoso, jogou ao lado de Zinho, jogador picuiense
que fez história no futebol profissional passando por times com Sport Recife,
Bahia, Portuguesa, Ceará, Ponte Preta, Campinense e outros. Conta que durante a
partida defendendo o tradicional Limeirão sofreu pênalti, e Zinho jogou a
responsabilidade para ele, Tena, ainda garoto: “quem sofre o pênalti é quem
bate”. Felizmente, o pênalti foi convertido com êxito.
Tena não sabe ler nem escrever, porém é um educador. Usa o
esporte como ferramenta de transformação na sua comunidade. Aos 48 anos, pai de
dois filhos que seguiram os passos no futebol e futsal também. Joedson, de 22
anos e de Joalisson, de 24. E acaba de se tornar avô.
Sabe através da sabedoria, conquistada ainda quando era
atleta, da fundamental importância que o futebol amador teve na sua vida. Traz
uma bagagem de experiência que somou durante sua vida, tanto pessoal quanto
futebolística. Fala dos times que atuou: “Limeirão, Grupo de Jovem, Canarinho,
Potiguar, Palmeiras de Manoel Aquilino, Flamengo das Vertentes de Sinval, esses
os principais”.
Decidiu pendurar as chuteiras de campo e os tênis de salão
para ser treinador. “Eu sofri um acidente de moto que machucou o joelho, não
engessei, aí o joelho dói quando jogo.”, lamenta. E é, assim, que almeja um
novo espaço no futsal como treinador. É o fundador do Paysandu Limeira, equipe
adulta de futsal. O clube que
recentemente já chegou à final adulto Campeonato Municipal de Futsal de
2023, em Picuí. Apesar do título não ter vindo, após perder nos pênaltis, veio
algo muito maior: a germinação da semente de um novo time do Bairro Limeira.
Tena acredita nos novos talentos dos bairros Limeira e também
do Chico de Adauto. Por isso tem uma escolinha de futsal do Paysandu. Para ele,
o esporte é o sinônimo mais genuíno da inclusão social. Possivelmente, não
saberia falar rebuscado assim. Claro que não precisa, sua ação é o ideal.
Divulga seu trabalho modesto através da rede social Instagram. Entrevista os
garotos, faz perguntas básicas sobre o que acharam do jogo. A maioria são
crianças tímidas, respondem com a simplicidade de quem apenas ama jogar bola,
buscando se destacarem, ajudando sua equipe em quadra.
Tena não é doutor, nem precisa. Seu amor pelo esporte
transpõe qualquer estudo. É suficiente para desenvolver na sua comunidade a
semente do bem comum. Apesar das dificuldades para se fazer esporte, onde as
políticas públicas mal chegam. Tena luta ali, corre acolá, busca dali. Mas o
time entra em quadra, garante. Tena é um sonhador. Acredita no potencial dos
meninos, alguns filhos de pais que foram seus colegas em campo ou quadra. Agora
o objetivo de Tena é mostrar que os garotos de sua comunidade precisam ser
valorizados através do talento no esporte. Para ele, não precisam se tornar
jogadores profissionais, mas bons cidadãos. "Do jeito que o mundo hoje tá,
aí eu gosto de fazer o esporte. Eu acho bom porque ocupa a mente dos meninos,
né? Pelo menos botar a mente só em futebol, jogar. Eu digo a eles: vamos jogar
direitinho, às vezes os meninos fazem tumulto. Eu digo: não, vamos jogar,
ajeitar, muitos meninos, vai aos poucos. Vai entrando de um em um",
pondera. "As 'coisa' é difícil, mas é assim mesmo. Eu vou devagarzinho.
Graças a Deus, às vezes tem 'cába' que ajuda com uma bola. Qualquer coisa é
importante, qualquer ajudinha."
Tena, certamente, se enxerga nos garotos quando lembra que
também teve oportunidade para jogar. “Minha primeira oportunidade quem me deu
foi Gordinho [treinador que fez história no futebol de Picuí], no time do
Limeirão. Eu jogava na preliminar [como é chamada a esquipe aspirante]. Aí Pneu
[grande jogador do Limeirão] jogando muito na titular [equipe principal] se
machucou. Pneu jogava muito. Gordinho chegou em mim dizendo que quem ia
substituir ‘era’ eu, fiquei com medo. Mas ele logo disse que não tivesse medo,
que se eu errasse não tinha problema que depois acertava e a equipe ia me
ajudar em campo”, lembra com certo saudosismo.
E é essa oportunidade que ganhou lá atrás o tornou o que é
hoje, um apaixonado pelo esporte. “Eu tenho amor pelo esporte. Dia de domingo,
final de semana faço o que gosto, que é botar a garotada pra jogar. Já chegam
lá em casa de manhã me chamando para ir pra quadra jogar”, diz com orgulho.
Quer gerar mesmo oportunidades para os novos jogadores que vêm chegando. “Aqui
tem muito menino bom de bola, só é dá oportunidade.”
*Wellyson Marlon
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