General defendeu rompimento institucional para manter Bolsonaro.
General Augusto Heleno - Foto: Marcelo Augusto/Agência Brasil
Bolsonaro interrompeu fala de Heleno com receio de vazamento
O general Augusto Heleno defendeu, durante a reunião da
cúpula de governo do então presidente Jair Bolsonaro, rompimentos
institucionais e uma “virada de mesa” antes das eleições de 2022. Na mesma
reunião, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) manifestou
preocupação com o risco de haver vazamentos sobre a atuação de agentes da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A reunião está registrada em um vídeo divulgado na
sexta-feira (9) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação
Tempus Veritatis. A operação foi deflagrada na quinta-feira (8) pela Polícia
Federal para investigar uma suposta organização criminosa cuja atuação teria
resultado na tentativa malsucedida de golpe de Estado no 8 de janeiro de 2023.
Ao manifestar preocupação com a possibilidade de agentes da
Abin que estariam sendo estrategicamente infiltrados naquele ano eleitoral,
Augusto Heleno foi interrompido por Bolsonaro, sob o argumento de que o assunto
teria de ser discutido no particular.
“Dois pontos que eu quero colocar aqui, presidente. Primeiro,
o problema da inteligência. Eu já conversei ontem com o Vitor, que é o novo
presidente da Abin [Victor Felismino Carneiro, então diretor-adjunto da Abin].
Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo.
O problema todo disso é que se vazar qualquer coisa. A gente se conhece nesse
meio. Qualquer acusação de infiltração desses elementos da Abin, em qualquer…”.
Nesse momento Augusto Heleno foi interrompido por Bolsonaro.
“General, eu peço que o senhor não fale, por favor. Que não prossiga na sua
observação aqui. Se a gente começar a falar [sobre] não vazar, esquece. Pode
vazar. Então a gente conversa em particular na minha sala sobre esse assunto,
do que porventura a Abin está fazendo”, disse Bolsonaro.
Rompimento institucional
O general Heleno então retoma sua fala para manifestar a
segunda preocupação. “Não tem VAR [juiz assistente de vídeo, utilizado no
futebol] nas eleições. Não vai ter segunda chamada das eleições. Não vai ter
revisão do VAR. Então o que tiver de ser feito tem de ser feito antes das
eleições”, disse o general.
“Se tiver de dar soco na mesa é antes das eleições; se tiver
de virar a mesa é antes das eleições. Depois das eleições será muito difícil
que tenhamos alguma nova perspectiva. Até porque eles vão fazer tão bem feito,
que essa conversa do Fachin [ministro Edson Fachin, do STF] com os
embaixadores, vai eliminar a possibilidade do VAR acontecer. No dia seguinte
todo mundo reconhece [o novo governo], e fim de papo”, acrescentou.
Na sequência, Heleno propõe a Bolsonaro que promova um
rompimento institucional para se manter no poder. “Isso tem de ficar bem claro.
Acho que as coisas têm de ser feitas antes das eleições. Vai chegar em um ponto
em que não vamos poder falar. Vamos ter de agir. Agir contra determinadas
instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”.
Outro lado
À Agência Brasil, Augusto Heleno afirmou que não se
manifestará sobre o caso por não ter tido acesso aos autos do processo.
Em comunicado à imprensa, a defesa de Jair Bolsonaro afirmou
que ele "jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a
desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o
pavimentam".
Agência Brasil
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