Pé-de-meia: como funciona o programa de incentivo à conclusão do ensino médio.
Reduzir a evasão escolar e desigualdade no acesso à
universidade são os objetivos do programa que irá pagar até R$ 9,2 mil para
quem concluir o ensino médio.
Uma das estratégias do governo federal para tentar frear a
evasão e o abandono escolar no ensino médio vem já tem regras definidas, mas
ainda divide opiniões. O programa “pé-de-meia” do Ministério da Educação (MEC)
irá pagar até R$ 9,2 mil para os estudantes que concluírem os três anos do
ensino médio — e fizerem o Enem. Funciona como uma “poupança” que também visa
diminuir a desigualdade no acesso à universidade e ao mercado de trabalho.
Um levantamento feito pelo instituto Unibanco e consolidado
pelos dados do IBGE, em 2020, mostra que a taxa de evasão escolar no ensino
médio era de 6,9%. Segundo um perfil traçado pelo MEC, os jovens mais propensos
a desistirem da escola antes de se formar são: são os de baixa renda, em sua
maioria negros, forçados precocemente ao mercado de trabalho ou que engravidam
já na adolescência.
A professora e pós-doutora em políticas educacionais pela
Universidade Federal do Paraná, Mônica Ribeiro da Silva, vê o programa com
algumas ressalvas. Segundo ela, o apoio financeiro para manter o jovem na
escola é, sim, importante. Mas isso não é suficiente.
“É importante que se tenha clareza que nós passamos por um
processo no ensino médio brasileiro de elevado abandono e evasão escolar
— porém é importante antes de qualquer coisa, que se identifique as causas
da evasão e do abandono.”
Medida paliativa
Segundo a professora Mônica, “qualquer medida para conter o
abandono, além de ser uma medida paliativa, só não vai ser suficiente para
reverter o problema” considerado por ela, um “problema estrutural”. Ela explica
que é preciso fazer um diagnóstico qualificado — com dados e análises — para
saber quais são as diferentes causas, pois elas não são apenas por razões
financeiras.
“Um programa, isoladamente, não é capaz de reverter os
problemas que ocorrem no ensino médio público brasileiro. Nós temos problemas
de qualidade, temos problemas com relação a qual currículo, organização
pedagógica, proposta de ensino médio essas instituições oferecem.”
Segundo ela, é preciso pensar num conjunto de políticas
públicas articuladas que sejam capazes de reverter o problema de forma
integral.
Como funciona o pé-de-meia
O governo já publicou duas portarias que definem as regras do
programa. Segundo elas, para participar é preciso estar matriculado no ensino
médio ou na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de escolas públicas e também:
ter entre 14 e 24 anos;
fazer parte de família inscrita no Cadastro Único (CadÚnico)
O benefício será pago em etapas, dessa forma:
matrícula, no valor anual de R$ 200;
frequência, no valor anual de R$ 1.800;
conclusão do ano, no valor anual de R$ 1.000;
Enem, em parcela única de R$ 200.
Quem reprovar duas vezes consecutivas, abandonar os estudos
por dois anos ou cometer qualquer fraude, será desligado do programa.
A estudante do Centro Educacional 8 do Gama, Ana Carolina
Alves, tem 16 anos e cursa o terceiro ano do ensino médio. Ela não vai receber
o benefício, mas acredita que o programa é um grande incentivo e uma grande
ajuda para garantir o futuro dos estudantes. Mas, para ela, não é a solução
para tudo que considera errado no ensino médio.
“Na minha concepção, o programa não irá combater 100% a
evasão escolar. Mas de momento ajudará sim — e esse incentivo deveria ser
ampliado a mais entidades de ensino, mas com opiniões abertas entre alunos e
professores.”
Para quem se enquadra nas regras, o incentivo matrícula, de
R$ 200, será pago entre os dias 26 de março e 7 de abril.
Fonte: Brasil 61 –
Nenhum comentário