Piso da enfermagem: efetivação do salário aprovado ainda enfrenta resistência.
Empregadores argumentam falta de recursos para seguir com o
que foi determinado, segundo alguns profissionais da saúde.
A implementação do piso salarial da enfermagem permanece sem
solução para alguns profissionais da saúde. A efetivação do pagamento, conforme
estabelecido pela Lei nº 14.434, ainda passa por resistência de empregadores e
municípios que argumentam falta de recursos para seguir com o que foi
determinado. A advogada especialista em direito do trabalho Camila Andrea
Braga explica que a discussão sobre o valor considerado pela lei como um
valor global de remuneração — e não como piso da categoria — ainda gera discussão
e resistência.
“Quando você considera o piso da categoria, o valor previsto
na lei, significa que todos os valores devem ser considerados com base naquele
valor. Então o cômputo de horas extras, adicionais — tudo deve ser
considerado com a base mínima do valor trazido pela lei”. Camila Andrea Braga
acrescenta ainda:
“Quando você considera o valor global, significa que o
profissional de enfermagem, dentro dos diferentes níveis, não pode receber
menos do que aquilo, considerando a remuneração como um todo”, aponta.
O conselheiro do Conselho Nacional da Enfermagem Daniel
Menezes espera que os questionamentos levantados pelas entidades que
representam a categoria, que ainda aguardam uma solução, sejam definidos. “A
gente defende que a carga horária seja aquela contratada pelo empregador por
conta do vínculo — e o piso se aplique sobre essa cargo horária contratada”,
observa.
Acordo com a categoria
Os enfermeiros, técnicos em enfermagem, auxiliares de
enfermagem e parteiras de algumas regiões já conseguiram fechar um acordo, como
é o caso de Campinas, São Paulo. Lá, o Sindicato dos Empregados em
Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Campinas e Região
(SINSAÚDE) informou que, até o momento, não tem recebido reclamações ou
demandas neste sentido.
No Rio de Janeiro, o sindicato decidiu aceitar a proposta dos
empregadores, mesmo sabendo que ainda não é o ideal, como conta a técnica de
enfermagem, Patrícia Monteiro Vieira Almeida.
“Esse acordo não atende nós, profissionais da saúde, devido a
estar sendo feito fora da lei do Piso Nacional da Enfermagem. A gente sabe que,
por lei, o que a gente esperava, o cenário que a gente esperava era estar
recebendo o valor integral do piso nacional. Porém, não está sendo dessa
forma”, relata.
Proposta em andamento
Ao longo do ano de 2023, o Tribunal Superior do Trabalho
(TST) foi chamado pela Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) — que
representa a categoria patronal de estabelecimentos privados de saúde —, para
mediar a situação. Vários encontros foram feitos, mas sem solução. No momento,
ainda existe uma proposta em aberto no TST.
A última reunião ocorreu no fim do ano de 2023. A CNSaúde
entregou um documento ao tribunal, que foi repassado para os profissionais do
setor. No entanto, segundo informações do próprio TST, as entidades de
representação dos trabalhadores da saúde ainda não responderam. Eles estão
analisando o que foi sugerido criando, assim, uma expectativa a respeito do
assunto — se o impasse irá ou não ser encerrado definitivamente nas regiões que
ainda apresentam problemas.
Uma dessas regiões ainda sem solução é o estado de
Pernambuco. O presidente do Sindicato Profissional de Auxiliares e Técnicos de
Enfermagem de Pernambuco (Satempe), Francis Herbert, reclama que os
trabalhadores estão recebendo menos e o piso deixou de ser piso para ser teto.
“Os valores não estão sendo pagos em dia. Nós temos gestores
municipais e estaduais atrasando o repasse para funcionários e servidores,
levando mais de 30 dias para isso. Nesse sentido, há uma desorganização e uma
falta de respeito imensa ainda para com a categoria”, observa.
O presidente do Satempe espera que, em 2024, as
inconsistências que perduram desde o ano passado sejam resolvidas. “Depois
do julgamento dos embargos no STF, precisamos fazer com que a rede privada
lucrativa venha a implementar um piso, uma vez que eles passaram por cima da
Constituição — não cumpriram a decisão do STF”, relata.
A discussão sobre o piso salarial da enfermagem está em pauta
no Brasil há anos. Em 4 de agosto de 2022, a lei n.° 14.434 estabeleceu um
valor mínimo de salário para enfermeiros, técnicos em enfermagem, auxiliares de
enfermagem e parteiras em todo o país. Posteriormente, a Emenda Constitucional
n.° 127/2022 determinou que caberia à União prestar assistência financeira
complementar aos estados, municípios, Distrito Federal e entidades
filantrópicas.
Fonte: Brasil 61 -
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