Barroso diz que risco à democracia era maior do que se pensava.
Para ele, estabilidade institucional foi rompida por tramas
golpistas
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso,
disse nesta segunda-feira (4) que o risco de uma ruptura com a democracia nos
últimos anos era maior do que se pensava. “As investigações estão revelando que
nós estivemos mais próximos do que pensávamos do impensável. Nós achávamos que
já havíamos percorrido todos os ciclos do atraso institucional para ter que nos
preocupar com ameaça de golpe de Estado quando já avançado o século 21”, disse
ao dar uma aula magna na Pontifícia Universidade Católica (PUC), na capital
paulista.
Durante a palestra, Barroso destacou a estabilidade
institucional vivida pelo país desde a Constituição de 1988 entrar em vigor.
Essa tranquilidade só foi rompida, na avaliação do ministro, com as tramas
golpistas que vêm sendo reveladas pelas investigações da Polícia Federal
envolvendo integrantes do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Esse
problema só entrou no radar da sociedade brasileira, infelizmente, nos últimos
anos. E vai ficando para trás. Mas entrou de uma maneira muito preocupante”, enfatizou.
O ministro também criticou “politização das Forças Armadas”
que, segundo ele, também participaram das tentativas de desacreditar as
eleições de 2022. “Foram manipulados e arremessados na política por más
lideranças. Fizeram um papelão no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Convidados
para ajudar na segurança e para dar transparência, foram induzidas por uma má
liderança a ficarem levantando suspeitas falsas”, afirmou Barroso.
O que aconteceu no Brasil faz parte, na opinião do ministro,
de “onda de um populismo autoritário” que atinge diversos países. “O mundo
assiste a uma onda de um populismo autoritário, anti-institucional e
antipluralista. O populismo pode ser de direita, pode ser de esquerda, embora
hoje no mundo os riscos estejam vindo mais intensamente dos populismos de
direita, com as suas manifestações de racismo, de xenofobia, de misoginia e de
anti-ambientalismo”, disse.
A divulgação de informações falsas é, segundo o ministro, uma
das estratégias desses grupos de extrema-direita. “A circulação da
desinformação já se tornou uma estratégia de destruição, de desconstrução de
reputações desse mundo desencontrado que nós estamos”, ressaltou.
Barroso ressaltou que nos regimes democráticos as diferentes
formas de pensamento devem conviver. “A democracia é plural. Ninguém tem o
monopólio da representação do povo. Democracia tem espaço para progressistas,
para liberais e para conservadores. Só não tem espaço para aqueles que não
aceitam o outro, para intolerância, para quem não seja capaz de respeitar as
regras do jogo”, pontuou.
Investigações
No último dia 8 de fevereiro, foi lançada uma operação da
Polícia Federal que teve como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro e integrantes
de seu governo, incluindo ministros e militares. Eles são investigados por
formarem uma suposta organização criminosa para atuar na tentativa de golpe de
Estado. A operação foi batizada de Tempus Veritatis ou Hora da Verdade, em
tradução livre.
As investigações apontaram que o grupo formulou uma minuta,
com a participação de Bolsonaro, que previa uma série de medidas contra o Poder
Judiciário, incluindo a prisão de ministros da Suprema Corte. Esse grupo também
promoveu reuniões para impulsionar a divulgação de notícias falsas contra o
sistema eleitoral brasileiro e monitorou o ministro do STF, Alexandre de
Moraes.
Agência Brasil
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