Frente Nacional dos Consumidores de Energia apresenta medidas ao governo federal para conter alta na conta de luz e evitar apagões.
A Frente Nacional dos Consumidores de Energia apresentou ao
Ministério de Minas e Energia um pacote de prioridades que visam reduzir o
preço da conta de luz e aprimorar as estruturas para evitar apagões em períodos
de chuva. Na Semana do Consumidor, a coalizão formada por 16 entidades defende
uma revisão de subsídios que encarecem a tarifa e alerta para uma possível
crise do setor elétrico brasileiro antes de 2030, caso não haja uma mudança nas
normas vigentes.
O documento entregue ao governo federal destaca dados da
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) que apontam um total de R$ 37
bilhões em subsídios — destinados ao financiamento de políticas públicas — a
serem pagos pelos brasileiros na conta de luz neste ano de 2024. A Frente
critica a ideia de que só é possível viabilizar políticas públicas por meio de
taxas repassadas ao consumidor.
“Cerca de 40% do custo da energia elétrica no Brasil são
tributos, encargos e perdas, três itens que carecem de revisão e que
materializam ineficiências e desigualdades. Do pãozinho ao serviço de internet,
a energia está no preço de tudo. Portanto, os impactos dessa revisão terão
ampla repercussão em toda a economia”, diz o documento.
10 prioridades
1. Iniciar reforma do setor
A Frente defende a implementação de iniciativas ainda em 2024
para reformular o setor elétrico, considerando as condições comerciais,
operacionais e de consumo atuais, além de reconhecer as urgências climáticas e
preservar a sustentabilidade energética. Essa reforma deve ser conduzida pelo
Poder Executivo.
2. Reavaliar subsídios
Visa uma ampla revisão dos subsídios já existentes. A ideia é
extinguir os que perderam a razão de existir. Os subsídios que permanecerem,
devem ser retirados da conta do consumidor e transferidos de maneira gradual e
planejada para o Tesouro Nacional.
3. Senado arquivar o PDL 365 e o
2.703
De acordo com a Frente, o PDL 365/22 aumenta a tarifa nas
regiões Norte e Nordeste e pode causar um prejuízo de R$ 800 milhões por ano
aos consumidores de energia dessas regiões. Em relação ao PL 2.703, a
estimativa é de um impacto adicional superior a R$ 1,6 bilhão ao ano na
Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), podendo chegar a R$ 4 bilhões.
4. Senado aprovar o marco do hidrogênio
verde
A Frente avalia que a aprovação da proposta é positiva, mas
sem que sejam incluídos novos subsídios e com um sistema de governança em nível
federal.
5. Senado aprovar o marco das eólicas
offshore
A prioridade é que o projeto de lei que regula a produção de
energia eólica em alto mar seja aprovado no Senado também sem subsídios. A
Frente dos Consumidores entende que os senadores devem rejeitar as mudanças
feitas pela Câmara, que podem gerar um impacto de R$ 25 bilhões por ano na
conta de luz.
6. Cumprir contratos e rever acordos
Acordos mediados pelo Tribunal de Contas da União (TCU)
envolvendo a contratação emergencial de usinas térmicas não estão seguindo as
regras previstas no Edital e nos contratos e com isso geram prejuízos aos
consumidores e insegurança jurídica
7. Estabelecer estratégia para
enfrentamento das mudanças climáticas
Neste ponto, a Frente ressalta que é necessário a Aneel
estabelecer estratégias que garantam uma ação efetiva e coordenada por parte
das distribuidoras de energia assim como ações das prefeituras e demais órgãos
estaduais e municipais, de modo que todos assumam suas responsabilidades e
atuem para evitar os apagões e demais falhas de fornecimento de energia durante
as fortes chuvas e rajadas de vento que têm ocorrido em todo o país. A Frente
destaca ainda que tudo isso deve ser feito sem a criação de novos impostos ou
subsídios.
8. Concluir negociação do acordo de Itaipu
com redução da tarifa
Impasse entre Brasil e Paraguai para definir a tarifa cobrada
pela energia produzida pela usina de Itaipu pode provocar aumento na conta de
luz. Para evitar esse risco, a Frente defende uma proposta alternativa
para que a negociação entre os dois países leve a uma tarifa mais barata e mais
justa para os consumidores brasileiros.
9. Evitar novas fontes geradoras de gases
de efeito estufa
A Frente propõe que não seja levada adiante a
construção de usinas térmicas movidas a gás, prevista na Lei de Privatização da
Eletrobras e no PL que trata as eólicas offshore, pois elas aumentam a conta de
luz e trazem consequências para a saúde e o meio ambiente.
10. Consumidores devem participar do
processo de renovação das concessões de distribuição de energia
A entidade defende a participação dos consumidores de energia
em toda a discussão que envolve o processo de renovação das concessões e
enfatiza que esse processo deve ser conduzido pelo Poder Executivo e não por
meio de leis no Congresso Nacional.
De acordo com o presidente da Frente, Luiz Eduardo Barata, o
grupo que representa todos os segmentos de consumo de energia do país tem
buscado uma interlocução permanente com os poderes Executivo e Legislativo. O
objetivo é reduzir o custo da energia repassado ao consumidor.
“Quando aumentamos exageradamente a conta de luz, afetamos a
vida do consumidor brasileiro de duas maneiras: afetamos diretamente no
pagamento da sua conta de luz, mas também no aumento de todos os serviços e
produtos que necessita consumir”, afirma.
A Frente argumenta que reduzir o valor da tarifa de maneira
sustentável contribui para o crescimento econômico do país e para o alcance do
equilíbrio fiscal do governo. Entre as prioridades propostas, estão a aprovação
no Congresso Nacional de pautas consideradas “verdes”, como os marcos
regulatórios do hidrogênio verde e da produção de energia eólica em alto mar,
desde que não sejam incluídos novos subsídios.
No caso do marco legal da produção de energia eólica em alto
mar (as eólicas offshore), o documento ressalta um possível aumento de 11% na
tarifa, caso os subsídios inseridos pela Câmara dos Deputados sejam mantidos no
Senado. Para acompanhar a atuação dos deputados e senadores em relação a
medidas que encarecem a conta de luz, a Frente criou ranking que
permite ao consumidor acompanhar a atuação de deputados e senadores em
relação a medidas que encarecem a conta de luz.
Luiz Eduardo Barata avalia que as fontes renováveis já estão
consolidadas e não precisam mais de subsídios. Ele afirma que essas fontes já
são as mais baratas. O presidente da Frente aponta uma contradição entre a
qualidade da matriz energética do país e o custo da energia paga pelos
brasileiros.
“É uma contradição termos uma das energias mais baratas do
mundo pela natureza da nossa matriz elétrica, composta por hidrelétricas,
eólicas e solares, e, ao mesmo tempo, uma das contas de luz mais caras do
mundo. Isso se deve principalmente pela presença de tributos e de encargos, o
que faz com que grande parte da população tenha o comprometimento da sua renda
em torno de 20% para o pagamento da conta de energia”, pontua.
Fonte: Brasil 61 –
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