Aumento de impostos e de preço mínimo do cigarro desestimula consumo, mas pode incentivar contrabando, apontam especialistas.
Governo anunciou majoração do IPI sobre o cigarro nesta
semana. Com problemas para atingir meta de déficit fiscal, governo busca
aumentar arrecadação.
Ao mesmo tempo em que o aumento de tributos e do preço mínimo
do cigarro contribuem para desestimular o uso do tabaco no país,
especialistas ouvidos pelo Brasil 61 apontam que a medida pode incentivar o
contrabando, uma vez que a diferença de valor no mercado legal e no mercado
paralelo tende a aumentar.
O tema voltou à tona após um decreto do governo determinar
que, a partir de 1º de setembro, o preço mínimo da vintena (20 unidades) seja
de R$ 6,50. Desde 2016, o valor era de R$ 5.
Já o valor, em reais, da alíquota do IPI cobrado sobre o maço
e o box de cigarro passará de R$ 1,50 para R$ 2,25, a partir de 1º de
novembro.
Advogado especialista em direito tributário, Ranieri Genari
diz que a, princípio, a majoração de impostos sobre o cigarro parece mirar o
aumento da arrecadação do Executivo, uma vez que o número de fumantes no Brasil
não tem crescido a ponto de justificar que a tributação suba para desestimular
o consumo.
"Isso tem cunho arrecadatório, porque não há pesquisas
que indiquem aumento de fumantes; pelo contrário. Se a gente for olhar o
timing, o governo anunciou corte [de recursos] no Ministério da Saúde.
Extrapolando a visão tributária, isso é uma forma de tentar compensar esse
problema arrecadatório, para tentar trazer um valor para suprir o SUS."
Saúde
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, entre 80% e 90%
das mortes por câncer de pulmão no Brasil têm relação direta com o uso de
cigarro. O advogado tributarista Leonardo Roesler diz que a medida adotada pelo
governo tem viés arrecadatório, mas é positiva do ponto de vista social.
"A política de preços mínimos tem o objetivo de evitar
que os cigarros sejam vendidos a preços excessivamente baixos, o que poderia
incentivar o consumo. Se olharmos para o argumento da saúde pública, o aumento
dos impostos e do preço mínimo do cigarro é coerente com as diretrizes da
Organização Mundial da Saúde (OMS), a fim de controlar o tabagismo",
avalia.
Ele alerta que, no entanto, a diferença entre o preço do
cigarro vendido de forma legal e aquele de forma ilegal vai subir, aumentando o
contrabando. "Esse diferencial cria um forte incentivo econômico para que
os consumidores optem pelos produtos contrabandeados, que não estão sujeitos à
mesma tributação. Após o aumento de IPI em 2016, houve crescimento substancial
no mercado ilegal de cigarros", lembra.
Tabaco no Brasil
De acordo com a Abifumo, o Brasil é o líder mundial de
exportação de tabaco, posto que ocupa há mais de 20 anos. A cadeia produtiva do
setor emprega direta e indiretamente 2,1 milhões de pessoas.
Segundo a OMS, o consumo de tabaco no Brasil caiu 35% desde
2010. A Vigitel (Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) aponta que o número de fumantes com
18 anos ou mais, no país, era de 9,1%, em 2021.
Imposto Seletivo
No novo sistema tributário — aprovado pelo Congresso Nacional
no fim do ano passado — o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) será
extinto, com exceção daquele que vai incidir sobre os itens produzidos na Zona
Franca de Manaus.
No entanto, passará a existir o Imposto Seletivo (IS), cuja
finalidade é desestimular o consumo de produtos e serviços considerados
prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.
Os cigarros, assim como as bebidas alcoólicas, estão entre os
itens cujo novo sistema pretende aplicar o chamado "imposto do
pecado", tornando-os mais caros.
Isso significa que, ao comprar cigarro, o consumidor irá
pagar a CBS (que substituiu PIS e Cofins), o IBS (que substitui ICMS e ISS) e,
também, o Imposto Seletivo.
Enquanto a soma das alíquotas da CBS e do IBS é estimada em
26,5%, ainda não se sabe qual será o percentual do IS que vai incidir sobre o
cigarro.
Por outro lado, o uso de cigarros eletrônicos, como o vape e
o pod, cresceu 600% nos últimos seis anos, no Brasil, de acordo com o instituto
Ipec.
Fonte: Brasil 61 -
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