PALAVRA DO SENHOR – Ousamos chamar-Te de Pai. Por Pe. Edjamir Silva Souza.
Padre e Psicólogo Edjamir Souza Silva
A primeira oração da missa de hoje fala da paternidade de
Deus: “Deus eterno todo poderoso, a quem ousamos chamar de Pai” (Oração
coleta). É uma coincidência, pois hoje,
no calendário civil, festeja-se o dia dos pais. E a oração continua: “Dai-nos
cada vez mais um coração de filho, para alcançarmos a herança que
prometestes”.
No exercício da paternidade os pais devem buscar inspiração
na paternidade de Deus. Na carta aos Efésios escutamos: “Eu dobro os joelhos
diante do Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo de quem procede toda a
família (paternidade) no céu e na terra” (Ef 3,14-20). Todo o pai da terra deve parecer com o Pai do
Céu, caso contrário, não é pai.
O Pai do Céu é cuidadoso, é misericórdia, providência, é
aconchego, proteção, faz chover sobre os bons e os maus, justos e injustos, e
dá o alimento a todos (cf Mt 5, 45ss).
No evangelho deste domingo continuamos a ouvir o Discurso do
Pão no evangelho de João (Jo 6, 41-51): “Eu sou o pão que desceu do céu” (v.
41b). “O Pai me enviou” (v. 44). Percebam que Jesus é o alimento dado pelo Pai.
Entre tantos “ingredientes” que tem este Pão, que já refletimos nos últimos
domingos, agora podemos dizer que este Pão tem gosto de céu, tem gostinho de
filiação divina, tem gosto de vida eterna (v. 47).
As autoridades dos judeus estão murmurando, porque Jesus fez
essa afirmação solene: “Eu sou o pão que desceu do céu”. (v. 41). Eles acham
que Jesus exagerou na pretensão, uma verdade que não lhe cabe, pois ele é uma
pessoa simples e conhecida na região (v. 42). Jesus dá um basta nesse cochicho,
com sabor de fofoca, e continua explicando que Ele (Jesus) vem do Pai e que
este Pai atrai os discípulos para Jesus (Filho).
Os judeus se vangloriam de ser “fieis”, mas Jesus os aperta:
“se escutam o Pai e aprendem dele, devem acolher também Jesus” (v. 45). Acolher
Jesus na carne (v. 51), isto é, sua Encarnação como enviado do Pai, é também
acolher seus ensinamentos e suas obras (vida), pois elas falam do Pai. A
Eucaristia (corpo e sangue de Cristo) contém a obra da salvação. COMUNGAMOS DA
VIDA DE JESUS. COMUNGAMOS DA VIDA DO PAI.
Como falar de paternidade numa sociedade onde muitos ainda
fogem de seu compromisso familiar? Alguns querem ser pais, mas não esposos, não
querem viver em família e, às vezes, assumem a paternidade em fotos de redes
sociais dizendo ser “um sonho de infância”.
São Francisco de Assis teve uma imensa dificuldade com a
dureza de seu pai (Pietro di Bernadone), um rico comerciante empresário. Pietro
expulsou Francisco de casa e renegou o filho. Por causa disso, são Francisco
nunca conseguiu chamar Deus de Pai. Chama de Senhor, de Onipotente, de Deus, de
Altíssimo, mas não chama de Pai. Quando ele vai dizer como devem viver os
frades ele diz que “um deve ser a mãe dos outros”. A experiência que ele teve
com o pai foi totalmente negativa. Pietro di Bernadone não foi imagem do Pai do
Céu.
Diferente do pai de Santa Teresinha, Beato Luiz Martin
(1823-1894), que era um homem sensível, carinhoso, piedoso, e muito cuidadoso
com as filhas. Santa Teresinha via nele a imagem do Pai do céu e gostava de
chamar Deus de Pai.
Recordo que, certa vez, numa comunidade, um filho (já casado
e com filhos) pediu ajuda a seu pai, pois ele estava desempregado e não sabia
como colocar o pão dentro de casa e cheio de dividas. Era um período de
frenesir politico, onde alguns se ensoberbecem se achando mais cidadãos do que
outro: “sou rico, não preciso de ajuda do estado” (sic). Este pai (de certa
condição) duramente negou ajuda ao filho. Resultado, o filho começou a pedir
empréstimos com agiotas, não teve como pagar, se matou. PORTANTO, CUIDADO COM O
TIPO DE PAI QUE VOCE É. ELE SEMPRE DEIXA MARCAS NOS OUTROS E NO TECIDO SOCIAL.
Iniciamos a SEMANA NACIONAL DA FAMILIA chamando Deus de Pai,
mas também jogando luzes na família humana dizendo aos pais (e mães): dialoguem
com seus filhos, orientem, escutem, corrijam quando necessário, mostrem
firmeza, mas uma firmeza acompanhada de carinho e misericórdia.
Vejam o que diz a 2ª Leitura (Ef 4,30-5,2): “não contristeis
o Espirito Santo, com o qual Deus vos marcou com um selo para o dia da
libertação. Toda amargura, irritação, cólera, gritaria, injurias, tudo isso
deve desaparecer (...). Sede bons uns para com os outros, sede compassivos,
perdoai-vos mutuamente (...). Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama.
Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a sí mesmo por amor a nós”.
Mas, voltemos à oração inicial da missa: “Dai-nos um coração
de Filho”. Um coração igual ao teu Filho Jesus, marcado pelo selo do Amor
(Espirito). Capaz de ser misericordioso, humilde, desprovido de sintomas de
grandezas, mas desejoso de tornar a vida um serviço bom em beneficio de muitos.
“Dai-nos um coração de Filho”, semelhante à Aquele Jovem de
Nazaré que não desperdiçou a vida nas idolatrias das riquezas e das paixões
fúteis que só geram egoísmos e pessoas descomprometidas com a vida (cf. Salmo
48 (49)).
“Dai-nos um coração de Filho”. Que a cada Eucaristia
celebrada tomemos consciência de pertencer à família de Deus com o mesmo sabor
e o testemunho do Filho Jesus (cf. Jo 6, 51).
“Não só de pão vive o homem” (Mt 4, 4). VOCÊ VALE MAIS DO QUE
O QUE COME E O QUE VESTE. Que a luta pela sobrevivência não nos torne as
pessoas utilitaristas, competitivos ou neoliberais cães raivosos, mas
misericordiosos. Que ninguém perca a esperança com a vida, mas encontre na
família e entre os amigos o alivio e a beleza do viver com qualidade.
Feliz dia dos pais! Boa semana!
Edjamir Silva Souza
(Padre e Psicólogo)
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