PALAVRA DO SENHOR – Procurá-LO
Depois da multiplicação dos pães e dos peixes, a multidão
quis aclamar Jesus como Rei, mas Ele se retirou sozinho para o monte (cf. Jo
614-15). Jesus não alimentava e nem admitia que o povo tivesse certas
expectativas dele. Porém, a multidão continua insistentemente a procurá-Lo e
encontra-O na outra margem do lago (cf. Jo 6, 24-35).
“Vós me procurais”. Com o olhar cheio de compaixão Jesus sabe
que tem conseguido atrair a atenção das pessoas para o seu caminho, mas ainda
precisa dizê-las que estar em seu caminho é muito mais do que saciar-se de um
alimento perecível.
O Papa Francisco disse certa vez: “Jesus não elimina a
preocupação nem a busca do alimento diário, não, não elimina a preocupação de
tudo o que pode tornar a vida mais progredida. Mas Jesus recorda-nos que o
verdadeiro significado da nossa existência terrena consiste no fim, na
eternidade, consiste no encontro com Ele, que é dom e doador, e recorda-nos
também que a história humana com os seus sofrimentos e as suas alegrias deve
ser considerada num horizonte de eternidade, ou seja, no horizonte do encontro
definitivo com Ele. E este encontro ilumina todos os dias da nossa vida”.
O encontro com Jesus nos faz entender que somos muito mais do
que aquilo que comemos e vestimos, somos muito mais do que aquilo que
conquistamos ou perdermos (cf Mt 10, 29-32). É importante esta lição para não
reduzirmos, rebaixarmos ou alienarmos a nossa vida, que é tão bela, às coisas
ou situações passageiras ou mesmo fúteis.
A sabedoria da vida já nos ensinou que há pessoas que tendo
tudo são tão miseráveis, que tendo tudo são mais egoístas e desumanas. Então,
não é bom para os filhos de Deus que busquem apenas os bens transitórios. É
nesse contexto que entendemos Jesus dizer, com muita responsabilidade, que “nem
só de pão vive o homem” (Mt 4, 4).
Os discípulos, assim como a multidão, veem o pão que se
multiplica na partilha e que não se esgota, mas não veem Aquele que é o
verdadeiro Pão da Vida, veem os dons da vida, mas não o Dom que é Jesus Cristo.
É sinal de ingratidão e cegueira que a gente receba algo, de alguém, sem que
lhe olhe nos olhos e de coração lhe diga obrigado.
Certa vez, em uma Celebração Eucarística, uma criança (6
anos), acompanhada de seu avô, correu ao meu encontro e disse: “padre, estava
com saudades do senhor. Hoje, vim para a missa agradecer a Deus pelo meu
mingau”. Como não sentir uma centelha divina nisso?! Pureza e gratidão andam
juntas.
“Tudo é dom, tudo é graça”. Se for dado, não nos dá o direito
de exigi-lo, mas, com certeza, move-nos a fazê-lo render, talvez multiplicá-lo
e, quem sabe, fazendo-o chegar a outros. Quem faz isso, tem muita nobreza. Dessa forma corresponderíamos, em relação aos
outros, em conformidade com o que foi feito conosco. Essa será uma excelente
forma de gratidão, pois estaremos a fazer render o que nos foi oferecido,
valorizando-o. Não ficamos agradecidos às rosas, ou ao pão, mas ao doador.
“A multidão continua insistentemente a procurá-Lo”. Na regra
de São Bento (58, 7) se diz: “O primeiro e irrenunciável compromisso do
discípulo é a busca sincera de Deus sobre o caminho traçado pelo Cristo humilde
e obediente”(5,13), “ao amor do qual ele nada deve antepor” (4, 21; 72, 11).
“Eu sou o pão da vida” A grande lição eucarística que temos
aprendido desde domingo é de que, além do pão que partilhamos, devemos
tornar-nos pão e vida uns para com os outros. Jesus multiplicou o pão, mas a
grande novidade e a verdadeira revolução é que ELE PRÓPRIO SE TORNA PÃO, levado
pelo serviço, pela docilidade, pela compaixão, pelo amor, doando-Se por
inteiro.
Essa é a grande lição de cada Eucaristia celebrada ou
Adoração ao Santíssimo Sacramento. “Isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue” é
minha vida inteira, toda a minha história dada por vós.
A celebração da Santa Missa não é um subir para o calvário
para morrer com Jesus (Essa é visão fúnebre do Mistério!), mas é ir ao encontro
com Jesus, Senhor da Vida, que nos faz entender o sabor que a vida tem. Na
grande liturgia da vida, diante do Cordeiro, nossas vestes não tem tom de luto
(a prevalência das vestes pretas), mas o branco da vitória sobre todos os
sinais de morte (cf. Ap 7, 9-17).
Neste mês dedicado às vocações agradeçamos ao Senhor pelas
tantas vidas solidárias espalhadas em diversos lugares de nossa sociedade e que
se doam como alimento para que a vida de muita gente aconteça.
Nesse primeiro domingo, rezamos por todos os sacerdotes (de
ontem e de hoje) que fizeram (fazem) de Jesus e do Seu Reino, seu grande
tesouro e descobriram no serviço ao povo, sem ares de dominadores ou
mercenários, que é este o sabor que tem a vida: servir e dar a vida.
Nenhum sacerdote é anjo, mas age como mensageiro. Nenhum
sacerdote é perfeito, nenhum, mas procura viver as exigências de sua vocação.
Sua missão é divina, mas trabalha dentro de sua condição humana. Essa é a
imagem que precisamos respeitosamente e urgentemente recuperar de nossos
padres: um irmão, um ser humano, cheio de Deus e com uma grande
responsabilidade. BENDITO SEJA DEUS PELA VIDA DE NOSSOS PADRES. REZEMOS POR
ELES.
Não nos cansemos de procurar a Deus. Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo.
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