Jovem com tumor raro começou a perceber mudança na cor da pele cinco anos após o diagnóstico.
Cearense Sabrina Gomes tem Síndrome de Cushing e com um
timoma, um tumor no tórax. Ambos os problemas causam dificuldades
respiratórias, insuficiência renal, pressão alta, distúrbios metabólicos e
podem até mesmo a mudar a tonalidade da sua pele.
A jovem cearense Sabrina Gomes, 24 anos, diagnosticada com
Síndrome de Cushing e com um timoma, um tumor raro no tórax — que juntos
provocam alteração da cor da pele — levou cinco anos entre o primeiro
diagnóstico e começar a perceber alteração na pigmentação da própria pele.
(Entenda mais abaixo).
O tumor no tórax de Sabrina produz um hormônio chamado ACTH,
que já é naturalmente produzido pelo corpo humano para regular diversas funções
do organismo, mas que em excesso a fez desenvolver a Síndrome de Cushing.
Um dos efeitos desse excesso é fazer com que as chamadas
glândulas adrenais produzam, também em excesso, o cortisol responsável por
regular os níveis de açúcar no sangue e fortalecer o sistema imunológico. Esse
efeito dominó já causava algumas alterações de pigmentação, mas uma cirurgia
para retirada das glândulas, em 2022, que resolveu os excessos de cortisol,
acelerou a mudança na cor da pele de Sabrina.
"Essa cirurgia deixou a minha pele muito mais escura,
junto com o tumor, que produz um hormônio chamado ACTH. Então, esse hormônio
mexeu com a cor da minha pele. Junto com o tumor, como ele está bem grande, a
cada vez eu vou ficando mais escura", explicou a própria Sabrina, em vídeo
publicado nas redes sociais.
Veja, abaixo, a cronologia do diagnóstico à mudança severa na
cor da pele
2015: Sabrina começou a sentir os primeiros sintomas aos 15
anos. Ela teve inchaço e manchas pretas pelo corpo ficou inchada, além de
sentir ansiedade devido aos sintomas. Então, após várias consultas, ela foi
diagnosticada com Síndrome de Cushing e com um timoma. Ambos os problemas
causam dificuldades respiratórias, insuficiência renal, pressão alta,
distúrbios metabólicos e podem até mesmo mudar a tonalidade da pele.
2015-2017: Sabrina passou por duas cirurgias, ainda
adolescente, para retirada do nódulo, enquanto ainda era paciente no Hospital
Infantil Albert Sabin.
2020: A primeira vez que Sabrina notou o início do
escurecimento na pele veio cerca de cinco anos após o diagnóstico. No entanto,
a pele começou a escurecer de verdade (mas ainda em grau leve) no ano seguinte.
2022: Sabrina passou por uma cirurgia de retirada das
glândulas adrenais, o que acelerou o processo de escurecimento da pele. A
retirada das glândulas resolveu os excessos de cortisol causados pela Síndrome
de Cushing, mas o tumor continua a crescer e tem atualmente 17 centímetros. A
cirurgia também acelerou o processo de escurecimento da pele dela.
2024: Sabrina passou por cirurgia para fazer dois
procedimentos: drenar a água do pericárdio (membrana que envolve o coração) e
alargar a traqueia, que está sendo comprimida pelo tumor.
Jovem tem tumor raro
A médica destacou que o atendimento da jovem é feito por uma
equipe multidisciplinar, que envolve oncologista, cirurgião, entre outros
profissionais. Ana Rosa é endocrinologista, e acompanha a questão hormonal da
paciente.
Ela explicou que o tumor da jovem, permanentemente produzindo
ACTH, é um caso raro. "Não é todo tumor que produz hormônio. O mais comum
é não produzir, por isso que são entidades raras", destaca.
Ela contou que, quando Sabrina começou a ser atendida no
Hospital Universitário, o mais urgente foi estabilizar os níveis hormonais do
organismo dela, que tinha desenvolvido a Síndrome de Cushing.
"Então, apesar dessa paciente ter um tumor, a gente tem
que tratar rapidamente esse excesso hormonal, porque se você não trata o
excesso hormonal, ele [paciente] morre primeiro do excesso hormonal que até do
próprio tumor", explicou.
As glândulas adrenais de Sabrina, estimuladas pelo ATCH em
excesso, hiperestimulavam a produção de cortisol. Primeiro, a equipe tentou
controlar a situação hormonal por meio da medicação. No entanto, com a piora do
quadro, foi feita uma adrenalictomia, cirurgia para retirada das glândulas
adrenais.
Mudança na pele
A retirada das glândulas, em 2022, resolveu os excessos de
cortisol causado pela Síndrome de Cushing, mas o tumor continuou a crescer. A
cirurgia, no entanto, gerou um efeito colateral - a mudança na cor da pele de
Sabrina; entenda como aconteceu:
➡️
Após a retirada das glândulas adrenais, o tumor continuou a estimular a
produção do hormônio ACTH
➡️ O
ACTH tem a mesma origem e é produzido no mesmo processo que cria o hormônio
MSH, que é responsável pela produção de melanina, uma proteína que dá cor à
pele
➡️
Como o MSH e ACTH têm uma origem comum, os receptores das células acabam
entendendo os dois como semelhantes
➡️ Com
os níveis de ACTH altos por conta do tumor, o hormônio continuou a se acoplar
com as células receptoras que produzem melanina, como se fosse MSH; já que os
dois hormônios são "parecidos", as células acopladas ao ACTH,
pensando se tratar do MSH, aumentaram a produção de melanina
➡️ O
corpo de Sabrina, com excesso de ACTH, começou a produzir melanina em excesso,
levando à hiperpigmentação da pele, causando o escurecimento de áreas do corpo.
Esperança em tratamento alternativo
Um exame médico recente revelou que o timoma está comprimindo
o esôfago, a veia cava e o coração da jovem, além de invadir os vasos da região
do tórax. Por conta da sua localização, uma cirurgia de remoção do tumor é
praticamente descartada devido o alto risco.
No ano passado, a equipe médica que acompanha Sabrina propôs
um tratamento não convencional, endovenoso, que envolve o medicamento lutécio.
A substância possui uma carga radioativa que consegue atacar as células do
tumor.
"Essas células que produzem hormônios, que são células
de linhagem neuroendócrinas, em algumas situações elas captam, elas incorporam
radiofármacos. O lutécio é um radiofármaco", explica a professora Ana Rosa
Quidute. "[O radiofármaco] vai lá na célula e destrói essas células,
fazendo com que ela tenha uma diminuição desse volume desse tumor, e consiga ir
controlando essa doença dela".
A endocrinologista especificou que, antes de recomendar este
tipo de medicamento, a equipe médica realiza um exame para identificar se as
células cancerígenas possuem "receptores" que permitiram que o
radiofármaco - no caso, o lutécio - se acoplem a elas.
"A Sabrina, ela fez esse exame e houve uma captação.
Então, existe uma luz no fim do túnel", avalia Ana Rosa. "Então, vale
a pena você tentar. É uma vida".
O tratamento com lutécio é feito com quatro aplicações, isto
é, quatro doses, com um intervalo de seis semanas entre cada uma. O lutécio tem
o custo médio de R$ 32 mil por dose, conforme levantamento que consta na
decisão judicial. Ao todo, o tratamento de Sabrina custaria quase R$ 130 mil.
Por isso, em dezembro de 2023, Sabrina acionou Defensoria
Pública da União para entrar na Justiça e obrigar a Secretaria Estadual de
Saúde do Ceará (Sesa) a fornecer o remédio para seu tratamento. Em março de
2024, a Justiça decidiu a seu favor e determinou que a pasta providenciasse o
medicamento.
A decisão favorável, no entanto, não garantiu a entrega do
lutécio. Desde março, Sabrina tem voltado constantemente à Sesa para saber como
está o processo de aquisição, que tem se arrastado desde então. "A gente
tem que ir lá, eu levo o papel dizendo da minha gravidade, mas não adianta
nada", disse Sabrina ao g1.
Em agosto, uma nova decisão judicial mandou a Sesa acelerar a
compra do médio. No entanto, até o momento, a pasta não concluiu o
procedimento.
Por Leonardo Igor de Sousa, Samuel Pinusa, g1 CE
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