Reforma Tributária: prefeitos eleitos começam 2025 com os desafios da transição.
Os mais de 5,5 mil prefeitos
eleitos em outubro começam 2025 com um desafio dos grandes: conduzir seus
municípios na transição tributária prevista pela EC 132/23 para ocorrer entre
2025 e 2028. Nesse período de adaptação, o novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS)
passará a substituir o ISS e o ICMS, impactando diretamente a principal fonte
de receita dos municípios brasileiros.
O IBS, que promete unificar
a tributação sobre bens e serviços, surge como uma tentativa do governo federal
de simplificar o sistema tributário brasileiro. No entanto, especialistas
alertam que essa mudança poderá trazer sérias consequências, especialmente para
os municípios menores — que somam cerca de 4,8 mil cidades no país — que
frequentemente dependem de receitas do ISS para financiar serviços
essenciais.
O mestre em Direito
Tributário pela USP, Carlos Crosara, elenca alguns desses desafios.
“O primeiro deles será a
convivência com dois regimes jurídicos tributários — o que já aumenta ainda
mais a complexidade do sistema. No período de transição, o ISS ainda vai estar
valendo com toda sua legislação e regulamentação e vai começar a entrar em
vigor, paulatinamente, o IBS. E vai gerar também uma necessidade de
investimento em tecnologia e infraestrutura, para rodar esses dois sistemas.”
Não cumulatividade do IBS
Outro ponto levantado por
Crosara, que pode trazer desafios para os gestores municipais, é a questão da
não-cumulatividade do IBS.
“A não-cumulatividade
consiste em, se você tiver uma tributação numa transação anterior, você pode
aproveitar esse imposto que você arcou na operação anterior, para abater do
imposto devido na transação posterior.”
Neste ponto, para Crosara,
será necessária uma grande modificação na escrituração dos contribuintes para
poder usar essa nova sistemática não-cumulativa, já que nem eles, nem os
fiscais tributários, estão acostumados a esse novo modelo. “Vai ser um longo
período de adaptação até que eles se habituem a esse novo modelo.”
Impacto para as cidades
A expectativa é que o novo
imposto traga maior equidade na tributação, mas até que isso aconteça, os
prefeitos — principalmente das cidades menores — terão, além de se adaptar às
mudanças, garantir que a qualidade dos serviços públicos seja mantida, mesmo em
um cenário de incertezas fiscais.
Ranieri Genari, advogado
especialista em Direito Tributário pelo IBET, acredita que o impacto para esses
gestores será grande, ainda mais no período de transição.
“Do ponto de vista de
planejamento — tanto financeiro quanto orçamentário — esse prefeito vai ter um
pouco mais de dificuldade para fazer essa composição orçamentária e para
entender o quanto esse município pequeno vai deixar de arrecadar ou ter uma
elevação dessa arrecadação. Então ele precisa entender que o estudo preliminar
para que ele possa tomar essas decisões vai ser muito importante.”
O tamanho da máquina
pública também pode ser um fator importante no período de transição, mas o
dinamismo econômico maior das cidades de grande porte também será afetado pela
reforma, como acredita o assessor de orçamento Cesar Lima.
“Geralmente, as prefeituras
menores dependem mais de transferências intergovernamentais do que de sua
própria arrecadação. Já para as maiores, que têm uma movimentação econômica
maior, esse impacto será mais sentido, mesmo com os "amortecedores" criados
para a transição — e certamente haverá perdas num primeiro momento.”
Lima ainda explica que para
essas perdas foi criado o fundo de compensação — Fundo Nacional de
Desenvolvimento Regional (FNDR) — que deve atuar para zerar eventuais perdas de
arrecadação advindas da reforma tributária.
O período de transição
previsto pela EC 132 será de 7 anos, tempo em que IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS
— impostos que os brasileiros pagam na hora de comprar um produto
ou serviço — serão substituídos por CBS, IBS e IS.
Fonte: Brasil 61 -
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