Vice-prefeita e irmã foragidas, pastor preso: veja o que se sabe sobre assassinato do prefeito de João Dias.
Crime aconteceu no dia 27 de agosto, durante a campanha
eleitoral em cidade com pouco mais de 2 mil habitantes, no interior do RN.
A vice-prefeita da cidade de João Dias, Damária Jácome
(Republicanos), e a vereadora Leidiane Jácome, irmã dela, são suspeitas de
mandar matar o prefeito Marcelo Oliveira (União Brasil) em agosto deste ano. O
pai do prefeito também foi assassinado. As duas são consideradas foragidas,
segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Norte.
Na última sexta-feira (27), a Polícia Civil prendeu um pastor
evangélico apontado como um dos mandantes, que teria ajudado a planejar o
crime. Outras seis pessoas já tinham sido presas suspeitas de participar da
execução do crime. As identidades dos demais envolvidos não foram divulgadas
pela polícia.
Segundo o delegado Alex Wagner, da Divisão de Polícia do
Oeste, o assassinato foi motivado por uma disputa política e familiar no
município com pouco mais de 2 mil habitantes.
Como surgiu a disputa que teria resultado no crime?
Marcelo e Damária disputaram juntos a campanha eleitoral de
2020 e foram vitoriosos, ele como candidato a prefeito e ela, vice-prefeita.
Ambos representavam famílias tradicionais na cidade, lideradas por Sandi
Oliveira (pai de Marcelo) e Laete Jácome (pai de Damária e vereador).
A família de Laete já era investigada por crimes como o de
milícia privada. Durante a campanha eleitoral de 2020, ele foi preso em
flagrante por posse ilegal e receptação de armas. Damária também foi
considerada foragida da polícia, na época.
Cerca de 7 meses após tomar posse do cargo, Marcelo pediu
afastamento da prefeitura e Damária assumiu a gestão municipal em julho de
2021.
m 2022, o prefeito afastado afirmou à Justiça que foi coagido
pela vice-prefeita, além do pai e irmãos dela, para deixar o cargo. Em outubro
daquele ano, uma decisão da desembargadora Maria Zeneide Bezerra, do Tribunal
de Justiça do RN, determinou o retorno imediato de Marcelo Oliveira à
prefeitura.
Em dezembro de 2022, Damária e Laete Jácome foram afastados
dos cargos e tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça. À época, os
dois negaram qualquer tipo de extorsão contra o então prefeito da cidade e
alegaram que ele teria renunciado por motivação própria.
Segundo a polícia, a acusação de Marcelo e o retorno dele ao
cargo gerou uma cisão política e pessoal entre as famílias.
Ainda de acordo com o delegado Alex Wagner, a família da
vice-prefeita e da vereadora atribuía ao prefeito a morte de dois irmãos em
confronto com a polícia na Bahia e a prisão de um terceiro em 2022. Eles tinham
mandados de prisão abertos por tráfico de drogas.
"Eles começaram a imputar a Marcelo, que estava
entregando a localização dessas pessoas. Além de que houve a apreensão de um
fuzil na cidade, que também se imputava que Marcelo teria entregue (a
localização)", disse o delegado.
Patriarca da família da vice-prefeita, Laete morreu de causas
naturais no primeiro semestre de 2024.
Como o crime foi planejado?
Segundo a polícia, um pastor de 27 anos de idade ajudou no
planejamento do assassinato do prefeito de João Dias, Marcelo Oliveira, e o pai
dele, Sandi Oliveira, segundo a Polícia Civil. Uma operação realizada na
sexta-feira (27) buscava cumprir seis mandados de prisão e outros seis de busca
e apreensão domiciliar nas cidades de João Dias, Patu e Marcelino Vieira. O
pastor foi preso na ocasião.
De acordo com o delegado Alex Wagner, o pastor teria
auxiliado o grupo de mandantes a tentar encontrar um lugar ideal para o crime
ser cometido. A igreja evangélica, inclusive, chegou a ser pensada como
possibilidade.
"A questão do pastor é que ele ajudava na logística do
crime, de encontrar o melhor local pra cometer o crime, o momento mais
adequado", explicou o delegado.
"Foi cogitado, inclusive, cometer durante o culto onde o
Marcelo [prefeito] visitava, porque era o momento que ele estava vulnerável,
exposto".
O que a defesa da vice-prefeita e da vereadora diz sobre a
suspeita da polícia?
Em nota, a defesa das irmãs informou que "reafirma a
inocência de ambas e a ausência de qualquer relação com esses crimes".
Além disso, garantiu que Damária e a irmã não estão foragidas.
"Sequer sabiam dessa operação ou de qualquer mandado de
prisão contra elas. Como é comum nesse período, a família viajou",
informou a nota.
Segundo o advogado, "devido ao clima de insegurança na
cidade, Damária achou por bem ficar longe durante esses dias que antecedem a
posse da prefeita eleita, evitando com isso qualquer tipo de problema".
O advogado disse ainda que Damária enviou para todas as
autoridades "denúncias de ameaças que ela e sua família estão sofrendo e,
por segurança, todos saíram da cidade".
Como foi o crime?
Embora fosse conhecido como Marcelo, o nome do prefeito de
João Dias era Francisco Damião de Oliveira, de 38 anos.
Ele era candidato à reeleição e, junto do pai, estava
visitando casas de apoiadores no fim da manhã do dia 27 de agosto, por volta
das 11h, no conjunto São Geraldo, em João Dias, quando criminosos distribuídos
em dois veículos chegaram repentinamente ao local e atiraram contra os dois. Um
segurança do gestor também foi baleado.
O pai do prefeito, Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos,
morreu na hora. Marcelo chegou a ser socorrido e deu entrada com vida em um
hospital de Catolé do Rocha, na Paraíba, mas não resistiu aos ferimentos.
Segundo a polícia, ele foi atingido por 11 disparos de arma de fogo.
Quantas pessoas foram presas?
No mesmo dia do crime, as forças de segurança do Rio Grande
do Norte começaram uma força tarefa para prender os assassinos. Além de quatro
suspeitos de envolvimento na execução, outras 10 pessoas foram presas suspeitas
de montar um plano de vingança pelo assassinato do gestor, na ocasião.
Durante a investigação outros dois suspeitos de serem
executores foram presos. Um homem encontrado morto em uma área de mata também
foi apontado como um dos envolvidos no crime. A polícia acredita que ele foi
baleado durante o assassinato do prefeito.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do
Rio Grande do Norte, o inquérito foi concluído com o indiciamento de oito
pessoas como executores e outras cinco como mentores intelectuais do duplo
homicídio, "além de 10 pessoas já indiciadas por formação de
milícia". Dos cinco apontados como mentores intelectuais, apenas o pastor
está preso.
Como ficou a gestão do município?
Após o crime, o irmão de Marcelo e filho de Sandi Oliveira,
Jessé Oliveira, então presidente da Câmara Municipal, assumiu a gestão do
município, porque a vice-prefeita Damária Jácome estava impedida pela Justiça.
Ele abriu mão da candidatura à reeleição ao cargo de vereador.
A esposa do prefeito morto, Fatinha de Marcelo foi escolhida
como a candidata do União Brasil em subsituição do marido e eleita no dia 6 de
outubro como a gestora municipal a partir de 2025.
Damária Jácome também disputou a eleição para prefeita de
João Dias em 2024 e ficou em segundo lugar, com 20,8% dos votos.
Quem eram as vítimas
Eleito pela primeira vez em 2020, Marcelo renunciou ao
mandato em julho de 2021, mas voltou à Prefeitura em outubro de 2022, depois
que alegou na Justiça que tinha sido coagido a abrir mão do cargo sob ameaças
da família da sua então vice-prefeita, Damária Jácome.
Marcelo já tinha uma carreira política no município. Ele foi
eleito vereador em 2008 e 2012 e foi candidato a prefeito pela primeira vez em
2016, mas não conseguiu se eleger naquela ocasião.
Pai de Marcelo, Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos, também
já tinha sido vereador do município e era apontado pelo filho como sua
inspiração na política.
João Dias é o terceiro menor município do Rio Grande do
Norte, com pouco mais de 2 mil habitantes, segundo o IBGE. Ainda de acordo com
o instituto, a cidade localizada na região do Alto Oeste, na divisa com a
Paraíba, contava com apenas 294 pessoas ocupadas em 2022, com rendimento médio
de 1,5 salário mínimo.
Por Igor Jácome, g1 RN
Nenhum comentário