Picuiense participa de evento em SP.
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Professor Josemário Silva com a atleta paralímpica Yasmin Gabrielly |
Encontro acontece duas vezes ao ano e reúne atletas de todo o
país selecionados a partir das Paralimpíadas Escolares.
Responsável por dar o pontapé inicial no calendário 2025 do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a primeira fase do Camping Escolar Paralímpico está acontecendo no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, desde o último domingo (26). Entre os participantes do evento, que se encerrará no próximo sábado (1º), está a paraibana Yasmin Gabrielly, que compete na Classe T34 do atletismo paralímpico em cadeira de corrida. O encontro acontece duas vezes ao ano e reúne esportistas com idades entre 12 e 17 anos, selecionados a partir das Paralimpíadas Escolares, buscando apresentá-los à rotina de um atleta de alto rendimento. Durante a semana, eles são imersos em experiências de suas respectivas modalidades, além de passarem por avaliações físicas, receberem acompanhamento multidisciplinar e assistirem a palestras relacionadas à rotina de alto rendimento. A atleta de 15 anos é natural de Picuí, no Seridó paraibano, e está participando pela terceira vez do Camping, acompanhada pelo técnico Josemário da Silva. Ele explica o percurso traçado até a convocação para o projeto e destaca a importância disso para o enriquecimento da vida esportiva da aluna. “Todos esses atletas são selecionados devido à participação nas Paralimpíadas Escolares, que acontecem em meados do mês de novembro de todos os anos. Tem uns peritos técnicos específicos de cada modalidade que ficam observando o perfil e a performance de cada atleta, e eles são selecionados para participar desse Camping. Aqui, eles serão sugados, eles serão explorados, enfim, vão explorar todo o potencial de cada atleta, visando que esses atletas possam, futuramente, representar o Brasil em alguma Paralimpíada, em algum evento nacional ou internacional”, esclarece. “É muito gratificante para o nosso trabalho, porque nós somos do interior, de Picuí, nós não dispomos de uma pista de atletismo específica para a prática deste desporto paralímpico e, mesmo assim, com força e garra, a gente interdita uma parte das ruas para treinar com a Yasmin, já que ela é atleta do atletismo em cadeira de rodas de corrida e isso tem dado resultado”, complementa.
A jovem atleta faz parte do programa Paraíba Paralímpica no Polo Picuí, do qual Josemário é também coordenador. O técnico relembra o primeiro contato dela com a prática esportiva a partir do projeto. “Em 2022, quando ela tinha 11 anos de idade, eu fiz um desafio, eu a convidei para participar do atletismo paralímpico. Desde então, Yasmin, com a mãe dela, que é a staff dela, vêm participando de competições. Ela, em 2022, conquistou três medalhas de ouro na Regional de João Pessoa; foi para o Regional Norte–Nordeste, em Natal, mais três medalhas de ouro; depois veio para o Nacional, três ouros; e recebeu a premiação de melhor do ano do estado da Paraíba em 2022, seu primeiro ano como atleta paralímpica do estado. E assim também ganhou premiação em 2023 e em 2024, e agora está sendo bem vista aqui”, elucida Josemário.
A rotina de treinamentos também exige resiliência por parte do professor e da aluna para enfrentar os inúmeros entraves encontrados. Sem pista de atletismo apropriada para a modalidade, eles improvisam o treinamento nas ruas da cidade. Além disso, três vezes durante a semana, Yasmin pratica pilates e musculação.
“Eu trabalho academia e pilates
também para que ela melhore sempre a performance. Quando tem uma competição, aí
é um desafio. Eu saio de Picuí para João Pessoa, que são quase 260 km, pela
madrugada, para treinar lá na pista da Vila Olímpica Paraíba. Não é um bom
rendimento, porque, saindo de madrugada, chegamos cansados lá, ela não rende
bem, mas, infelizmente, é a nossa realidade. Aí eu sempre digo: ‘Quando a gente
quer fazer alguma coisa, dá um jeito; quando não se quer, dá uma desculpa’. E
assim estão levando, e a minha está muito bem, graças a Deus”, comenta o
técnico.
Paradesporto estadual
Josemário comemora o protagonismo que o interior tem desempenhado no âmbito do paradesporto paraibano e acredita que o incentivo governamental é fundamental para essa realidade promissora. “Antigamente, os Jogos Paralímpicos aqui, em São Paulo, só tinha atletas paraibanos de João Pessoa e de Campina Grande, só tinha esses dois polos. Mas, através do programa Paraíba Paralímpica, abriu-se espaço para o interior, e, hoje, acho que 90% dos atletas paralímpicos do nosso estado são do interior. Graças ao Governo do Estado, através da Sejel, o nosso paradesporto está crescendo muito, porque tirou aquela restrição de ser só da capital e de Campina Grande. Hoje, o interior é quem está fortalecendo o paradesporto da Paraíba”, afirma.
“O Comitê
Paralímpico, hoje, tem um olhar muito específico para a nossa Paraíba. É tanto
que o Governo do Estado já vai iniciar a construção de um CT na Paraíba, em João
Pessoa. E o CPB abriu também, em alguns estados, inclusive na Paraíba, centros
de referência. Eu, que sou do Picuí, me vinculei ao Centro de Referência
Paralímpico da Paraíba da cidade de João Pessoa. Então, com essa parceria,
trabalho com atletas da região de Picuí, Frei Martinho e outras cidades, para
fazer parte do Centro de Referência de João Pessoa”, acrescenta ele.
Realização profissional
Vendo sua aluna alçar voos cada vez mais altos, o professor
Josemário se sente honrado por ser uma peça importante não só na história dela,
mas de todo um ecossistema gerado. “Eu me sinto valorizado, me orgulho, me
emociono, eu choro. Porque, muitas vezes, a pessoa tem uma deficiência e às
vezes acha que não pode fazer nada. O maior desafio, às vezes, é quebrar a
vidraça entre os pais e aquele aluno, aquela criança que tem uma deficiência,
porque os pais, às vezes, protegem demais; ‘Meu filho não pode isso, não pode
aquilo’, eles dizem. Quando eu consigo quebrar essa vidraça, mostrar que eles
são capazes, em média de 10 atletas que trago todos os anos aqui, para as
Paralimpíadas; todos eles estão vindo, e os pais hoje me agradecem por ter
quebrado essa barreira, por ter dado a liberdade do seu filho, mostrar que ele
é capaz. Eu sou muito grato pelo dom que Deus me deu e por eu ter me
identificado com o paradesporto”, descreve Josemário.
Camilla Barbosa/A União
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