Dino manda CGU auditar R$ 469 milhões de emendas sem plano de trabalho.
Ministro deu prazo de 60 dias para a conclusão de novo exame
O ministro Flavio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF),
determinou nesta terça-feira (18) que a Controladoria-Geral da União (CGU)
conclua, em 60 dias, uma nova auditoria sobre R$ 469,4 milhões em “emendas Pix”
que foram transferidas a estados e municípios, em 2024, sem que houvesse a
apresentação de planos de trabalho para a aplicação do dinheiro.
Ele determinou também que a CGU audite 126 transferências
especiais que tiveram planos de trabalho aprovados em 2024 e anos anteriores,
com o objetivo de averiguar se tiveram execução adequada.
Em outro ponto, Dino sublinha uma constatação do Tribunal de
Contas da União (TCU), segundo a qual apenas 19% das transferências liberadas
nos últimos seis anos são rastreáveis até o destinatário final. O tribunal de
contas pediu que o CPF ou CNPJ de quem recebe o dinheiro passe a constar nos
extratos bancários. O ministro deu 60 dias para que Banco do Brasil e Caixa
Econômica Federal adequem seus sistemas a atendam ao pedido.
Ao mencionar as emendas Pix, Dino se refere às emendas de
transferência especial, que não possuem finalidade definida previamente e são
transferidas diretamente aos entes federados por opção de algum parlamentar,
que escolhe o destino de parte do Orçamento da União. Desde 2019, tais
destinações são impositivas, ou seja, de liberação obrigatória pelo governo
federal.
Plano obrigatório
O Supremo já decidiu que todas as transferências especiais
dependem do cadastro de um plano de trabalho para que o dinheiro seja liberado.
Sem o documento, tais repasses não atendem a critérios constitucionais mínimos
de transparência e rastreabilidade, decidiu o plenário.
A determinação valeu já para o ano de 2024, quando o cadastro
dos planos de trabalho na plataforma Transferegov.br passou a ser acompanhado
de perto pelo TCU. Segundo relatório mais recente, com dados atualizados até a
última quinta-feira (13), no ano passado houve 644 repasses feitos sem a
apresentação de planos de trabalho, o equivalente a R$ 469,4 milhões.
Na decisão desta terça, Dino apontou o risco de que possa
bloquear os recursos. Ele frisou que o plenário do Supremo já decidiu “acerca
da obrigatoriedade de apresentação e aprovação prévias dos Planos de Trabalho,
sob pena de caracterização de impedimento de ordem técnica à execução das
emendas”.
O ministro destacou que somente em janeiro deste ano uma
portaria conjunta dos ministérios da Gestão e Inovação e da Fazenda criou novas
categorias para classificar as transferências especiais de acordo com a
apresentação ou não dos respectivos planos.
“É importante lembrar que, anteriormente, não havia tais
registros eficazes quanto à execução das ‘emendas PIX’, dando ensejo à
utilização de recursos de forma desconectada com as necessidades locais e com
as prioridades estabelecidas nos planos de desenvolvimento regional”, escreveu
Dino.
Entenda
Nos últimos meses, o ministro tem protagonizado um embate com
o Congresso em torno da liberação de emendas parlamentares impositivas. Dino
tem bloqueado a liberação de recursos que não permitam identificar qual o
padrinho político da transferência, quem é o destinatário final do dinheiro e
como os valores foram gastos.
A atuação do Supremo ocorre depois de o Congresso ter
ampliado seu poder sobre o Orçamento da União nos últimos anos. Na Lei
Orçamentária Anual (LOA) de 2024, por exemplo, foram inseridos mais de R$ 49,2
bilhões em emendas parlamentares. Há dez anos, em 2014, esse valor era de R$
6,1 bilhões.
Agência Brasil
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