PALAVRA DO SENHOR – Não nos deixeis cair em tentação.
A 1ª Leitura (Dt 26, 4-10) nos coloca dentro das memórias de
Moisés. É uma espécie de uma grande homilia para um povo que está para entrar
na terra prometida. Moisés, então, retoma aquilo que foi vivido e ensinado como
condição para permanecia na terra que é dada ao povo.
Moisés então ensina que, já habitando na terra prometida,
quando cultivar a terra o povo não se esqueça de oferecer as primícias no lugar
que será erguido para culto.
O rito da oferenda segue com o sacerdote recebendo as
primícias, trazendo a cesta e colocando diante do altar e o próprio oferente
diz: “Meu pai era um arameu errante que desceu ao Egito como migrante, com
pouca gente, mas ali tornou uma grande nação forte e numerosa”.
Esse arameu errante é Jacó, pai dos doze filhos, que dará
inicia as doze tribos. Jacó será chamado de Israel. Ele desce para o Egito como
migrante. No Egito eles foram humilhados e maltratados, impuseram-lhes uma dura
escravidão.
No Livro do Êxodo 1-2 o Faraó Egípcio reconhece o crescimento
dos filhos de Israel que estavam no Egito e, por medo de que acontecesse uma
invasão nas suas terras e que os filhos de Jacó ficassem do lado dos invasores,
então o faraó começou a maltratá-los, oprimi-los, a viver sobre duras condições
e impor uma dura escravidão (v. 6). Esse duro projeto de escravidão segue
adiante ao ponto de acontecer à matança daqueles que fossem do sexo masculino:
“quando ajudardes as hebreias a dar à luz, observai o sexo das crianças. Se for
menino matai-o (...). Ordenou o Faraó a todo o seu povo: ‘A todos os meninos
que nascerem aos hebreus, lançareis no Nilo’”. (cf Ex 1, 16. 22). É A ANTIGA
QUESTÃO POLÍTICA CONTRA OS MIGRANTES...
“E o Senhor nos tirou
do Egito com mão poderosa (...). Por isso, agora trago os primeiros frutos da
terra que tu me deste” (v. 8. 10). Observem que a oferta das primícias, no
culto, faz memória da ação de Deus, mas também faz uma profissão de fé
histórica. Deus libertou e conduziu: “E conduziu-nos a este lugar e nos deu
esta terra, onde corre leite e mel” (v. 9). A NOSSA PRÓPRIA HISTORIA PODE SER
UMA PROFISSÃO DE FÉ.
A Profissão de Fé dos Israelitas põe em evidencia de que Deus
escutou seu povo. E aqui reside a diferente “dos idosos que tem boca, mas não
fala, tem ouvidos, mas não ouvem (...)” (Salmo 115, 4-8).
O Salmo 91 (90) é um salmo de confiança. A vida nos mostra
que somos tocados por duras situações e que as coisas concorrem para o bem
daqueles que creem em Deus. A confiança em Deus faz o crente faz a vida
acontecer.
Na 2ª Leitura (Rm 10, 8-13), Paulo nos diz que o evento da
bondade de Deus (A Palavra/Cristo) está perto de ti (v. 8). A Palavra que nasce
da fé, que estão pregando, que gera confiança, pode levar à salvação (v. 9).
Crer é apostar a vida em Jesus.
Crer com o coração para a justiça estabelece a perfeita
relação com Deus. A fé em Jesus, na sua justiça, caminha-se para a salvação. A
vivência da justiça é a relação mais adequada para com Jesus do que os
sacrifícios. Todo o que Nele crer, não
se envergonhará. E quem se envergonhará? Aqueles que colocam sua fé nos ídolos.
A justiça divina no considera todos como filhos de Deus,
irmãos em Cristo (v. 12). Deus não faz distinção de pessoas. Já os ídolos nos
dividem e confundem (Sl 48(49)/ Isaías 42, 17/Rm 10, 11). Deus é rico em
misericórdia para quem o invoca.
No Evangelho Lc 4, 1-13), Jesus, guiado pelo Espirito Santo,
desarma o tentador que lhe quer enraizar no mundo para ter coisas: riquezas,
glória, poder, prosperidade. E, por causa disso, lhe propõe um novo culto: “Se
me adorares” (v. )
Recordando o livro do Deuteronômio (6, 13) Jesus diz ao
demônio: “Só a Deus adorarás”. A autoridade que o diabo propõe a Jesus põe as
coisas acima de Deus e da dignidade humana. E mais ainda, propõe uma teologia
da prosperidade meio de se relacionar com Deus, tirando Jesus do centro.
Aqui se cumpre o que disse a Carta aos Hebreus (2, 13-14) que
Jesus veio para destruir o diabo porque ele tinha o poder da morte; e, através
do poder da morte que ele dispunha. Nós que temos medo da morte nos tornávamos
servos dele.
AS TENTAÇÕES QUE SÃO APRESENTADAS A JESUS ESTÃO SEMPRE SOBRE
AS PESSOAS: poder, gloria, riquezas. E acabam se tornando seus próprios
senhores. O demônio está propondo relações inadequadas: “sirva-se das pessoas”:
tenham reinos, autoridades, oprimam as pessoas (um autoritarismo asqueroso). E
a resposta de Jesus é enfática: ADORE SÓ A DEUS, pois Deus tem outra lógica:
Servir.
Usar Deus ao próprio favor das paixões desordenadas é
tentá-Lo. A lógica de Deus sempre será a libertação, a fraternidade, o amor, o
respeito, Eis uma lógica que não se encontra nas tiranias e ditaduras.
Todos os dias somos/seremos tentados por uma lógica que
retira Deus do centro. E quando isso acontece, voltamos ao caos das injustiças,
dos desamores, da opressão. Como cristãos bem formados nos amor, é preciso
estar muito vigilante para não sermos seduzidos pelas tentações diabólicas.
Será que ainda hoje nossas lideranças (politicas e
religiosas) não andam a ameaçar o povo ao desamparo do deserto, ou mesmo
sob o julgo da cruz da opressão e
exploração? Será que o povo de Deus caiu na tentação de se curvar e legitimar
autoridades autoritárias que instauram a violência, a desordem, a mentira,
destronado o verdadeiro Deus que nos mandou amar e cuidar de todas as coisas?
“Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”
Boa Quaresma! Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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