CGU assume processos administrativos instaurados pelo INSS.
Medida foi comunicada ao presidente do INSS, Gilberto Waller
Júnior
A Controladoria-Geral da União (CGU) chamou para si a
responsabilidade por apurar eventuais irregularidades administrativas cometidas
por 12 organizações civis (veja a lista abaixo) suspeitas de se apropriar,
ilegalmente, de parte das aposentadorias e pensões pagas a milhões de
beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A avocação (instrumento jurídico que permite a transferência
de atribuições de um órgão para outro) dos processos administrativos de
responsabilização que o INSS instaurou nesta segunda-feira (5) foi comunicada
ao novo presidente do instituto, Gilberto Waller Júnior, por meio de ofício
assinado pelo Secretário de Integridade Privada da CGU, Marcelo Pontes Vianna.
O documento foi encaminhado a Júnior nesta segunda-feira,
mesmo dia em que o corregedor-geral substituto do INSS, José Alberto de
Medeiros Landim, resolveu instaurar os processos administrativos de
responsabilidade (PAR) individuais e designar os servidores responsáveis por
apurar os atos de 12 das associações, sindicatos e entidades de classe
autorizadas a cobrar suas mensalidades associativas diretamente dos benefícios
previdenciários que seus filiados recebem do INSS.
No ofício que enviou ao presidente do instituto, Vianna
afirma que, após analisar o caso envolvendo as irregularidades apontadas pela
Polícia Federal (PF) e pela CGU no âmbito da Operação Sem Desconto, deflagrada
no último dia 23, a Secretaria de Integridade Privada verificou a “necessidade
de atuação excepcional deste órgão central [CGU], tendo em vista a repercussão
e relevância da matéria.”
“Desta feita, a avocação dos referidos procedimentos
afigura-se como a medida mais apropriada, de modo a garantir a uniformidade,
harmonia e coesão do Sistema de Correição do Poder Executivo Federal”,
acrescenta o secretário ao determinar que o INSS forneça, imediatamente, todos
os documentos e provas já reunidos sobre o tema, bem como “quaisquer outros
procedimentos investigativos em andamento relacionados às irregularidades
mencionadas”.
Deflagrada no último dia 23, a chamada Operação Sem Desconto,
da PF e da CGU, revelou um esquema de descontos ilegais nos benefícios
previdenciários pagos a milhões de aposentados e pensionistas ao longo dos
últimos anos.
O dinheiro cobrado era repassado a uma parte das associações,
sindicatos ou entidades para as quais o INSS descontava, diretamente dos
benefícios previdenciários, as mensalidades associativas que milhões de
aposentados e pensionistas pagam para se filiar a essas organizações sociais,
em troca de uma série de benefícios, como descontos em produtos e serviços.
O problema é que, segundo a CGU e o próprio INSS, muitos dos
beneficiários da Previdência Social que tinham o valor deduzido de seus
benefícios afirmam não ter autorizado os descontos, chegando a garantir que
sequer conheciam as entidades.
Conforme a PF e a CGU, a Operação Sem Desconto foi motivada
pelo aumento expressivo do número de autorizações para dedução das mensalidades
associativas de aposentadorias e pensões. Em 2016, R$ 413 milhões foram
descontados dos benefícios previdenciários. Em 2017, R$ 460 milhões. Em 2018,
R$ 617 milhões. Em 2019, R$ 604 milhões. Em 2020, em meio à pandemia da
covid-19, o valor caiu para R$ 510 milhões. Em 2021, o total voltou a subir,
atingindo R$ 536 milhões. Em 2022, foram R$ 706 milhões. Em 2023, R$ 1,2 bilhão.
E, no ano passado, R$ 2,8 bilhões.
As reclamações também aumentaram na mesma proporção. Só de
janeiro de 2023 a maio de 2024, o INSS recebeu mais de 1,163 milhão de pedidos
de cancelamento de cobranças. A maioria, com a justificativa de que não tinham
sido autorizados pelos beneficiários ou por seus representantes legais.
A revelação das investigações resultou, de imediato, no
afastamento de outros quatro dirigentes da autarquia vinculada ao Ministério da
Previdência Social e de um policial federal lotado em São Paulo.
Posteriormente, o então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, a quem o
INSS estava subordinado e que indicou Stefanutto para dirigir a autarquia,
também deixou o comando da pasta.
No rastro da operação, a Advocacia-Geral da União (AGU) criou
um grupo especial para propor medidas judiciais e administrativas com o
objetivo de recuperar o prejuízo, ressarcir os beneficiários do INSS e propor
novas medidas contra fraudes. Por decisão judicial, mais de R$ 1 bilhão em bens
patrimoniais dos investigados estão bloqueados para, eventualmente, reparar
parte dos danos.
Veja a lista das organizações civis suspeitas de
irregularidades:
>Associação de Suporte Assistencial e Beneficente para
Aposentados, Servidores e Pensionistas do Brasil (Asabasp)
>APPN Benefícios - Aapen (ABSP)
>Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Regimes
Geral da Previdência Social (Aapps Universo)
>Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil
(AAPB)
>Associação Brasileira dos Aposentados, Pensionistas e
Idosos (Asbrapi)
>Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e
Pensionistas (Cebap)
>União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos
(Unaspub)
>Associação no Brasil de Aposentados e Pensionistas da
Previdência Social (Apbrasil)
>Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios
Coletivos (Ambec)
>Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e
Aquicultura (CBPA)
>Caixa de Assistência aos Aposentados e Pensionistas
(Caap)
>Associação de Proteção e Defesa dos Direitos dos
Aposentados e Pensionistas (Apdap Prev (Acolher)
Agência Brasil
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