CGU e MP apuram fraudes em decisões judiciais na Paraíba.
Operação Retomada investiga descontos a aposentados e
pensionistas
O Ministério Público (MP) da Paraíba e a Controladoria-Geral
da União (CGU) realizaram nesta sexta-feira (16), a 2ª fase da Operação
Retomada, voltada para investigar um esquema montado por magistrado, advogados,
servidores públicos e associações fraudulentas, que promoviam descontos
financeiros indevidos nos pagamentos realizados sobre aposentados e pensionistas.
As fraudes atingiram mais de 100 mil aposentados e pensionistas de todo o país,
com descontos ilegais nos benefícios previdenciários que somam mais de R$ 126
milhões.
Nessa fase da operação, foram cumpridos seis mandados de
busca e apreensão, na capital, João Pessoa (PB), e nas cidades de Cabedelo
(PB), Sapé (PB) e São Paulo (SP). A primeira fase foi realizada em dezembro
passado.
Segundo as investigações conduzidas pelo Grupo de Atuação
Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) do MP paraibano, as associações
fraudulentas ajuizaram ações coletivas visando obter vantagens ilícitas. Até o
momento as investigações identificaram 11 associações e entidades fraudulentas
que moveram mais de 230 ações coletivas no Estado da Paraíba.
As ações utilizavam a Comarca de Gurinhém (PB), dominada pela
organização criminosa (Orcrim), mesmo sem existir qualquer conexão territorial
com as partes envolvidas. O intuito era de promover, a partir de decisões
judiciais ilegítimas e ilícitas, diversas modalidades de irregularidades.
Agentes públicos e particulares – incluindo um servidor do
Poder Judiciário Estadual e advogados atuavam no esquema. Por meio desses
processos judiciais, os investigados buscavam obter decisões para realizar
descontos indevidos nos benefícios previdenciários de aposentados e
pensionistas de diversos órgãos públicos, incluindo o Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS).
O esquema praticava sistematicamente fraudes, envolvendo
empréstimos ofertados a idosos, por meio de associações fictícias. Esses
empréstimos ocorriam disfarçados de contribuições para as associações
fraudulentas e eram operados por instituições financeiras informais, à margem
da regulação do Banco Central (BC) e das normas de proteção ao consumidor.
"Essas entidades, controladas por advogados vinculados à
organização criminosa, aliciavam aposentados e pensionistas — especialmente os
mais vulneráveis — induzindo-os à assinatura de termos de adesão que, na
prática, encobriam contratos de mútuo com juros abusivos, disfarçados de
mensalidades para serviços inexistentes”, informou o MP da Paraíba.
Nas ações, a Orcrim pleiteava, por meio de requerimentos, as
homologações extrajudiciais das “adesões”, sem contraditório e sem atuação do
Ministério Público. Os investigadores apontam ainda que as decisões ocorriam em
tempo recorde e tinham como base documentação forjada.
“Em muitos casos, as vítimas sequer tinham ciência da
existência das ações, tomando conhecimento apenas quando seus proventos eram
atingidos. Alarmantemente, tais demandas tramitavam sob segredo de justiça,
obstando a atuação institucional e o exercício da ampla defesa por consumidores
hiper vulneráveis”, disse o MP.
Milhas
O esquema visava ainda a concessão de liminares para excluir
registros negativos em cadastros de proteção ao crédito, como o SPC e o Serasa,
sem a efetiva quitação dos débitos; a suspensão dos descontos de empréstimos
consignados em contracheques de servidores, aposentados e pensionistas.
O objetivo era de liberar artificialmente margem consignável
para novas contratações de empréstimos, sem o pagamento das operações
anteriores.
Além disso, as liminares miravam também a reativação de
milhas e créditos expirados em programas de fidelidade de companhias aéreas ou
mesmo a reversão de políticas contratuais desses programas, gerando benefícios
financeiros indevidos aos participantes do esquema.
“As ações ajuizadas pelas associações tinham como objetivo
promover a obtenção de vantagens ilícitas ao grupo criminoso, manipulando o
sistema judicial e causando prejuízo significativo, tanto aos idosos quanto ao
sistema financeiro. Tais práticas não apenas lesam diretamente os direitos de
pessoas idosas, muitas vezes vulneráveis, mas também desestabilizam a confiança
no sistema financeiro e judicial, causando impactos negativos em larga escala”,
disse a CGU.
Agência Brasil
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