Governo avalia se mantém descontos do INSS por entidades.
Discussão sobre o tema ocorre desde a Operação Sem Desconto
O governo federal está avaliando a conveniência de manter o
direito de associações e sindicatos oferecerem a aposentados e pensionistas o
desconto das mensalidades associativas diretamente dos benefícios
previdenciários pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
“O governo está refletindo o risco e os elementos de controle
para ver se é o caso ou não de manter esse modelo”, disse o ministro da
Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, ao participar do programa Bom
Dia, Ministro, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Segundo o ministro, o governo passou a discutir o tema depois
que uma megaoperação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União
(CGU) trouxe à luz um esquema fraudulento que lesou milhões de beneficiários da
Previdência Social em todo o país.
“Aparentemente, há uma avaliação de que o risco e a
fragilidade do sistema não compensa”, explicou o ministro, destacando que o
posicionamento final do governo acerca do assunto deverá ser anunciado em
breve.
A mensalidade associativa é uma contribuição que aposentados,
pensionistas ou pessoas de uma determinada categoria profissional pagam
periodicamente para integrar uma associação, sindicato ou entidade de classe
sem fins lucrativos que representa os interesses de seus afiliados.
O desconto em favor das entidades autorizadas a oferecer a
facilidade está previsto na Lei dos Benefícios da Previdência Social, em vigor
desde 1991.
De acordo com Messias, a primeira organização a aderir à
modalidade de cobrança começou a receber os valores descontados em 1994. A
partir daí, a quantidade de organizações autorizadas a oferecer o desconto em
folha, bem como os valores movimentados, aumentaram gradualmente.
Dados do INSS e da CGU apontam que, em 2016, o total de
descontos chegou a R$ 413 milhões. Em 2017, foram R$ 460 milhões; em 2018, R$
617 milhões; em 2019, R$ 604 milhões. Em 2020, em meio à pandemia da covid-19,
o valor caiu para R$ 510 milhões. Em 2021 foram descontados R$ 536 milhões. Em
2022, R$ 706 milhões. Em 2023, R$ 1,2 bilhão. E, no ano passado, R$ 2,8
bilhões. Contudo, nem o próprio INSS sabe estimar quanto desse dinheiro foi
descontado ilegalmente.
Até esta segunda-feira, mais de 1,6 milhão de pessoas já
tinham pedido o reembolso de valores descontados sem que elas autorizassem.
“O que aconteceu nos últimos anos é que, entre 2019 e 2022,
foi montada uma engenharia criminosa com o propósito de fraudar aposentados e
pensionistas; lesar a Previdência Social e causar, de fato, um abalo de imagem
muito forte à Previdência Social”, comentou o ministro Jorge Messias.
“E o que mais aconteceu nesse mesmo período? Fizeram uma
reforma, um desmonte da Previdência Social, não investiram em concurso, nem em
tecnologia, queriam vender a DataPrev, empresa que processa os dados da
Previdência Social. Ou seja, havia um projeto de desmonte do sistema de
proteção social”, afirmou o ministro da AGU.
“Precisamos fazer essa reflexão [ao discutir a] continuidade
ou não dos descontos [das mensalidades associativas], contextualizando o que de
fato aconteceu, porque estamos diante de uma autorização para desconto em folha
que existe desde 1991. E embora houvesse esta possibilidade, nunca houve uma
fraude, uma irregularidade desta magnitude”, disse o ministro, ponderando que,
por outro lado, as associações e sindicatos contam, hoje, com outras formas de
efetuar a cobrança de seus afiliados.
“Nesse momento, temos uma série de instrumentos financeiros,
PIX, conta bancária, etc, de que as entidades podem se valer para interagir
diretamente com seus associados e fazer seus descontos”, apontou Messias.
Conforme a Agência Brasil noticiou, ainda em 2024, a CGU
apontou a fragilidade dos mecanismos de controle adotados pelo INSS "no
âmbito do processamento dos descontos associativos” e recomendou que o
instituto deixasse de efetuar a cobrança em favor das entidades civis,
diretamente das aposentadorias e pensões pagas a seus beneficiários.
Depois que a Operação Sem Desconto tornou público o alcance
do golpe contra aposentados e pensionistas, o então ministro da Previdência
Social Carlos Lupi garantiu que sempre se manifestou contra o desconto em
folha.
“Quem quiser se filiar, que se entenda com a entidade. E a
associação que quiser manter [o associado], que cobre uma taxa, faça um boleto
ou peça para a pessoa fazer um Pix”, disse Lupi, na Câmara dos Deputados, antes
de deixar o cargo.
Já o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, disse à
Agência Brasil que não via motivos para o fim do mecanismo.
“O problema não é o desconto em folha, mas sim se esse
desconto está sendo feito corretamente”, disse Marinho.
“O que é preciso é checar se o beneficiário [do INSS]
autorizou o desconto. Conferindo se o
trabalhador se associou e, de fato, autorizou o desconto da mensalidade, não
haveria nenhuma irregularidade”.
A discussão também já chegou ao Congresso Nacional. A Câmara
dos Deputados deve analisar ao menos um projeto de lei, de autoria do deputado
Sidney Leite (PSD-AM), que propõe a revogação de parte da Lei dos Benefícios da
Previdência Social e proíbe descontos dos benefícios previdenciários.
Agência Brasil
Nenhum comentário