INSS: descontos indevidos desde março de 2020 serão restituídos.
Instituto vai notificar cerca de 9 milhões de beneficiários
O presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
Gilberto Waller Júnior, anunciou, nesta quinta-feira (8), que os aposentados e
pensionistas vítimas de descontos não autorizados de mensalidades associativas
serão ressarcidos pelos prejuízos sofridos entre março de 2020 e março de 2025.
“O marco temporal [para ressarcimentos] são os últimos cinco
anos, que é o prazo de prescrição [quinquenal]. Ou seja, março de 2020”,
declarou Waller, durante coletiva de imprensa, no Palácio do Planalto.
A prescrição quinquenal, ou seja, de cinco anos, estabelece
que os beneficiários da Previdência Social podem cobrar parcelas vencidas de
benefícios, restituições ou diferenças até o limite de cinco anos da data em
que deveriam ter sido pagas.
Segundo Waller, na próxima terça-feira (14), o instituto
começará a notificar cerca de 9 milhões de beneficiários da Previdência Social
de cujos benefícios foram deduzidas as mensalidades de filiação a associações,
sindicatos e outras entidades sociais.
A notificação será feita por meio do aplicativo Meu INSS e,
alternativamente, pela Central de Atendimento telefônico da autarquia, no
número 135.
“[O cidadão] vai abrir estes canais e [verificar que] teve um
desconto [feito] pela associação X e que o valor descontado [em determinado
período] é tal. Olhando esse dado, ele pode falar: realmente, eu fui associado.
Ou, eu não fui associado. Eu não reconheço este vínculo associativo e não
concordo com este desconto”, acrescentou Waller.
Caso a pessoa comunique ao INSS que não autorizou os
descontos, o instituto notificará a entidade para a qual repassou toda a
quantia cobrada junto ao benefício previdenciário da pessoa. A entidade terá 15
dias úteis para comprovar que o aposentado ou pensionista se filiou e autorizou
o desconto em folha.
“As que não o fizerem, nós encaminharemos para a AGU
[Advocacia-Geral da União], demonstrando o débito para que sejam tomadas as
medidas cabíveis”, explicou Waller, assegurando que o beneficiário que
questionar os descontos não vai precisar apresentar nenhum documento ao INSS.
“Ele não vai preencher nada. Ele simplesmente vai clicar [no
Meu INSS] e falar, “este desconto eu não reconheço”, prosseguiu o presidente do
instituto. Caberá às entidades comprovarem a legalidade dos descontos
questionados.
Ainda segundo Waller, só ao fim deste processo de averiguação
o INSS saberá quantos aposentados e pensionistas foram, de fato, lesados. Bem
como o montante descontado ilegalmente.
De acordo com a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral
da União (CGU), entre 2019 e 2024, o INSS descontou de benefícios
previdenciários cerca de R$ 6,3 bilhões que foram integralmente repassados às
organizações sociais autorizadas a oferecer o desconto de filiação em folha.
Parte deste montante, contudo, foi cobrado legalmente, com o aval dos
beneficiários, e repassado a entidades que prestam serviços e oferecem
benefícios a seus membros.
Entenda o caso
A cobrança em folha da mensalidade associativa é permitida
desde 1991, quando entrou em vigor a Lei dos Benefícios da Previdência Social.
É feita com base nos Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) que o INSS assina com
as entidades para as quais, posteriormente, repassa o valor deduzido das
aposentadorias e pensões.
Indícios de ilegalidades levaram a PF e a CGU a deflagrar, no
último dia 23, uma megaoperação para aprofundar as investigações sobre um
esquema nacional de descontos não autorizados.
Dois relatórios que a CGU divulgou nos últimos dias
demonstram que o caso já vinha sendo apurado também no âmbito administrativo
pelo menos desde o primeiro semestre de 2024.
A chamada Operação Sem Desconto resultou, de imediato, na
exoneração do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que foi
substituído por Waller.
Quatro dirigentes da autarquia e um policial federal lotado
em São Paulo também foram cautelarmente afastados de suas funções. Poucos dias
depois, o pedetista Carlos Lupi deixou o comando do Ministério da Previdência
Social, ao qual o INSS está subordinado.
No rastro da Operação Sem Desconto, o INSS suspendeu os
acordos com todas as associações, sindicatos e entidades e, consequentemente,
os descontos automáticos de milhões de beneficiários.
E a AGU criou um grupo especial para propor medidas judiciais
e administrativas para tentar recuperar o prejuízo, ressarcir os beneficiários
do INSS prejudicados e propor novas medidas contra fraudes.
Por decisão judicial, mais de R$ 1 bilhão em bens
patrimoniais dos investigados já estão bloqueados para, eventualmente, reparar
parte dos danos. Hoje, a AGU pediu à Justiça Federal que bloqueie R$ 2,56
bilhões em bens de 12 entidades associativas.
Dados do instituto e da CGU apontam para o “súbito aumento no
montante dos descontos de mensalidades associativas realizados na folha de
pagamento dos beneficiários do INSS” a partir de 2016, quando os descontos
associativos somaram R$ 413 milhões.
Em 2017, o montante subiu para R$ 460 milhões. Já em 2018,
foram descontados R$ 617 milhões. Em 2019, R$ 604 milhões. Em 2020, em meio à
pandemia da covid-19, o valor caiu para R$ 510 milhões. Em 2021, o total voltou
a subir, atingindo R$ 536 milhões. Em 2022, foram R$ 706 milhões. Em 2023, R$
1,2 bilhão. E, no ano passado, R$ 2,8 bilhões.
As reclamações ao INSS cresceram quase que no mesmo ritmo dos
descontos. Só entre janeiro de 2023 e maio de 2024, o instituto recebeu mais de
1,163 milhão de pedidos de cancelamento de cobranças.
A maioria com a justificativa de que não tinha sido
autorizada pelos beneficiários ou seus representantes legais.
Agência Brasil
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