PALAVRA DO SENHOR – O Pai do céu revelou
O Evangelho proposto para este domingo (Mt 16, 13-20) está
presente nos outros evangelhos sinóticos (Mc 8, 11-13. Lc 12, 54-56) com a
narrativa e descrição peculiares a comunidade de cada autor. Recordemos que
domingo passado (12º Domingo do Tempo Comum – C) refletíamos este texto sob o
olhar do evangelista Lucas (12, 54-56).
Mateus diz que Jesus levou os discípulos à Cesareia de
Filipe. Esta cidade recebe este nome por ter sido construída por um dos filhos
de Herodes (Filipe). Há alguns detalhes interessantes para serem ditos:
Cesareia de Filipe era uma cidade em construção, perto de uma das nascentes
(das três) do Rio Jordão. Dizia-se que Cesareia de Filipe era uma região pagã
por ser um lugar de culto aos deuses pagãos e que ali teria uma porta para a
região dos mortos (inferno). Essas informações ajudam a entender o diálogo de
Jesus, no evangelho de hoje.
“Quem diz os homens ser o Filho do Homem” (Mt 16, 13b). O
titulo de Filho do Homem é a descrição da Humanização de Deus: “Deus se fez
homem” (Jo 1, 14). Neste versículo vemos que de um lado está o Filho do Homem
que tem o Espírito; do outro, os homens deste mundo que não tem o
Espirito.
A pergunta de Jesus quer fazer entender o efeito da pregação
dos discípulos. Para decepção de Jesus, a pregação dos discípulos não causou
muito efeito (v. 14). O povo estava preso aos personagens do passado (Antiga
Aliança). A novidade do evangelho de Jesus não causou compreensão do “NOVO”.
Todos acham que Jesus é alguém do passado que voltou. É o risco do saudosismo
eclesial.
“E vocês, quem vocês dizem que eu sou?” (v. 15). Simão Pedro,
no Evangelho de Mateus, diz que Jesus é o “Filho do Deus Vivo” (v. 16).
Finalmente, alguém disse que Jesus não era o Filho de Davi: descendente de um
Rei, ao estilo dos poderes humanos: que se impõe agressivamente, dominador,
massificador. Jesus não está preso às genealogias humanas nem aos velhos
esquemas de poder que garantem status, poder, privilégios, orçamentos secretos,
(não é assim a velha política nesse país que se refaz a todos instante?). Jesus
evita o título de Messias exatamente por saber dessas coisas, Ele é o Filho do
Deus vivificante que comunica a vida. Isso não quer dizer que o evangelho não
tenha implicações sócio-políticas.
“Feliz és tu Simão, Filho de Jonas, porque não foi um ser
humano que te revelou isso, mas meu Pai que está no céu” (v. 17). Aqui, Pedro é
chamado de bem aventurado por ter um coração puro. Portanto, “viu a Deus” (Mt
5,8).
Um fato curioso é que Jesus chama Simão de “filho de Jonas”.
O termo “filho”, na cultura judaica, não quer dizer apenas “biológico”, como
também “irmão” e “família”. Jesus está dizendo que Simão e Jonas tem algo
semelhante. No livro de Jonas (1,1) o profeta Jonas é chamado por Deus a pregar
em Nínive, mas foge e faz o contrário daquilo que o Senhor lhe pede. Deus
propõe um caminho, Jonas faz outro. Mas, tanto Jonas como Simão vão se alinhar
ao caminho do Senhor.
“Tu és Pedro” (Mt 16, 18). Simão será pedra para ser colocado
no fundamento, que é Cristo, na edificação da Igreja. Cada discípulo, dirá
Pedro mais tarde, faz parte deste edifício espiritual (cf. 1Pe 2, 5). Observem
que estamos falando de fundamento e uma construção nova. A construção já não se
dá mais nos fundamentos da Sinagoga (preceitos antigos), nem nos esquemas
davidico, mas em algo novo.
Em Cesareia de Filipe (porta do Reino dos Mortos), Jesus diz
que a vida prevalece. A Igreja está fundada sobre aquele que venceu a morte (v.
18).
“Te darei as chaves” (v. 19). As chaves representam o poder,
mas não o poder messiânico davidico e nem sinagogal, mas no cuidar com amor e
misericórdia.
“O Reino dos céus” (v 19b). Não significa um reino instalado
nas nuvens, mas vivido desde aqui, na terra. Jesus não dá as chaves do mundo
além, mas dá responsabilidade sobre os que estão aqui neste mundo: “quem é,
pois, o servo fiel e sensato que o Senhor encarrega dos servos de sua casa para
lhes alimentar no tempo devido” (Mt 24, 45).
Jesus conclui o texto legitimando que os ensinamentos da
Igreja têm uma participação e legitimação divina: “será ligado no céu”
(16,19b). Não pode uma igreja parar no tempo sem novos discernimentos. Há fé é
movimento. Caso contrário, não haveria necessidade da Encarnação.
Como nos outros evangelhos, aqui, Jesus continua a proibir os
discípulos de falar que Ele é o Messias (v. 20). Jesus não é o Messias/Davidico
esperado pelos homens, mas aquele que servirá no amor. Se o discípulo não
compreende assim, então, se torna pedra de tropeço: Pedro (cf. Mt 16, 23ss) e
Paulo (cf. Atos 9, 1-18).
A maior dificuldade que ainda temos, hoje, é de compreender e
aceitar esse “NOVO”. Os gestos e palavras inovadoras de Jesus parecem não
comunicar muita coisa a geração de hoje. O circulo vicioso da Teologia da
Prosperidade (filha do neoliberalismo), que se instalou nas comunidades, nos
diz que a única coisa possível na vida eclesial é só ir à igreja para “pedir” e
“agradecer” e nada mais a aprender de Jesus. A Igreja corre o risco de ficar
mais ambiciosa e menos humana (caminho paralelo/”filhos de Jonas”).
Como é bonito ver em muitos bispos, sacerdotes, freiras,
consagrados, seminaristas e em muitos membros da igreja atitudes que comunicam
a proximidade DO JESUS DO EVANGELHO. São estes que tecem o verdadeiro sentido
da tradição dos apóstolos (não do tradicionalismo). Eles vivem o essencial.
“O Pai do céu revelou” (v. 17). Pedro e Paulo colocaram Jesus
no centro da vida eclesial e testemunharam a Revelação do amor do Pai. A Igreja
procura ouvir a voz do Pai na revelação do seu Filho que entre nós falou do
Reino: “Sejam misericordiosos como vosso Pai do céu é misericordioso”. Rezemos
pelo papa, rezemos pela Igreja para que seja fiel ao amor misericordioso do Pai
do Céu.
Boa semana. Viva São Pedro e São Paulo! Boas festividades!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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