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PALAVRA DO SENHOR – “Um clamor que chegou até mim” (Gn 18, 21)

Domingo passado ouvíamos que Abraão recebeu a visita da Divindade nas pessoas de três personagens (cf. Gn 18, 1-10a) que foram muito bem acolhidas por Abraão que lhe ofereceu um banquete e recebeu em troca a promessa do nascimento de um filho, o primogênito herdeiro de seu clã. O texto de hoje (Gn 18, 20-32), que é uma continuidade, diz que saindo de lá a Divindade acompanhou Abraão até o alto de um lugar onde se avistava a cidade de Sodoma e verificou o pecado deste povo (falta de hospitalidade) em contra ponto a humildade e o acolhimento de Abraão. HUMILDADE E ACOLHIMENTO SÃO SINAIS DE FÉ.    

"Sodoma e Gomorra" podem ser compreendidas como a extensão de cinco cidades do “Vale de Sidim” ás margens do mar Morto: Sodoma, Gomorra, Admá, Zebolim e Bela (cf Gn 14, 1-4). O vale de Sidim era descrito como um lugar paradisíaco, na falha geológica do vale do Jordão. Numa área sujeita a terremotos, gases e atividades vulcânicas. 

“Sodoma” entrou para a história com a interpretação de pecado na ordem moral sexual; mas, segundo a Mishná (tradição bíblica) os pecados de Sodoma estavam relacionados à ganância, ao apego excessivo à propriedade, a falta de compaixão, blasfemos e um povo sanguinário. Outra tradição acusa Sodoma e Gomorra de sádicos no modo como tratavam os visitantes.

Diz o profeta Ezequiel (16,49): "Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram, e fizeram abominações diante de mim; portanto, vendo eu isto, as tirei dali." O próprio Jesus recordou desse pecado contra a hospitalidade (cf. Mt 11, 23), confirmando a tradição da Mishná.

Há um fato curioso, pois a narrativa bíblica que acusa Sodoma do crime cometido contra os forasteiros tem um paralelo ao de Procusto (mito Grego) onde os visitantes eram obrigados a dormir em sua cama. Conta à lenda que na casa de Procusto havia uma cama de ferro que tinha seu exato tamanho, para o qual convidava os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes não tivessem a medida de sua cama ele amputava o excesso de cumprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. AS VISITAS NUNCA SE AJUSTAVAM EXATAMENTE AO TAMANHO DA CAMA, PORQUE PROCUSTO, SECRETAMENTE, TINHAM CAMAS DE TAMANHO DIFERENTES. Seu reinado acabou quando Teseu prendeu Procusto, em sua cama, cortando-lhe a cabeça e os pés, dando-lhe o mesmo suplicio que aflingia aos seus hóspedes.

Em regra geral, Procusto, representa a intolerância do ser humano em relação ao seu semelhante: se não tiver na minha medida será duramente punido. O mito é uma metáfora para criticar tentativas de imposição de um padrão hostil.

Como não recordar que durante o reinado de Henrique III (1533), os ingleses, adotaram a lei de Ato de Sodomia, para todo o reino, como um ato contra a natureza e contra a vontade de Deus, com punição de morte, às relações homossexuais. Uma intepretação mais profunda fez com que essa lei fosse revogada no ano de 1967.  Hoje, temos a convicção que uma boa exegese pode mudar a compreensão e fazer entender e acontecer a boa justiça.

No texto de hoje, Abraão, homem justo, intercedendo pelos justos que vivem nesta cidade. nos enche de esperança, pois um único justo pode salvar a humanidade. E, para nós cristãos, a justiça/ justo tem um nome: “Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2, 1ss).

O salmista (137(138), 6-7a) canta: “Altíssimo é o Senhor, mas olha os pobres, e de longe reconhece os orgulhosos. Se no meio da desgraça eu caminhar, vós me fazeis tornar à vida novamente”.  Essa é a atitude de Abraão que não é presunçoso e arrogante como os habitantes de Sodoma ou como foi à arrogância de Caim que matou o seu irmão (cf. Gn 4, 8-16). Em Mateus 7, 24-30 o evangelista narra o episódio daquela mulher Siro-Fenícia que se coloca numa atitude humilde pedindo a atenção de Jesus e ele se convence da amplitude de seu ministério.

Em nossas orações/louvores como nos colocamos diante de Deus? Lembre-se de que Deus se coloca ao lado dos pobres e humildes? De que lado você fica? Estamos mergulhados em Cristo (cf Cl 2, 12-14)? 

O evangelho deste domingo (Lucas 11, 1-13), está em profunda continuidade com o evangelho de domingo passado quando nos ensinava que o lugar do discípulo que deseja aprender algo do Mestre é “está aos seus pés e ouvi-lo” (cf. Lc 10, 39). Hoje, seguindo para Jerusalém, os discípulos vêem Jesus orando com tanta humildade e profundidade que lhe pediram: “Ensina-nos a orar, como João ensinou aos seus discípulos” (Lc 11, 1). Os discípulos pedem a Jesus que ele os ensine a dialogar com o Pai, como fez Abraão.

Na oração, Jesus ensina cinco pedidos: “Santifica o teu Nome”, “Venha o Teu Reino”, “Dá-nos pão de que precisamos”, “perdoa os nossos pecados, como também perdoamos”, “Não nos deixes cair em tentação”.

João e Jesus recordam a imagem profética do projeto de Deus: um projeto que exige que as pessoas reconheçam Deus como único Senhor (“Santificado seja teu nome”), que estejam abertas as características de um Reino diferente dos esquemas humanos (“Venha o Teu Reino”), onde haja o pão de cada dia para todos (“Dá-nos pão de que precisamos”), mas também o Pão transcendente que é Jesus (“Isto é o meu corpo/isto é o meu sangue”), onde o amor vença a arrogância/ódio, e o perdão refaça as relações nos lembrando de que somos irmãos (“Perdoa nossos pecados, como nós também perdoamos”). A oração conclui pedindo que tenhamos a sabedoria do alto para não (“cair na tentação”) de negarmos o Projeto de Deus, mas sermos perseverantes nele.

As duas parábolas que aparecem no evangelho de hoje tendo como protagonista o amigo inoportuno e o pai que sabe o que dar aos seus filhos, são somente ilustrações para comparação do relacionamento dos que são crentes com Deus. Na Parábola, Deus é apresentado com alguém infinitamente bom e que nos dá melhor: o Espirito Santo, pois com Ele o discernimento é iluminado.   

Oremos e busquemos no dia-a-dia discernir e fazer a vontade do Pai e tudo vira como acréscimo. 

 

Edjamir Silva Souza

Padre e Psicólogo

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