CPMI convida ex-ministros da Previdência e ex-presidentes do INSS.
Comissão aprova plano de trabalho por acordo entre oposição e
governo
A oposição e o governo entraram em acordo, nesta terça-feira
(26), para aprovar o plano de trabalho da Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) das fraudes do INSS, que foram estimadas em R$ 6,3 bilhões.
Também por acordo, a comissão elegeu para vice-presidente o deputado Duarte Jr
(PSB-MA).
Aprovado em votação simbólica, o plano de trabalho fixou que
a investigação vai se limitar aos fatos ocorridos a partir de 2015, englobando
o 2º governo de Dilma Rousseff; de Miguel Temer; de Jair Bolsonaro e do atual
governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
A CPMI aprovou ainda, por acordo, requerimentos para
convidar, ou convocar, para prestar esclarecimentos à Comissão, por ordem
cronológica desde 2015, todos os ex-ministros da Previdência; ex-presidentes do
INSS, diretores de benefícios; presidentes da Empresa de Tecnologia e
Informações da Previdência (Dataprev); bem como todos os presidentes das
entidades associativas acusadas dos desvios.
Também foi aprovada a convocação de Antônio Carlos Camilo
Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e também do empresário Maurício
Camisotti, apontados pela Polícia Federal como possíveis operadores do esquema
de fraudes no INSS. A CPMI ainda aprovou pedido para ter acesso à íntegra das
investigações em curso.
Ao todo, foram apresentados mais de 950 requerimentos com
pedidos de informação, convocações, quebra de sigilos bancários e telefônicos,
entre outros. Desses, 34 foram aprovados em bloco por acordo entre governo e
oposição.
Com isso, o primeiro a ser ouvido na próxima sessão da CPMI
na quinta-feira (28) é o delegado da PF responsável pelo inquérito, Bruno
Oliveira Pereira Bergamaschi.
O relator
O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL),
justificou que, apesar de existirem notícias de fraudes desde 1994, é
necessário uma delimitação temporal que permita bons resultados na
investigação.
“A fixação desse recorte temporal responde a princípios
constitucionais e processuais fundamentais, tais como a segurança jurídica, a
proporcionalidade e a celeridade, uma vez que investigações sem limite temporal
geram incerteza jurídica”, escreveu o relator.
Apesar de ter maioria na CPMI, o governo deixou que a
oposição elegesse o presidente e o relator da comissão ao não comparecer em
peso na sessão passada.
O relator Alfredo Gaspar reconheceu que é de direita e tem
“consideração” pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Aqui não existe ninguém imparcial no âmbito político. Vamos
deixar isso bem claro. O que nós vamos medir é se as nossas preferências
políticas, se as nossas divergências ideológicas irão atrapalhar no que
interessa: a busca da verdade, diante dos fatos e dos documentos”, defendeu o
parlamentar
Já o presidente da Comissão, senador Carlos Viana
(Podemos-MG), apesar de ser da oposição, disse que “todos os governos serão
alvos da nossa apuração”.
“O nosso trabalho não é simples, devemos apurar com cautela e
coragem todos os responsáveis pelos desvios nas aposentadorias e pensões,
devemos igualmente apontar meios para que esse tipo de prática nunca mais
ocorra”, disse.
Vice-presidência
Também por acordo entre governo e oposição, o deputado
federal Duarte Jr. (PSB/MA) foi aprovado para vice-presidência da CPMI do INSS.
Ele agradeceu o apoio dos colegas para o posto.
“Nós não estamos aqui para conservar bandidos de estimação.
Nós estamos aqui para investigar, nós estamos aqui para dar a resposta devida,
doa a quem doer. Não importa se quem cometeu crimes é da direita ou da
esquerda; se cometeu crimes, cabe a nós investigar e garantir a punição”,
disse.
Plano de trabalho
O plano de trabalho organiza a investigação em seis eixos
temáticos. São eles:
1 - Mapeamento do esquema fraudulento e modus operandi.
“Caberá a esta Comissão investigar o funcionamento detalhado
do esquema fraudulento, incluindo métodos de falsificação de assinaturas e
fraude em consentimentos para descontos em folha”, escreveu o relator.
2 - Identificação e responsabilização dos envolvidos
”Esta Comissão deve apurar o papel de todos os responsáveis
pela operacionalização de várias organizações criminosas que atuaram de forma
sistemática para retirar dinheiro do povo”, diz o plano de trabalho.
3 - Impacto nas vítimas e no erário
“Deve-se ainda quantificar os danos individuais e coletivos,
como subtração de renda essencial para sobrevivência de aposentados e
pensionistas, propondo-se mecanismos de reparação e restituição integral com
perdas e danos”, diz o documento aprovado.
4 - O caminho do dinheiro
“Um desvio de recursos da ordem de R$ 6,3 bilhões, segundo a
Controladoria-Geral da União (CGU), esse é o tamanho aproximado do roubo aos
aposentados e pensionistas da nação. Nesse prisma, nada mais importante do que
seguir o dinheiro surrupiado das vítimas, conhecer e punir seus verdadeiros
destinatários”, diz o texto.
5 - Análise de falhas institucionais e dos mecanismos de
controle
“Serão verificados os motivos que levaram ao fato de
denúncias junto ao próprio INSS sobre descontos indevidos terem sido
reiteradamente ignoradas ao longo dos anos pelos diretores e presidentes”,
afirma o plano de trabalho da CPMI
6 - Medidas preventivas e de aperfeiçoamento legislativo
“Poderão ser propostas iniciativas legislativas e
recomendações visando o fortalecimento dos mecanismos de transparência e
controle, com o objetivo de restaurar a confiança pública nas instituições
governamentais”, completa o texto.
Agência Brasil
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