Juristas pedem ao STF responsabilização civil de Eduardo Bolsonaro
Associação também busca
barrar omissões diante de sanções dos EUA
A Associação Brasileira de
Juristas pela Democracia (ABJD) protocolou, no Supremo Tribunal Federal (STF)
uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) para barrar
omissões do Estado brasileiro diante do cenário de sanções econômicas impostas
pelos Estados Unidos com o tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump.
A ação também tem como foco
a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), apontado como um dos
articuladores das medidas contra o país e autoridades brasileiras.
A peça, protocolada na
quarta-feira (30), diz que a ação é uma resistência jurídica organizada frente
a uma escalada de agressões ao ordenamento constitucional brasileiro por atores
estrangeiros, tanto estatais, como o governo dos Estados Unidos, quanto privados,
como as corporações de tecnologia sediadas naquele país.
Para os juristas, as medidas
aplicadas pelos Estados Unidos buscam deslegitimar e subjugar a legislação
nacional sob a justificativa de sanções econômicas, pressões diplomáticas ou
ameaças de desestabilização, com atuação política significativa de agentes
públicos nacionais, como o deputado federal afastado Eduardo Bolsonaro.
A ação pede ao STF que:
>Reafirme a plena
soberania normativa, informacional, regulatória e fiscal do Brasil;
>Obrigue big techs a
cumprir integralmente as leis brasileiras;
>Crie um regime de
tributação progressiva sobre essas empresas;
>Declare nulos os efeitos
de sanções estrangeiras que visem interferir na legislação nacional.
>Responsabilização civil
de Eduardo Bolsonaro pelos danos causados ao país.
Eduardo Bolsonaro
A peça sustenta que já há
provas materiais e indícios robustos de que o parlamentar praticou coação no
curso do processo, obstrução de investigação de organização criminosa e
tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O documento aponta que
Eduardo Bolsonaro lidera uma retaliação às investigações que atingem seu pai,
Jair Bolsonaro, denunciado por liderar uma organização criminosa empenhada em
romper a ordem democrática. A atuação do deputado busca ferir a soberania do
Brasil, com o objetivo de interferir no julgamento da tentativa de golpe -
processo em que Jair Bolsonaro é réu, inclusive buscando sanções para
autoridades brasileiras.
“O deputado tem atuado,
desde o início do ano, para convencer o governo dos Estados Unidos a impor
sanções contra ministros do STF e autoridades da Polícia Federal e assumiu,
pelas redes sociais, ter influenciado a decisão do presidente Donald Trump de impor
taxação de 50% sobre os produtos brasileiros, além da suspensão do visto dos
Estados Unidos de oito ministros da Suprema Corte e do procurador-geral da
República, Paulo Gonet, seus parentes e ‘aliados’ da Corte”, diz a ação.
O deputado, que se licenciou
do mandato na Câmara dos Deputados e está nos Estados Unidos desde março, disse
em nota que trabalhou diretamente nas últimas semanas “para que as medidas
fossem ainda melhor direcionadas, atingindo o alvo correto e poupando ao máximo
possível o povo brasileiro e o setor produtivo”.
“O objetivo dessas medidas
não é comercial, mas sim político e jurídico: punir os responsáveis pela
destruição do Estado de Direito no país e preservar valores democráticos
fundamentais”, diz Eduardo Bolsonaro sobre as tarifas anunciadas por Trump
contra o Brasil
Plataformas digitais
O documento diz ainda que o
pacote de retaliações foi uma resposta à atuação soberana do Brasil na
regulação das plataformas digitais. A ABJD também aponta que o lobby das big
techs, articulado pela Computer & Communications Industry Association (CCIA),
busca deslegitimar leis brasileiras como a LGPD e projetos que regulam
inteligência artificial, tributação de plataformas e soberania digital.
Para os juristas o
“tarifaço” é uma medida de retaliação econômica travestida de ação comercial,
tendo por motivação não a defesa do interesse econômico legítimo dos EUA, mas
sim a tentativa de coagir o Brasil a recuar em sua soberana atuação
jurisdicional, legislativa e regulatória sobre o espaço digital, em especial
das big techs.
"O pano de fundo da
decisão é inequivocamente político e transborda os limites do direito
internacional econômico, invadindo a seara da soberania nacional e da autonomia
dos Poderes da República Federativa do Brasil”, diz a ação.
Para a ABJD, os efeitos do
tarifaço vão muito além da economia, atingindo setores estratégicos como
agronegócio, siderurgia e indústria de transformação, com impacto bilionário no
Produto Interno Bruto (PIB) e na vida de milhares de trabalhadores. Além disso,
segundo a entidade, a pressão das big techs enfraquece mecanismos de proteção
de dados e combate à desinformação, abrindo espaço para manipulação eleitoral e
ataques às instituições democráticas.
“Não aceitaremos que o
Brasil seja tratado como colônia digital e econômica. Nossa ação exige que o
STF reafirme que nenhuma sanção estrangeira, chantagem comercial ou lobby
corporativo pode se sobrepor à Constituição e à vontade soberana do povo
brasileiro,” disse Tereza Mansi, jurista e integrante da Executiva Nacional da
ABJD.
Agência Brasil
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