Últimas Notícias

PALAVRA DO SENHOR – Não ocupe o primeiro lugar

A proposta do evangelho, ao anunciar a Boa Nova da Salvação, em Jesus Cristo, é humanizar aquilo que o pecado havia “destruído”. O EVANGELHO NOS REFAZ Á ESTATURA DE HOMEM NOVO, EM CRISTO (cf Ef 4, 13-16).

A palavra “homem” em hebraico (ish) está ligada a Adam, podendo ser entendido como “humanidade” e está associado a terra e ao sangue. Etimologicamente, a expressão humano (humanus) deriva de homo (homem) e está associado a húmus (terra). A ideia subjacente é que os seres humanos são feitos da terra e retornam para ela (cf. Gn 3, 19. Sl. 90). NA HUMANIDADE, A SEMENTE DA VIDA TEM UMA CHANCE BOA DE DAR FRUTOS . 

A parábola do semeador (cf. Mt 13. Mc 4, 1-9. Lc 8, 5-15) diz que as sementes do Reino de Deus foram semeadas em muitas pessoas (húmus), mas só conseguiu produzir naquele terreno que tem terra boa.

A humildade tem sua origem no termo humilis, que quer dizer “junto ao chão”. O humilde tem um coração umidificado, fértil, adequado ao crescimento, de uma boa natureza para que nele seja plantada. De modo que ele é um individuo que onde é semeado, pode alcançar bons frutos. É por isso que se diz “dele é o Reino dos céus” (cf. Mt 5, 3-12). Nele, todo o fruto do amor, da misericórdia, da lealdade, tem o seu melhor chão. ESTE É O CRITÉRIO PARA SER DISCÍPULO.

Mas, ele não é um tipo de pessoa que vive do que os outros dizem, mas se permite ser ensinado e faz disso a oportunidade aprender e ensinar. Ele não é um individuo que não erra, mas errando, sabe tirar o melhor proveito para a vida. TEM ABERTURA PARA RESIGNIFICAR AS COISAS.

O humilde “sabe o suficiente sobre si”. O seu “saber” está ligado com a prática do amor, pois ele sabe que o mandamento da vida é amar. Ele sabe que é objeto de nada, pois o amor dialoga muito mais com o nada do que com o tudo.

Ele aprende a discernir quando uma coisa não tem sentido e, portanto, sabe não acolher (cf Mt 5, 37). Ele não é criatura que tudo aceita, que é manipulável, controlável, como um tolo, pois a humildade é o filtro que qualifica aquilo que pode ou não passar ao coração. “Ninguém lhe tira a vida, mas a doa” (Jo 10, 18). E assim cresce como pessoa humana. Por isso, Jesus se apresenta como este humilde: ele tem um coração tão aberto que sabe aprender as coisas do Pai, aberto a aprender com as crianças (cf Lc 18, 17.29) e as mulheres (cf Mc 7, 24-30).

Ele sabe recuar quando percebe que não faz bem ao próximo, quando não quer prejudicar a vida do outro. Em Cl 2 Paulo denuncia a falsa humildade que nasce de certos rigor ascéticos: não pode isso...não pode isso...Certas santificações feitas de proibições, mas cheias de alta exaltação, são falsas. É aquela falsa ideia de que quanto mais você se proíbe mais santo você fica.

A Primeira Leitura (Eclo 3, 19-21.30-31) é um convite à modéstia: “comporta-te como uma pessoa humilde” (v. 19). Pois, a modalidade do espírito vale mais do que o que se faz. A doçura precede qualquer tipo de boa ação.

“Na medida em que fores grande, pratiques a humildade” (Ecl 3, 20). No mundo Grego, a humildade não era é uma virtude bem aceita (entre os Estóicos), mas no mundo cristão ela é entendida como que algo que “potencializa” o Adão (húmus). Portanto, não seria uma fraqueza, mas um encontro consigo.  

A humildade é uma virtude que faz a pessoa conhecer a si mesmo, que domina a si mesmo, coloca-se a si mesmo na dinâmica nobre do serviço ao Criador e ao próximo.

“O mal do orgulhoso não tem cura, pois tem uma árvore de pecado enraizada nele” (v.v.30-31). Vejam o que diz o texto, não é apenas uma semente, mas uma árvore, isto é, sua altivez e arrogância já está muito enraizada ao ponto que se tentar mudar a raiz, derruba a árvore (cf. 2Corintios 11-12).

“O orgulhoso não tem cura” porque ele não percebe a perversidade que há dentro dele. É um desvio de personalidade que não permite a pessoa perceber que vive em busca de grandeza, ostentação, exibicionismo, que é capaz de usar os outros, de passar por cima dos outros, de manipular e até destruir os outros em sua arrogância. A procura de suas glórias ele é capaz de tudo. É um vale tudo. ENQUANTO O SÁBIO PROCURA A SABEDORIA, O ORGULHOSO PROCURA À SUA GLÓRIA.     

A segunda leitura (Hb 12, 18-19.22-24a) O autor diz que Deus não se aproximou dos cristãos em meio à teofanias que geravam medo, como no passado, mas eles se aproximaram de Jesus, o mediador da Nova Aliança. Diferente de Esaú “um profanador que por um prato de comida vendeu a sua progenitura” (v. 16), os cristãos, em meio às perseguições, não se vendam às glórias humanas.

O evangelho desde domingo (Lucas 14, 1-7.7-14) está ambientado na casa de “UM FARISEU” e num “ DIA DE SÁBADO”. Depois de terem vivido a liturgia da Palavra na Sinagoga, um fariseu convidou Jesus para uma refeição (v.1).

Os costumes do povo de Israel dão muita importância às genealogias (cf. Gn 5,1-23. 1Cro 1, 1-54. Mt 1, 1-17. Lc 3, 23-38) e as hierarquias (o povo de Israel, a organização do podo de Israel (patriarcas, lideres religiosos)) isso determina os lugares da mesa que são distribuídos com os cuidados de dar visibilidade aos notáveis, ao lado do dono da casa e, depois, os demais, por ordem de idade. É uma etiqueta que faz-nos pensar como a sociedade se organiza, mas também como muitos almejam estes lugares a todo o custo (cf. Mt 20,21-25). É dentro desse ambiente e com estas características que Jesus faz as provocações do Reino de Deus.

Jesus recorda um ditado (Pv 25, 6-7) que ensina: “não te mostres presunçoso diante do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes. É melhor que te digam: ‘sobe para cá’, do que seres humilhado diante do príncipe”. Deixar que outro ocupe o lugar não é só um símbolo de humildade, mas também um gesto de amor.

“Ao contrário” (Lc 14, 13a). Assim começa a invertida. Na casa de um fariseu (eles têm fama de exibicionismo e ostentação) Jesus faz uma invertida e ensina que a lógica do Reino é sair da idéia do interesse para a lógica do dom. Jesus faz-se “ultimo” para estar com os últimos e faz deles, alguém que está em comunhão com Ele. Porém, aqueles que estão envenenados pela ambição, orgulho e a presunção não criam laços fraternos com os últimos; portanto, estes  serão excluídos do Reino de Deus.

“faça uma festa e convide os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos” (v.13b). Isto é, vá ao encontro daquelas pessoas excluídas inclusive pela própria religião Vá ao encontro, conviva, esteja com eles, defenda-os...“Tu serás feliz (...) receberás a recompensa na ressureição dos justos” (Lc 14,14a).

Como sempre, Jesus nos desconcerta ao apontar os excluídos e desprezados como seus verdadeiros amigos e destinatários do Reino de Deus. É o jeito humano de Jesus que nos contagia, pois sem interesse, nos busca só por amor.

A nossa experiência de relações com Deus e com os outros tem perdido o sabor das coisas simples, da generosidade e gratuidade? O Evangelho é uma contraposição aos valores mundano e propõe qualificarmos nossa existência e as relações: “Tenham os mesmos sentimentos de Cristo” (Fl 2, 5ss).

Nas mesas que frequentamos o que costumamos aprender? E o que levamos para elas? Neste domingo, nossa gratidão aos catequistas que generosamente anunciam o Reino de Deus com tamanha coerência.

Boa semana para todos!

 

Edjamir Silva Souza

Padre e Psicólogo

Nenhum comentário