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PALAVRA DO SENHOR – Possuir e ser possuído.

A 1ª LEITURA (ECL 1, 2; 2, 21-23) nos leva a um tempo de muitas transformações sociais e econômicas para o povo judeu (Pós-exílio da Babilônia). Neste período, as elites associavam o senti do da vida de pessoa sucesso,  ao acúmulo de bens materiais e a busca incessante por “progresso”.  

Um sábio identificado por Qohelet (“aquele que “reúne” ou “pregador”) utiliza o título de Salomão para dar autoridade à sua reflexão. Aos devaneios das elites de seu tempo este homem sensato lhes diz: “Vaidade das vaidades” (Sopro dos sopros). O AUTOR DENUNCIA A FUTILIDADE DAS ELITES nos esforços frenéticos de ganhar muito dinheiro como garantia existencial. A OBSESSÃO DOS RICOS ROMPE COM A SABEDORIA DIVINA, pois só na sabedoria do alto é que se encontra a verdadeira paz que o coração humano deseja, mesmo em meio às inquietações da luta pela sobrevivência.

O SALMO 89(90), 3-4. 5-6. 12-13. 14.17 (R. 1) canta e desmonta a insensatez de um coração insaciável que procura nas riquezas deste mundo a tranquilidade de alma: “Vós fizestes voltar ao pó todo mortal (...). Ensinai-nos a contar os nossos dias e dai ao nosso coração sabedoria. Saciai-nos com o vosso amor (...). Tornai fecundo o nosso trabalho”.

A 2ª LEITURA (COLOSSENSES 3, 1-5. 9-11) O apóstolo Paulo, recebendo a visita de Epafras, soube que tinham chegado a Colossos pregadores que ensinavam doutrinas errôneas. E quais seriam estas doutrinas? Esses pregadores tinham tendência farisaica (judaizantes), mas influenciados por ideias gnósticas. Eles queriam trazer de volta as tradições, doutrinas e disciplinas achando que aquilo levaria a comunidade a uma perfeição maior, a um grau de superioridade na experiência cristã: a observância do sábado, a exigência da circuncisão, a obrigação das festas judaicas, abstinência de alguns alimentos, a prática rígida de ascetismos e a propagação do culto aos anjos. 

Paulo se preocupa com os ensinamentos destes pregadores que RETIRAVAM CRISTO E A JUSTIÇA DO REINO DE DEUS COMO CENTRO DA PROPOSTA DE SALVAÇÃO DO CENTRO DA VIDA DA IGREJA e os chama a vida nova que os identificou como cristãos.

No Batismo fomos “enxertados” em Cristo ressuscitado e passamos a receber a vida d´Ele. Ficamos unidos a Cristo e identificamo-nos com Ele. A vida nova que brota de Jesus Ressuscitado passa a circular em nós. A vida velha fica para trás. Passamos a viver de olhos postos nas “coisas do alto” (v. 15), isto é, naquilo que verdadeiramente Jesus nos ensinou.

É frequente que usemos estes termos: “cristãos praticantes” e “não praticantes” para definir nossa maneira de viver a fé. Está na igreja, identificar-se com determinados grupos, participar das liturgias, não quer dizer necessariamente que “somos cristãos praticantes do evangelho”. Às vezes, somos apenas frequentadores de religião sem a mística do compromisso com a vida nova que Jesus nos ensinou. Mas, o que Jesus nos ensinou? Vamos ao evangelho de hoje...

NO EVANGELHO PROPOSTO PARA ESTE DOMINGO (LUCAS 12, 13-21) Lucas continua a ensinar que quem anda com Jesus aprende a viver. É um fato curioso nos evangelhos que, Jesus não se tranca num templo para ensinar as coisas do Reino. Ele sabe que o Templo (“a casa do Senhor”) tem sido, muitas vezes, instrumentalizado por grupos e pregadores com interesses escusos e cheios de ambições (cf. Jo 2,16).

Às multidões, Jesus falava na confiança no Pai, mas alguém O interrompe trazendo aquilo que ele demonstra ter mais confiança: no dinheiro. A vida destas pessoas tem um imperativo que lhe consome: “a herança”. Jesus falava do Reino, mas este alguém estava com as ideias em outro lugar (é o cristianismo paralelo dos cristãos “não praticantes” que vivem na igreja).

Jesus fala do amor, mas alguém no meio do povo está enraizado no egoísmo. Na oração do Pai nosso Jesus ensinava a orar: “Dai-nos o pão de que precisamos”. Este alguém quer mais...mais...mais...mais. O pecado da ganancia/avareza. Por isso, Jesus chama: “Homem (...)”. É o sentido pejorativo das coisas humanas.

“Atenção! Tomai cuidado contra todo o tipo de ganancia, porque A VIDA DE UM HOMEM não consiste na abundancia dos bens” (v. 15). Essa uma dura advertência de Jesus. São Paulo (Cl 3, 5) afirma que a ganância é idolatria.

Podemos ser a pessoa mais religiosa, devota, piedosa...do mundo, mas se for mercenário, visceral e egoísta, é sinal que você é um idolatra. O Egoísta não tem a ver com o Pai e a Justiça do Reino, pois o Pai é amor e ensina a compartilhar a vida. Na lógica do Reino de Deus, o valor de uma pessoa é medido pela capacidade de viver uma vida simples e capaz de partilhar. NO EVANGELHO, A LÓGICA DO POSSUIR É JUSTA NA MEDIDA DO DAR. O QUE SE GUARDA PARA SI NÃO É POSSUIR, MAS SER POSSUÍDO.

A Boa Nova do evangelho denuncia que os ricos estão em estado terminal de egoísmo para o qual não existe esperança de salvação: “é mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (cf. Mt 19,24. Mc 10,25. Lc 18,25).

As elites deste mundo não se preocupam em partilhar e geram crises éticas nas sociedades trazendo para elas (sociedades) todo o tipo de injustiças: fome, miséria, brigas, guerras, exclusões, estereótipos de preconceitos. A abundância de sua colheita não tem preocupação com a justiça social (cf. Lc 19, 18-19).

“Deus lhe disse: Louco!” (v. 20). O homem sempre acreditou que o acúmulo das riquezas é sinal de bênção (cf. Salmo 127(128)). Enquanto o pobre era sinal de maldição e castigado por Deus. É Deus quem dá o diagnóstico e o adjetivo: “Louco”. Na tradução do grego é idiota, estupido, medíocre. Jesus denunciava as elites do seu tempo chamando-as de idiota, loucos e medíocres: “não é rico diante de Deus” (v. 21).

“Ainda nesta noite pedirão conta de tua vida” (v. 20). A “noite” é sempre o momento da fraqueza, do experimentar o nosso nada, das tentações, mas também do risco da possessão (Era noite e Judas estava envolvido em trevas. O diabo já lhe possuía” (cf. Jo 13,27. Lc 22,3)).   

Irmãos (ãs), somos seres movidos por desejos: queremos o melhor para a vida, fazer coisas bacanas, ter objetivos, ter as rédeas da nossa vida e utilizar dos recursos deste mundo para chegar onde a gente quer. O desejo nos movimenta. Mas, uma vontade desmedida é um exagero. O ambicioso nunca está satisfeito com o que tem e o que é, e o que conseguiu conquistar. È a sensação de “falta constate” traduzindo-se em ganancia.

Se não desenvolvermos um senso ético, em relação à busca do “ter” e do “ser”, então, a ganancia nos faz passar por cima do outro, não respeitar os limites do outro. É saudável movimentar a vida na arte do ser, de conhecer melhor as coisas, alcançar novos objetivos, conhecer pessoas.

O ambicioso é gerido por uma baixa estima, ora disfarçada de conquistador inquieto, ora disfarçada de alguém que não quer mais nada, pois já tem tudo, mas na verdade não acredita muito em si e tem dificuldade de estabelecer objetivos. Se por um lado, um quer tudo; por outro, há quem não goste de si e não investe muito no seu crescimento pessoal.    

Qual o segredo da felicidade? Qual o segredo do Reino de Deus? Nos Atos dos Apóstolos (20,35) ensina que: “A mais alegria em dar do que receber!”.

 

Edjamir Silva Souza

Padre e Psicólogo

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