PALAVRA DO SENHOR – Preparar a casa para a vinda do Senhor.
O tema da vigilância e da
responsabilidade é muito forte no contexto do I século da Igreja. Primeiro,
porque era a expectativa apocalíptica de Israel que aguardava a intervenção
definitiva de Deus na história. Segundo, porque essa expectativa entra, nas primeiras
comunidades cristãs, em tons de esperança com o retorno de Jesus (na sua vinda
gloriosa). Essa esperança tem um nome, um jeito de ser e um rosto: é Jesus!
Jesus é a ultima Palavra
sobre quem é Deus e põe em evidência a opção histórica de Deus pelos mais
frágeis. Ele retoma os fatos narrados desde Antigos quando se diz que “Deus fez
conhecer ao povo a punição dos injustos e a salvação aos pequenos” (cf. Sb
18,8).
No evangelho proposto para
este domingo (Lc 12, 32-48) encontramos Jesus utilizando imagens familiares
como “a atitude feliz de um empregado que prepara a casa para a vinda do
Senhor” (v. 37) e o “dono da casa que deve ficar atento às incertezas e as
injustiças que acontecem dentro da casa” (v. 39) fazendo despertar no coração
das pessoas e na vida da comunidade o desejo de Deus e da Justiça do Reino (cf.
Mt 6,33).
Os que estão à frente da
casa devem administrar com fidelidade e prudência a vida da comunidade “dando o
alimento na hora certa” (Lc 12, 42) aos filhos necessitados: o alimento da liberdade,
da vida digna, do respeito, da compaixão..., pois assim é a vida do Reino de
Deus que se opõe ao reino dos homens que “espanca os pequenos, trata mal as
pessoas, exclui, mata, embriaga-se na iniquidade e injustiças”. (Lc 12, 45).
À luz do evangelho todos os
membros da casa (da família do Senhor) devem analisar seus valores, suas
afinidades, estilo de vida e as condições do coração: onde está o teu coração?
(Lc 12, 34) para saber se estamos alinhados com a vida do Reino de Deus e
evitando o destino dos infiéis/perversos (v. 46).
Jesus responsabiliza cada
membro da comunidade, por isso que em tempos difíceis eles devem ficar com
lâmpadas acesas. Este discurso de Jesus serviu e serve de advertência e
encorajamento para os cristãos em tempos de incertezas. Certa vez, disse um
bispo muito sábio e prudente: “Na dúvida, fique com os pobres” (Dom Pedro
Casaldáglia).
Irmãos (ãs), semana passada
a Palavra de Deus reclamava da vaidade e da ambição desmedida que destroem
pessoas e sociedades (Ecl 1,2;2,21-23. Sl 89(90). Cl 3,1-5.9-11. Lc 12,
13-21.). Viver a Palavra de Jesus é andar na prudência e sabedoria do alto e
não se deixar levar pela “loucura dos riquezas” que jogam as pessoas e
sociedades na mediocridade da vida e na idolatria das elites.
“Cingir os rins” (v. 35)
evoca a prontidão e o serviço ao bem comum. “Lâmpadas acesas” (v. 35) não
significa ser como as estrelas do mundo midiático, a auto-referencialidade, mas
a vigilância que surge por meio da fé que diz: “vós sois o sal da terra, vós
sois a luz do mundo”. (Mt 5, 13ss).
“Caso ele chegue à
meia-noite ou as três da madrugada” (Lc 12, 28). A “noite” continua a se
estender na vida das comunidades (cf. Lc 11, 1-13). A “noite” pode ser tanto um
movimento interno como símbolo de provocação, escuridão espiritual ou uma
experiência vivida pelas sociedades. A “noite” pode ser sinal de libertação (Sb
18, 6-9), mas pode ser sinal de possessão do não-vida (cf. Ex. 14, 4,8. Jo 13,
2.27).
O evangelho denuncia que na
dinâmica do Reino de Deus o egoísmo não é bem vindo. Na vida comunitária, é
visível quando alguém vive em função de si mesmo, de sua autoimagem, daquilo
que faz em troca de alguma vantagem pessoal. A agressividade, o tratar mal os
outros, o subordinar os outros aos seus interesses mesquinhos, curvar os outros
à sua arrogância, a seu autoritarismo e humilhações são sintomas de um egoísta
em estado terminal (cf. Lc 12, 46).
Pessoas assim não tem
interesse na harmonia da vida comunitária. Segundo o evangelho, são péssimos
administradores. Eles pensam apensa no lucro, no cálculo, no desempenho do ter,
nas habilidades de gerir coisas, mas não respeitam a casa comum e nem seus
habitantes. São estes que dizem: “não precisamos dos outros, eles que precisam
de nós” (ditado).
“Não tenhas medo pequenino
rebanho do Senhor, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino. Vendei os
vossos bens e distribui” (12, 32). O avarento e o egoísta têm medo da
simplicidade e impõe sobre os outros muitos fardos pesados. Seu conceito de
viver bem está enraizado absolutamente naquilo que ele tem. ELE NÃO ACEITA O
AMOR GRATUITO DO PAI QUE LHE OFERECEU O REINO DOS CÉUS. ELE QUER O REINO DOS
HOMENS.
O teólogo Antônio Pagola,
comentando o evangelho deste domingo, diz que “é muito fácil viver dormindo.
Basta fazer o que quase todo mundo faz (...) ajustando ao que está na moda.
Viver buscando segurança externa e interna. Basta defender nosso pequeno
bem-estar enquanto a vida vai se apagando dentro de nós. Chega um momento em
que já não sabemos reagir. Ao sentir que a nossa vida está vazia, vamos
enchendo-a (...). Enganando-nos vivendo agitados pela pressa e pelas ocupações.
Podemos gastar a vida inteira “fazendo coisas” sem descobrir nela nada de
grande ou nobre” (PAGOLA. O caminho aberto por Jesus: Lucas/ José Antonio
Pagola; tradução de Gentil Avelino Titton. - Editora Vozes. Petrópolis, 2012.
p.214).
Historicamente falando é
possível dizer que a própria religião também pode fazer-nos adormecer. NÃO FALO
DO DORMINDO NA MISSA. Mas, a prática de uma religião adormecida que encalhou na
ideia de buscar apenas tranquilidade. Jesus repete em nossos altares
“DESPERTAI, TU QUE DORMES” (Ef 5, 14).
É verdade que não é fácil
despertar, pois geralmente não ouvimos aos que nos dizem algo contrário ao que
pensamos. Para despertar é preciso ser mais lúcidos e evitar a superficialidade
de nossa própria vida de enganos e mesquinhez. A verdade de Jesus abre
perspectivas que superam os tradicionalismos enrijecidos. A sabedoria do alto exige de nós vivermos um
pouco mais devagar, cultivar melhor o silêncio e estarmos mais atentos aos
apelos do coração. Na lógica do Reino, doar-se vale mais do que as mil
conquistas do ter.
“O pequeno rebanho do
Senhor” assim se descreve pelo fato de sua forma distinta da vida do mundo.
Mas, é preciso viver SEMPRE despertando esse rebanho para não ser “religião
adormecida”. E o desafio é fazer com que as pessoas vão além dos ritos, das
crendices, para alcançar a verdade perante Deus.
Dentro desse clima
vocacional que o mês de agosto nos propõe celebramos hoje o dia dos pais e a
abertura da Semana Nacional da Família.
O contexto do evangelho (a casa) seja fonte de inspiração para aqueles
que são vocacionados a administrar um lar. A vigilância não quer dizer a
tirania, mas a sabedoria e a educação de quem cuida daquilo que pertence a
Deus. REZEMOS PELAS NOSSAS FAMILIAS.
“Feliz aqueles que o Senhor,
ao chegar, encontrar vigiando” (Lc 12, 37).
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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