Conselho de Ética da Câmara deve abrir processo contra Eduardo Bolsonaro nesta terça.
Abertura é primeira fase de procedimento que pode levar à
cassação. Queixa acusa deputado de agir contra o país e incentivar autoridades
dos EUA a aplicar sanções; Eduardo foi denunciado pela PGR na segunda.
O Conselho de Ética da Câmara deve abrir na tarde desta
terça-feira (23) um processo disciplinar que pode levar à cassação do deputado
Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
A abertura é a primeira fase de um procedimento no órgão
(entenda mais abaixo). Nesta terça, além de instaurar o processo, o conselho
deve formar uma lista com três potenciais nomes para relatar o caso.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é alvo de uma
queixa, apresentada pelo PT, que o acusa de atuar "contra os fundamentos
da República". Segundo o partido, Eduardo se utilizou da imunidade
parlamentar para atacar a ordem institucional.
Eleito por São Paulo, o deputado mora nos Estados Unidos
desde o início deste ano. Ele tem se reunido com lideranças americanas e é
apontado como um dos incentivadores das sanções econômicas aplicadas pelo
governo norte-americano contra autoridades e produtos brasileiros.
O PT afirma que a conduta de Eduardo nos EUA vai contra o
decoro parlamentar e demonstra uma "clara intenção de desestabilizar as
instituições republicanas" do Brasil.
A legenda argumenta que a atuação do deputado tem o
"intuito de pressionar autoridades brasileiras por meio de sanções
internacionais", em uma espécie de "represália às investigações que
envolvem seu pai e correligionários".
Na tarde de segunda (22), a Procuradoria-Geral da República
(PGR) denunciou Eduardo Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime
de coação no curso do processo. O Ministério Público Federal avalia que o
deputado tentou influenciar rumos de ações contra o pai por meio das sanções
econômicas do governo Donald Trump ao Brasil.
Além da queixa apresentada pelo PT, Eduardo também é alvo de
outros três pedidos de cassação encaminhados ao Conselho de Ética. O presidente
do órgão, Fabio Schiochet (União-SC), espera que as quatro representações
caminhem de forma conjunta.
Schiochet já pediu ao presidente da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos-PB), para anexar as três queixas à do PT, mas Motta ainda não
respondeu. Diante da ausência de manifestação, o presidente do Conselho de
Ética decidiu dar seguimento ao único caso que ainda está no órgão — o
apresentado pelo PT.
"Vou abrir apenas o que está no conselho ainda. Ele
[Hugo Motta] ainda não devolveu os que eu pedi apensar", disse o deputado
ao g1.
Primeira etapa
A instauração é a primeira etapa de um processo disciplinar
dentro do Conselho de Ética. Junto dela o órgão também sorteia nomes e forma
uma lista tríplice de potenciais relatores do caso.
A escolha do responsável por conduzir o processo contra
Eduardo Bolsonaro ficará a cargo do presidente do conselho.
Depois que o nome for definido, o relator terá um prazo de
dez dias úteis para apresentar um parecer preliminar, que poderá ser pelo
prosseguimento ou arquivamento do caso.
Se o processo seguir, depois de diversas etapas, que preveem
espaço para defesa do parlamentar, o relator poderá opinar pela absolvição ou
pela punição de Eduardo Bolsonaro, que pode ir de uma censura até a perda do
mandato.
'Mandato EAD'
Dos EUA, o deputado Eduardo Bolsonaro tem tentado exercer o
mandato à distância. Ele já fez um pedido formal ao presidente Hugo Motta, que
até o momento não respondeu.
Na última semana, o grupo aliado ao ex-presidente Jair
Bolsonaro decidiu indicar Eduardo ao cargo de líder da minoria — o que não foi
formalizado até o momento.
A indicação à liderança é uma tentativa do bloco de oposição
de driblar faltas de Eduardo Bolsonaro na Câmara.
Entre março e julho, Eduardo se afastou do mandato em uma
licença para tratar de assuntos pessoais. Sem possibilidade de renovar o
afastamento, o parlamentar voltou formalmente a exercer o mandato e, desde
agosto, tem contabilizado faltas injustificadas.
O excesso de ausências em um ano de trabalho na Câmara dos
Deputados pode levar à cassação de um parlamentar.
A regra está prevista na Constituição e tem um rito próprio
definido internamente pela Casa. Segundo a Carta Magna, um parlamentar perderá
o mandato se deixar de ir a um terço — ou mais — das sessões de votações ao
longo do ano.
Para deputados da oposição, ao ser indicado líder da minoria,
Eduardo poderia se beneficiar de um entendimento da direção da Casa que, na
prática, abona faltas registradas ao longo de um mês para parlamentares que
exercem uma série de cargos na Câmara.
Técnicos da Secretaria-Geral da Mesa têm avaliado, no
entanto, que a saída pode não surtir efeito, uma vez que, por estar morando nos
EUA sem comunicar oficialmente a Casa ou estar em uma missão oficial, Eduardo
Bolsonaro não é monitorado pela Câmara.
Por Kevin Lima, g1 — Brasília


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