PALAVRA DO SENHOR – Cuidar bem dos outros é sacramento de salvação.
Última semana do mês de
setembro e este é o Domingo da Bíblia. Domingo passado ouvíamos o apelo da
Palavra de Deus à espiritualidade do amor social.
A liturgia da Palavra deste
domingo continua a nos provocar insistentemente por esse amor à justiça social
e o cuidado com os mais frágeis, por exemplo, o salmo de hoje (145(146) 9abc)
nos dá exemplos clássico de categorias frágeis: o estrangeiro, o órfão e a
viúva e o evangelho (Lc 16, 19-31) nos fala do pobre Lázaro, uma história
contada por Jesus.
Na 1ª Leitura continuamos a
ouvir as palavras do Profeta Amós (6, 1a.4-7) que DENUNCIA VIOLENTAMENTE UMA
CLASSE OSCIOSA E INDIFERENTE que vive “acomodada no luxo”, “só gozando da boa
vida”, “às custas dos pobres”, sem se preocupar com a ruina de José (referência
a Tribo de José, mas também a fragilidade de José do Egito) e desprezando os
que passam por grandes necessidades. Deus jurou “nunca esquecer isso” (cf. Am
8, 7).
A “idolatria das riquezas” e
a “indiferença” são formas de viver que não tem nada a ver com o projeto da
justiça do Reino de Deus.
O salmo (145(146), 7.
8-9a.9bc-10) canta a bondade de Deus que se importa com todos. Cuidar bem dos
outros é sacramento de salvação.
Na 2ª leitura (1Tm 6,11-16),
Paulo exorta a Timóteo a fugir das coisas deste mundo. No texto anterior ele
diz quais são as coisas deste mundo e denuncia “o amor ao dinheiro” com um dos
pecados mundanos. O apóstolo Paulo educa Timóteo na fé dizendo que ele “procure
a justiça, a piedade, a fé, a caridade, constância e a mansidão. Combate o bom
combate de fé ao qual fostes chamados. Essa é a tua bela profissão de fé”. FÉ E
COERÊNCIA CONSTITUI O BOM COMBATE.
No Evangelho de hoje (Lc
16,19-31) Jesus inicia dizendo: “havia um homem rico” (v. 19). É o mesmo início
do evangelho de domingo passado na Parábola do Administrador Infiel (cf. Lc 16,
1-13). Lucas denuncia que os ricos vivem em estado terminal de fé por causa de
sua idolatria e indiferença. A mesma acusação faz o evangelista Mateus: “É mais
fácil um camelo passar por um buraco de agulha do que um rico entrar no Reino
de Deus” (Mt 19,23-24).
Diferente das outras
parábolas este personagem protagonista tem um nome: Lázaro. Este nome Lázaro,
em hebraico, significa: “Deus socorreu”. E é o que Jesus faz ao seu amigo.
O rico é apresentado com uma
boa descrição de pessoa bem sucedida na vida: títulos, vestes luxuosas e
banquetes suntuosos, mas não tem nome. Aos olhos de Deus os pobres é que tem os
primeiros lugares.
O pobre Lázaro desejava
comer aquilo que caia da mesa do rico e até mesmo os cães, talvez seus
companheiros mais próximos, vinham lamber suas chagas. Essa cena parece muito
com a Parábola do Filho Pródigo, pois o Filho mais novo lamenta não poder comer
o resto de comida dado aos porcos.
Na parábola do Filho Pródigo
temos alguém na solidão que é vítima de pecado por suas escolhas. Na Parábola
de Lázaro, é vítima do pecado dos ricos. Ninguém lhe dá atenção, só os cães vêm
lamber as chagas dos pobres.
O texto de hoje é uma usa
uma lupa na descrição bem realista das nossas relações muitas vezes anônimas e
indiferentes. Mesmo com os mais próximos a nós esquecemos em dar um bom dia e
estarmos atentos ao que fazem. Jesus recorda que para e seu Pai, cada ser
humano é único e ninguém é descartado, assim afirmava diariamente o papa Francisco.
O evangelho ainda apresenta
fragmento de escatologia para nos fazer pensar como tem sido nossas escolhas e
atitudes. Como filhos e filhas do mesmo Pai do céu, aprendemos a ter o mesmo
olhar de Deus para com a realidade? Ou estamos indiferentes em nosso egoísmo?
Contribuímos para diminuir os enormes abismos entre nós
(espiritual/material/cultural)?
A narrativa faz um percurso
existencial: da “casa de um rico indiferente” ao “Sheol”, isto é, mansão dos
mortos. É o encontro da nossa consciência (nossos valores, no jeito de ser e
estar no mundo) frente ao juízo final de toda a nossa existência.
Vivemos tempos de migrações
forçadas, xenofobias, deportações desumanas, mortes de inocentes por guerras
incentivadas e toleradas por razões econômicas, degradação da casa comum por
interesses comerciais e egoístas, impérios e ditaduras globalizando a miséria e
o sofrimento.
Enfrentamos a manipulação da
religião e da fé, no campo mercado, alienando consciências; vemos o combate e a
perseguição aos profetas que ousam levantar a voz, perseguições feitas também
pelos falsos profetas e fariseus modernos.
O tempo da história é o
momento de qualificar nossa existência para o alto e Jesus Cristo e o modelo
deste caminho, a verdade e vida. Paulo, disse, certa vez: “é necessário que
todos nos compareçamos perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um
receba o que mereceu por tudo aquilo que fez durante a vida, quer de bem, quer
de mal” (2Cor 5, 10).
Concluo com um trecho de uma
bonita canção, cantada por uma grande artista, que diz: “não quero luxo nem
lixo. Meu sonho é ser imortal, meu amor. Não quero luxo nem lixo quero saúde
para gozar no final” (Rita Lee Jones de Carvalho e Roberto Z. Affonso de
Carvalho).
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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