PALAVRA DO SENHOR – A espiritualidade do amor social.
Neste 25º Domingo do Tempo
Comum a Palavra de Deus nos faz fortes interpelações que chamamos de DINÂMICA
SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DA ESPERANÇA. O compromisso com o bem comum, com o outro,
a abertura com o próximo são sinais de uma verdadeira espiritualidade do amor
social. Na vida cristã, o próximo não é aquele que está imediatamente ao nosso
lado, mas “os tantos próximos” que encontramos nos caminhos da vida.
O profeta Amós (8, 4-7),
arauto da espiritualidade do amor social (AT), nos faz grandes interpelações que
serviu de base para a próprio ação missionária de Jesus. Amós (AT) e Jesus (NT)
nos ensinam que a partir de uma espiritualidade do amor social (justiça social)
e seus imperativos éticos é possível reconstruir novos horizontes de esperança
de um mundo mais humano e fraterno.
O profeta denuncia a
prosperidade das classes favorecidas frente à miséria de uma parte
significativa do povo. Uns querem tirar vantagem em tudo e outros passam fome.
A carga de impostos, proporcionalmente injusta, não permite aos pobres saírem
de uma dívida eterna e poder crescer social e economicamente.
Assim como Miqueias e
Jeremias, o profeta Amós percebeu que os tribunais e os juízes eram subornados
para favorecer as elites e prejudicar os pobres. O duro discurso do profeta não
é bem aceito por estas elites. O seu discurso nasce da dureza dos pobres do
deserto frente à indolência da sociedade israelense que vive no luxo. A
ganância e a ambição cegam as pessoas. E estas, muitas vezes, usam até mesmo a
religião e o nome de Deus.
Os “ai de vós” de Jesus
estão enraizados nas situações de injustiça social que Amós denuncia no texto
de hoje: “maltratar os humildes”, “prostrar os pobres”, “adulterar balanças e
ter lucros desonestos”, “as elites que dominam os pobres com dinheiro e um par
de sandálias”, “a soberba e arrogância de Jacó (símbolo das regiões
produtivas). O Senhor jurou nunca esquecer disso (v 7), sabe porquê?
São Mateus (cap. 25) dirá,
no discurso escatológico, que serão separados os perversos dos que praticaram o
amor social: “O Rei dirá: ‘Eu tive fome e não me destes de comer, eu tive sede
e não me destes de beber, eu estava nu e não me vestistes, eu era estrangeiro e
não me acolhestes, estava preso e não me visitastes (cf. Mt 25, 41-45).
“Afastai-vos de mim, malditos” (Mt 25,41).
Como será que nos
apresentaremos diante de Deus, no dia de nosso juízo final? Vejam a força desta
expressão: juízo. Evoca a idéia de sabedoria versus a loucura/idiotice do
mundo. Diz também a idéia de juízo enquanto os meus próprios julgamentos e
comportamentos éticos na relação com os outros. E faz-nos pensar que seremos
julgados pelo Justo Juiz que nos julgará se fomos capazes de agir com o amor
social. Deus não nos perguntará sobre o amor próprio, tão explorado em nossos
dias ou mesmo sobre quantas vezes faltamos as missas, mas do amor ao próximo.
O salmista (Salmo 112(113))
canta as maravilhas de Deus, dizendo: “louva ao Senhor que eleva os pobres
(...). O Senhor que está acima das nações e sua glória vai além dos céus (...)
se inclina para olhar o céu e a terra”. Nas últimas semanas estamos ouvindo
Jesus dizer que na lógica do Reino de Deus “os últimos serão os primeiros” (cf.
Lc 13, 30), os que são sempre rebaixados e tratados mal serão tratados com
muita dignidade no Reino (cf. Mt 5).
Paulo, escrevendo a Timóteo
(1Tm 2, 1-8), exorta as comunidades para que “se façam preces e orações por
todos os homens, pelos que governam, por todos os que ocupam cargos afim de que
possamos viver uma vida tranquila e serena com piedade e dignidade. Isto é bom
e agradável a Deus, pois Deus quer que todos sejam salvos e chegam a verdade”
(v.v. 1-4).
A sociedade brasileira,
desde suas origens é marcada por muita violência social e política: a imposição
de uma colonização e o desrespeito com os povos originários, a destruição das
nossas reservas ambientais, tramas de golpes de estado, organizações
criminosas, planejamento de assassinatos (e execuções) de autoridades,
discursos de ódio, linchamento, etc. fazem parte desta nação que tenta ser
“pátria amada, mãe gentil”, mas seus administradores (e um parcela da
população) nem sempre tem amor social, mas apenas amor narcísico (tiranos e
ditadores).
Um fato interessante, nessa
tessitura social, é que muitos desses “golpes” são sempre acompanhados por um
viés religioso que não rezou e apaziguou a situação, mas alimentou muitas vezes
as rixas odiosas que sempre sobrou para os pobres, os pequenos e excluídos,
etc. Bíblia, terço e demais livros sagrados são muitas vezes instrumentalizados
nas mãos de grupos não na intenção do que disse Paulo na primeira leitura, mas
exatamente ao contrário. SERÁ MESMO QUE
SEGUIMOS A JESUS QUE É CAMINHO, VERDADE E VIDA?
O Evangelho de hoje (Lc 16,
1-13) continua a distinguir claramente o que é “sabedoria do mundo” e a
“sabedoria do alto”. Jesus constata que os “filhos deste mundo” tem muita
esperteza para resolver as coisas com desonestidade, mentira e cinismo,
diferente dos “Filhos da luz” (v. 8b). Jesus até elogia a esperteza, mas não a
iniquidade. “Os filhos deste mundo” são mais expostos à desonestidade, à
falcatrua, a mentira, a manipular balanças para que as elites fiquem mais ricas
às custas dos pobres.
Os “filhos deste mundo” não
têm escrúpulos nenhum quando se trata de usar a administração ganhando
vantagens escusas, em orçamentos secretos, desvio de verbas, usando a própria
lei para se blindar das acusações de corrupção em que estão atolados,
prejudicando, assim, a vida social. ELES NÃO TEMEM NEM A DEUS E NEM ENVERGONHA
DIANTE DO POVO, POIS ACREDITAM QUE DEUS E O POVO NÃO PERCEBEM E NÃO ENTENDEM O
QUE FAZEM NA CALADA DA NOITE.
No evangelho de hoje Jesus
nos convida a aprender três atitudes éticas: “ser fiel nas pequenas coisas para
aprender a cuidar coisas maiores” (Lc 16,10), “usar os bens honestamente”
(v.12) e “não servir a dois senhores: ou a Deus ou ao Dinheiro” (v. 13).
Muitas vezes nós somos
cristãos sem entusiasmo algum, sem virtude ou criatividade na luta contra a
iniquidade dos “filhos das trevas” nos acomodamos em nosso egoísmo e pecamos
por falta de amor social. Redescubramos a boa amizade social reconhecendo
fraternalmente que somos todos irmãos e que devemos agir eticamente com tudo o
que Deus nos pediu para administrar.
Neste final de semana, celebremos com espírito de ação de graças e oração, esta a eucaristia. Que o Espírito de Deus nos ensine a ser criativos e honestos com os bens que Deus nos confiou. Quem se dispõe a seguir Jesus não consente que se maltratem os humildes e que os pobres sejam prostrados, mas vive no dia-a-dia a serviço da justiço social como fruto de um coração alargado. Quem pertence a Jesus tem o compromisso com a fraternidade e o amor social. Quem vive nas comunidades eclesiais e não tem nenhuma preocupação social, achando que não devemos nos meter nisso, reveja seu conceito de Deus e a sua fé.
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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