PALAVRA DO SENHOR – Na cruz, a luta épica entre o ódio e o amor.
A Festa da Exaltação da Santa Cruz foi instituída para
perpetuar a dedicação de duas basílicas que o Imperador Constantino (século IV)
mandou construir: uma no Gólgota e outra no Santo Sepulcro. Já no século VII
acrescentou-se a lembrança da vitória sobre os Persas dos quais foram
resgatadas as relíquias da Santa Cruz, que logo foram levadas a Jerusalém.
Assim como a serpente, no episódio da 1ª Leitura de hoje (Nm
21,4-9), simbolizou a morte, mas também a cura; a cruz também é um paradoxo
simbólico, nela há a representação do excesso de ódio ao excesso de amor. Na
cruz, encontramos a fonte de amor: no lugar da morte, o lugar da vida.
Na Carta aos Filipenses (2,6-11) Paulo expressa muito bem
que, em Jesus, Deus nos deu a conhecer os mistérios do Reino. De modo
impressionante: “Deus se despojou de sua posição e, assumindo a condição de
escravo e se fez um de nós” (2,7). Nós cremos que Aquele que desceu e que subiu
ao céu é um Deus esvaziado, humilde e que assume a nossa humanidade em tudo. A
CRUZ É SIMBOLO DESSE DESPOJAMENTO.
No Evangelho (Jo 3, 4-19) encontramos Jesus num diálogo com
Nicodemos recordando o episódio do êxodo (cf. Nm 21,4-9) contado na primeira
leitura para dizer o é necessário que o Filho do Homem seja levantado. Este
filho do Homem é aquele que tem a condição divina. E que, por meio da condição
humana, atraiu para si a tantos que acolheram a Sua Palavra.
Jesus dá a Nicodemos as informações prévias e proféticas de
que na cruz Ele vai realizar a obra da salvação. Não será pela Lei de Moisés,
mas em Seu Nome. A vida eterna será em Seu Nome (v.19) e será dada não a pós a
morte da pessoa, mas a vida eterna é uma qualidade de vida já nessa existência.
Jesus diz a Nicodemos que o Pai o enviou ao mundo para
“salvar” e não “condenar” e rompe aquele esquema ideológico, punitivo e
rancoroso de que Deus vive a julgar e condenar as pessoas a todo o tempo. O Pai
de Jesus é o Pai das Misericórdias. Portanto, quem rejeita a oferta de amor de
Deus, permanecerá na morte.
Jesus foi pregado na cruz, como vítima do ódio, mas a sua
obra salvífica tornou a cruz uma fonte de amor. Sendo vítima da incompreensão e
do ódio, Jesus perdoa. Ele inverte a lógica daquilo que o mata. O ódio é sempre
um caminho de homicídio, mas Jesus torna o perdão como elemento de perseverança
na vida. Na cruz, há uma luta épica entre o ódio e o amor, mas o amor triunfou.
A árvore da morte (Gn 3) foi resignificada na árvore da cruz
para que a vida ressurgisse de onde a morte viera. Se a cruz era o símbolo de
maldição e o lugar dos condenados (cf. Dt 21,22-23); mas, em Jesus, foi
transformado em lugar de redenção. Na árvore da morte Jesus neutralizou, em sua
própria carne, o veneno da morte.
A cruz é um convite ao exigente caminho do amor que traz
consequências concretas. Os primeiros discípulos testemunharam: “Jesus deu a
vida por nós, também devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo 3, 16). “Nada fazer
por vaidade e vangloria, mas com humildade cada um considerando os outros mais
importantes do que a si mesmo e não cuide só do que é seu, mas cuide dos
outros” (Fl 2,3-4).
Ao nos convidar para carregar a nossa cruz (cf. Mt 16,24-25.
Mc 8,34-9,1. Lc9,3.), mesmo enfrentado a maldade humana, Jesus também nos
convidou a vencer o ódio pelo amor.
Portanto, quando olharmos para a cruz saibamos que Jesus não
está mais lá, mas recordemos que esteve. Na cruz dos injustiçados está o
Salvador da humanidade (cf. Jo 12,32). Muitos consideraram a cruz como um
escândalo e loucura, mas o que é loucura para os homens é sabedoria para Deus e
salvação para a humanidade.
“No entardecer da vida, seremos julgados pelo amor” (São João
da Cruz)
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo


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