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PALAVRA DO SENHOR – Apareceu para interceder - Por Pe. Edjamir

A LITURGIA DESTE DOMINGO CELEBRA A SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA APARECIDA, PADROEIRA DO BRASIL. O povo brasileiro experimenta sua presença consoladora, materna e intercessora desde os anos de 1773, quando três pobres pescadores com redes vazias, na aurora de nossa história nacional, insiste pela pesca e lançando as redes no Rio Paraíba do Sul faz acontecer a mesma cena da pesca frondosa narrada pelos evangelhos. Porém, com um detalhe bem significativo, a rede de pesca trazia do fundo do rio uma imagem da Imaculada Conceição toda fragmentada, negra como bem retrata a diversidade de nossa gente, transformando-se em um sinal de fé ao nosso povo: APARECEU A INTERCESSORA.

A atitude de “APARECEU PARA INTERCEDER” está presente nos textos da Liturgia da Palavra proposta para este dia e bem descreve a boa atitude de quem serve a Deus, servindo aos irmãos e sendo (mediadores no Filho): “Quem vos escuta, a mim escuta, quem vos rejeita, a mim rejeita. E quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,16)

NA 1ª LEITURA (Est 5, 1B-2; 7,2B-3) apresenta Ester, uma jovem judia órfã que foi criada pelo seu primo Mordecai, na Pérsia. Na época, a nação de Israel estava sob o exilio do reino persa.

Ester (Hebraico: murta/mirta significa uma flor bonita e popular, termo próximo da expressão estrela, por causa do formato) era uma jovem bonita que encantou o rei e se tornou rainha, tornando-se a segunda esposa do rei Assuero, após sua antecessora, Vasti, ser deposta. Mesmo como rainha, ela manteve sua identidade judaica em segredo, por causa da perseguição que seu povo sofria na época. E dentro desse contexto, Deus suscita nela uma missão de interceder pelo seu povo: “Então, o rei lhe disse, o que me pedes, Ester; o que queres que eu vos faça? (...). Ester respondeu: ‘Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for do teu agrado, concede-me a vida – eis o que pedido! – e a vida de meu povo- eis o meu desejo!’” (7, 2b-3). NO PALÁCIO REAL, ESTER FOI ENCONTRADA INTERCEDENDO PELO SEU POVO E O REI LHE CONCEDE ESTA GRAÇA.

Este texto foi colocado na liturgia de hoje para indicar a missão que foi dada a Virgem Maria, dentro da história da Salvação. A ideia da intercessão é para nos dizer que temos uma mãe que cuida e intercede pelos seus filhos.

O SALMO 44(45), 11-12a. 12b-13. 14-15a. 15b-16. É um cântico dentro de um contexto de núpcias de um rei. A mãe (a rainha) aconselha a princesa (esposa do rei): “Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: ‘esquecei vosso povo e a casa paterna! Que o rei se encante com a vossa beleza! Prestai-lhe homenagem é vosso senhor! (...) OS GRANDES DO POVO VOS PEDEM FAVORES”.

A dimensão esponsal é celebra na bíblia para lembrar que a comunidade de fé (igreja) é a esposa do cordeiro intercede ao Rei/Senhor por grandes favores.

NA 2ª LEITURA (Ap 12, 15.13a.15-16a) descreve um sinal que precisava ser interpretado pela igreja nascente e peregrina na esperança: “Uma mulher vista no céu revestida de sol, tendo a lua debaixo de seus pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”.

Há um texto paralelo no Antigo Testamento onde José disse ter tido um sonho: “Eu vi que o sol, a lua e onze estrelas se prostraram diante de mim” (Gn 37,9). As onze estrelas são os irmãos que se prostravam diante dele lá no Egito.

Se for possível dizer que estas onze estrelas eram os irmãos de José, é possível dizer que esta mulher vestida do sol é a igreja, que as doze estrelas são as tribos de Israel. Mas, também é possível dizer que é a imagem de Maria como ícone de Igreja. Maria e a Igreja compartilham adjetivos, missões, graças...em comum.

O dragão como símbolo a ser decifrado, no contexto que foi escrito, indica as forças opositoras que mesmo fora da história (no céu) agem dentro da história nos poderes totalitários que buscam destruir o Projeto de Deus: a casa comum e a vida humana.

A luta da besta é para instaurar o seu poder perverso e impor a adoração a si: “Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4, 9-11). Essa é a antiga serpente que o Criador decretou “inimizade” entre nós (criatura) e ela (a besta/serpente). Nessa batalha, a mulher já participa, vitoriosa, da glória de Deus.

O EVANGELHO (JO 2, 1-11) nos leva a Caná da Galileia, um povoado entre Cafarnaum e Nazaré.  Essa é a mesma região de Natanael, discípulo de Jesus (cf. Jo 1, 45-51). Dias antes do casamento, Jesus o encontrou.

João diz que a “Mãe de Jesus estava no casamento” (v.1) e que ação messiânica Dele, em seu primeiro sinal, tem uma participação ativa de Maria: APARECE INTERCEDENDO.

João não fala muito dos familiares que deram a festa, mas é possível entender que Jesus e sua mãe eram próximos da família. Também é possível pensar que os discípulos são associados nesta fraternidade.

A igreja nascente (na figura dos discípulos e de Maria) vê os primeiros sinais messiânicos, mas não verá de modo passivo, pois a Mãe de Jesus intervém e intercede: “Eles não têm mais vinho” (v. 3).

“Fazei o que ele vos disser” (v.5), Maria tem um papel ativo na cena messiânica. Ela intercede ao Filho pelo povo, mas também diz ao povo que observem o que Ele diz.

A Festa da Nova Aliança não terá mais o critério do sangue e da carne, como nas genealogias do Antigo Testamento que exaltam a descendências como ponto de convergência da ação de Deus. O Novo testamento ensina que a ação de Deus não se baseia na Lei e na carne; mas na graça, na fé e nas obras do Reino que Jesus trouxe.

“As seis talhas de pedra” (v. 6) indicam o ambiente no nível da religião do Antigo Testamento. A transformação da água em vinho nos leva a um nível profundo que sai dos esquemas rituais para o contexto de vida. Tanto a mediação de Jesus com a intercessão nos santos acontece no contexto das situações reais do povo e não esquemas rituais, legalistas, etc...

É importante dizer que a “intercessão” de Maria e dos santos não é para ser entendida ao lado da “mediação” de Jesus. Na carta de são Paulo a Timóteo, o apóstolo diz que “HÁ UM SÓ MEDIADOR” (cf. 1Tm 2, 5). Agora, dentro do Corpo Místico de Cristo (Igreja) cada pessoa unida a Jesus Cristo (a comunhão dos santos) colabora na obra de Jesus.

É verdade de fé e de justiça que a nossa vida e nossas obras (qualificadas pelo evangelho e pela graça santificante de Jesus Cristo) nos levam ao céu, então, é importantíssimo que aqui na terra já aprendamos a interceder uns pelos outros, falar pelos outros, a romper com a nossa indiferença frente aos sofrimentos dos outros: “batei e vos será aberto, pedi o vos será dado” (cf. Mt 7, 7-11.). ISSO É HUMANO... É SANTIDADE... É INTERCESSÃO... É MISSÃO DE TODOS. É O MISTÉRIO DA INTERCESSÃO NO MISTÉRIO DA COMUNHÃO DOS SANTOS, QUE NÓS CREMOS.

A besta apareceu para vomitar ódio, violência e destruição. Nossa Senhora APARECEU para INTERCEDER, cuidar, zelar e não para aparecer, como muitos fazem em seu narcisismo. Como discípulos da Nova Aliança, aprendamos a estar do lado e interceder pelos que sofrem por qualquer situação na vida.

Em nosso país, há muitas lideranças, e não são poucas, que representam apenas a si mesmas, os interesses das grandes empresas, de famílias ricas, colocando fardos pesados sobre o povo e usando o nome de Deus em vão. Saibamos entender os sinais dos tempos.

Deus abençoe este país tão lindo. Deus abençoe as nossas crianças, que elas sejam respeitadas, amadas e encontrem espaços seguros para poder se desenvolver como pessoas humanas, Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós!

 

Edjamir Silva Souza

Padre e Psicólogo 

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