Hugo Motta coloca em votação de madrugada e Câmara aprova benefício para Bolsonaro.
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| Hugo Motta - Reprodução/Redes Sociais |
A Câmara dos Deputados
aprovou, nesta quarta-feira (10), o projeto que substituiu a anistia ampla e
prevê apenas a redução de penas para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os
demais presos por participação nos ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro
de 2023.
O projeto, relatado pelo
deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), ainda tem que passar pelo
Senado. O presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (União-AP), disse que a
matéria deve ser votada ainda neste ano.
Foram 291 votos a favor ante
148 contrários. Os destaques que poderiam alterar o texto foram rejeitados, em
sessão que terminou às 3h56.
Quando a urgência do projeto
foi aprovada, em setembro, houve 311 votos favoráveis e 163 contrários (com 7
abstenções).
O PL de Bolsonaro votou a
favor e aceitou a redução de penas, embora tenham insistido por meses no perdão
completo. Já o governo Lula (PT) votou contra, seguindo orientação da ministra
Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais). Deputados governistas apresentaram
uma série de questões de ordem para atrasar a votação.
A votação ocorreu na
madrugada, após um dia de confusão na Câmara com a expulsão à força do deputado
Glauber Braga (PSOL-RJ) do plenário –ele ocupou a Mesa em protesto contra seu
processo de cassação. Houve agressões e cerceamento à imprensa por parte da
polícia legislativa.
Como mostrou a Folha, o
projeto terá impacto também sobre outros criminosos, com uma progressão mais
rápida de regime para pessoas consideradas culpadas por coação no curso do
processo, incêndio doloso e resistência contra agentes públicos, entre outros
crimes, de acordo com estudo técnico de três partidos.
Deputados de esquerda usaram
o argumento de que o texto beneficiaria o crime organizado para tentar
derrotá-lo. No plenário, Paulinho negou: “O projeto trata apenas do 8 de
Janeiro, não tem nenhuma possibilidade de esse texto beneficiar crime comum”.
A aprovação ocorre dias após
o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pressionar pela anistia ao dizer que poderia
desistir de ser candidato à Presidência em troca do perdão ao seu pai. O
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), no entanto, disse que
pautou o tema por vontade própria e não para atender a pedido de ninguém.
O texto pode diminuir o
tempo de prisão de Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão na ação
da trama golpista, para 2 anos e 4 meses em regime fechado, segundo o relator e
parlamentares de oposição.
A depender da interpretação,
porém, o projeto pode levar a uma redução menor, para algo entre 3 anos e 4
meses e 4 anos e 2 meses em regime fechado. O patamar esperado pela oposição
dependerá da remição da pena, ou seja, de Bolsonaro reduzir seu tempo preso por
meio de trabalho ou estudo.
Com a condenação atual, o
tempo em regime fechado é estimado entre 6 anos e 10 meses a pouco mais de 8
anos. Em dezembro, a Vara de Execução Penal estimou que o ex-presidente deve
passar para o regime semiaberto em 23 de abril de 2033 –após quase 8 anos.
Reivindicação do
bolsonarismo desde o ano passado, o projeto de uma anistia ampla foi transformado
em redução de penas por Paulinho após um acordo que envolveu a cúpula da
Câmara, controlada pelo centrão, e o STF (Supremo Tribunal Federal). Por um
lado, o centrão se opunha ao perdão total, e o relator, que é próximo de
Alexandre de Moraes, não queria afrontar o Supremo.
Em seu relatório, Paulinho
cita Aristóteles para afirmar que a virtude consiste no meio-termo e que o
equilíbrio é a marca de seu texto. Na tribuna, ele fez um discurso pacificador.
A decisão de Motta de pautar
o projeto de redução de penas nesta terça (9) pegou o relator e os líderes
partidários de surpresa. A medida estava parada na Câmara em meio a um impasse
–o PL insistia na anistia ampla e o Senado não dava sinais de que poderia votar
o projeto em seguida, questões que foram superadas.
Houve um acordo para que os
parlamentares bolsonaristas não tentassem, durante a votação do plenário,
transformar a redução de penas em anistia por meio da apresentação de emendas
ou destaques.
Antes da votação, Motta
afirmou que a “questão da anistia está superada” e que só caberá a redução de
penas. O presidente da Casa disse que queria virar o ano com o assunto
definido.
Segundo aliados, Bolsonaro
deu aval à redução de penas nesta terça. O ex-presidente afirmou que o projeto
não resolveria o problema dele, mas resolveria o de apoiadores.
O líder do PL, deputado
Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que o partido seguirá insistindo no perdão
completo, mas só no ano que vem.
Sóstenes afirmou que os
bolsonaristas não estão satisfeitos, mas resolveram ceder porque o calendário
de votações até o fim do ano está apertado e, com a medida, presos pelo 8 de
Janeiro poderiam passar o Natal fora da prisão.
“Jamais vamos desistir da
anistia, mas o calendário legislativo nos pressiona. É o degrau possível nesse
momento para que as famílias possam dignamente passar o Natal em suas casas”,
disse.
Para o líder do PT,
Lindbergh Farias (RJ), Motta foi influenciado por Flávio. O senador, que se
lançou à Presidência na semana passada, disse que desistiria se houvesse
anistia e a reversão da inelegibilidade para seu pai. Em entrevista à Folha,
Flávio voltou atrás e disse que sua candidatura é irreversível.
Força majoritária na Câmara
dos Deputados, o centrão reagiu mal à candidatura de Flávio, por preferir
Tarcísio de Freitas (Republicanos), e defende a redução de penas em vez da
anistia. Por isso, a fala do senador foi vista como chantagem por políticos
desse grupo.
Já Sóstenes, na mesma linha
de Motta, também negou que a votação tivesse relação com a declaração do
senador. “Foi uma decisão pessoal dele [Motta], sem nenhuma outra
circunstância. Não tem relação [com Flávio] porque nós não vamos votar a
anistia. A condição do senador Flávio foi muito clara: votar a anistia e ter
seu pai na urna. O que estamos votando aqui é um remendo.”
*CAROLINA LINHARES E RAPHAEL DI CUNTO/Folhapress


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