Senado aprova redução da pena de condenados pelo 8/1 e trama golpista. Texto vai para sanção do presidente Lula.
O Senado aprovou nesta quarta-feira (17), em votação nominal,
o projeto de Lei (PL) 2162/2023, o chamado PL da Dosimetria que prevê a redução
de penas de condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e
pela tentativa de golpe de Estado.
Foram 48 votos favoráveis e 25 votos contra. O texto segue
agora para a sanção presidencial.
Os senadores aprovaram o parecer do senador Esperidião Amin
(PP-SC), que reduz as penas dos condenados por atos golpistas. Entre eles, o
ex-presidente Jair Bolsonaro. Mais cedo, o projeto foi aprovado na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
Amin, que é favorável à anistia, defende que a redução das
penas visa “pacificar o país”.
“Somos da posição de que a anistia para os condenados pelos
eventos de 8 de janeiro deveria ser analisada à luz do princípio da unidade
nacional e da função integradora do direito constitucional. A manutenção de
centenas de cidadãos em regime fechado por atos que, embora ilícitos, não
configuraram insurgência armada ou ameaça real à soberania, pode agravar
divisões e comprometer a legitimidade das instituições”, argumentou.
“O perdão apresentar-se-ia como solução juridicamente
possível e politicamente adequada para encerrar um ciclo de tensão e reafirmar
o compromisso do Estado brasileiro com a democracia e a pacificação social”,
concluiu.
O relator acatou uma emenda que determina que a redução será
aplicada apenas aos condenados pelos atos golpistas. O senador considerou a
emenda como apenas um ajuste de redação e não de mérito, para que o projeto não
tenha que retornar à Casa de origem – no caso, a Câmara dos Deputados, que
aprovou a matéria na noite do dia 9 de dezembro.
Um grupo de senadores se manifestou contra o projeto por não
representar o anseio do país.
“Foi urdida uma trama, foi planejado um golpe de Estado no
Brasil e foi tudo coordenado, financiado para que o golpe se concretizasse.
Felizmente, não se concretizou por vários fatores”, disse o senador Marcelo
Castro (MDB-PI).
“Há uma semana, nós votamos aqui a Lei Antifacção,
endurecendo as penas, dificultando a progressão. E, hoje, senhoras e senhores,
nós estamos aqui, incoerentemente, fazendo exatamente o contrário”, finalizou.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o projeto foi
construído para beneficiar um grupo político que atentou contra o Estado
Democrático de Direito.
“Essa é uma proposta casuística, uma norma jurídica que está
sendo criada para beneficiar um grupo, para dar privilégio para um grupo, um
grupo que atentou contra a própria Constituição”, afirmou.
“Nós temos que dar ao Brasil um recado importante de que
golpe de Estado tem que se tratar com dureza, especialmente num processo que
foi totalmente baseado na legalidade, que deu direito de defesa. Um julgamento
que o Brasil inteiro acompanhou, um processo em que provas que foram produzidas
provas materiais e a maior parte delas, produzidas pelos próprios criminosos”,
reiterou.
Senadores do PL defenderam a proposta. O senador Izalci Lucas
(PL-DF) disse que a proposta serve para diminuir penas de pessoas que não
estavam diretamente envolvidas na trama e que receberam duras condenações.
“Nós precisamos votar essa matéria para virar essa página e
tirar essas pessoas: o pipoqueiro, o vendedor de bala, que foi condenado há
oito anos, 14 anos”, disse.
“Eu sou a favor da anistia, mas vamos aprovar a redução de
pena para tirar os manifestantes da cadeia. Isso é o mais importante”, afirmou
o senador Sergio Moro (União-PR).
O que é o PL da Dosimetria?
O PL da Dosimetria determina que os crimes de tentativa
contra o Estado Democrático de Direito e de golpe de Estado, quando praticados
no mesmo contexto, implicarão no uso da pena mais grave em vez da soma de ambas
as penas.
O foco do projeto é uma mudança no cálculo das penas,
“calibrando a pena mínima e a pena máxima de cada tipo penal, bem como a forma
geral de cálculo das penas, reduzindo também o tempo para progressão do regime
de prisão fechado para semiaberto ou aberto.
Tais mudanças poderão beneficiar réus como o ex-presidente
Jair Bolsonaro, além dos militares Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; Walter Braga Netto, ex-ministro
da Casa Civil; e Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI).
Repercussão
No dia 10 de dezembro, o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União-AP), enviou o PL da Dosimetria à Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ), tendo, como relator, o senador Esperidião Amim (PP-SC) –
apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No dia seguinte, ao ser perguntado sobre o projeto, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que só decidirá se vai sancionar
quando o texto chegar ao Poder Executivo.
Manifestantes foram às ruas de diversas cidades no último
domingo (14) contra a aprovação do PL da Dosimetria.
Especialistas consultados pela Agência Brasil avaliaram que o
PL da Dosimetria poderá diminuir o tempo de progressão de pena para outros
condenados por crimes comuns.
Agência Brasil


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