Em sessão tumultuada, Câmara aprova texto-base de MP do ajuste.

Conforme acordo feito pelo
presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com líderes partidários, duas
propostas de alteração da MP serão votadas nominalmente nesta noite. Outros
destaques e emendas serão analisados em sessão nesta quarta (7).
Considerada pelo governo como
necessária para o ajuste fiscal que visa reequilibrar as contas públicas, a
medida provisória 665 foi editada em dezembro de 2014 pela presidente Dilma
Rousseff juntamente com a MP 664, que restringe o acesso à pensão por morte – a
664 foi aprovada nesta terça em comissão especial e deverá ser votada depois da
665.
A aprovação do texto principal da
proposta na Câmara só se tornou viável depois que a bancada do PT oficializou
em nota que “fechou questão” em defesa das medidas provisórias de ajuste
fiscal. A posição mais “enfática” do partido era uma reivindicação do PMDB, que
temia levar sozinho o ônus político por viabilizar o endurecimento das regras
de obtenção de benefícios previdenciários.
Após a aprovação da MP,
parlamentares em plenário começaram a cantar: “PT pagou com traição a quem
sempre lhe deu a mão”.
Conforme os registros de votação da
Câmara, 54 dos 64 deputados da bancada do PT votaram a favor da medida
provisória. Um petista, o deputado Welinton Prado (MG-SP), votou contra a MP,
outros nove parlamentares da bancada não registraram voto. Eles precisarão
apresentar atestado médico para comprovar a necessidade de ausência ou terão a
remuneração referente a esta terça (6) cortada.
O texto-base aprovado pelos
deputados é o relatório do senador Paulo Rocha (PT-PA), votado no dia 29 de
abril pela comissão especial criada para analisar matéria. A proposta é mais
branda que a versão original da MP, já que estabelece prazos menores para a
concessão do seguro-desemprego.
Pelo texto aprovado pela Câmara, o
trabalhador terá direito ao seguro-desemprego se tiver trabalhado por pelo
menos 12 meses nos últimos dois anos. O prazo inicial proposto pelo governo era
de 18 meses. Antes, o trabalhador precisava de apenas seis meses.
Para poder pedir o benefício pela
segunda vez, o projeto estipula que o trabalhador tenha nove meses de
atividade. Antes, esse prazo exigido era de seis meses de trabalho, e o governo
queria ampliar para 12 meses. A proposta mantém a regra prevista na MP (seis
meses) se o trabalhador requisitar o benefício pela terceira vez.
Em relação ao abono salarial, o
texto prevê que o trabalhador que recebe até dois salários mínimos deverá ter
trabalhado por três meses para ter direito ao benefício. O texto do Executivo
exigia seis meses.
O abono salarial equivale a um
salário mínimo vigente e é pago anualmente aos trabalhadores que recebem
remuneração mensal de até dois salários mínimos. Atualmente o dinheiro é pago a
quem tenha exercido atividade remunerada por, no mínimo, 30 dias consecutivos
ou não, no ano.
O texto aprovado na Câmara mantém o
pagamento ao empregado que comprovar vínculo formal de no mínimo 90 dias no ano
anterior ao do pagamento. Paulo Rocha explicou que a regra seguirá a mesma
linha de pagamento do 13º salario. Por exemplo, quem trabalhou um mês ou cinco
meses receberá respectivamente 1/12 e 5/12 do abono, explicou o senador.
Para o seguro-defeso, pago ao
pescador durante o período em que a pesca é proibida, o foi mantida a regra
vigente antes da edição da medida provisória- o pescador necessita ter ao menos
um ano de registro na categoria. A intenção do governo era aumentar essa
exigência para três anos.
Com relação ao abono salarial, foi
mantido o pagamento ao empregado que comprovar vínculo formal de no mínimo 90
dias no ano anterior ao do pagamento. Paulo Rocha explicou que a regra seguirá
a mesma linha de pagamento do 13º salario. Por exemplo, quem trabalhou um mês
ou cinco meses receberá respectivamente 1/12 e 5/12 do abono, explicou o
senador.
Sindicalistas
Sindicalistas da Força Sindical
ocuparam as galerias durante as primeiras horas de votação da medida
provisória, mas foram retirados do recinto depois de jogar dezenas de papéis
que imitam cédulas de dólar e gritaram palavras de ordem contra o PT.
Os papéis jogados pelos
sindicalistas trazem imagens da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso na
Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Em cada cédula, há a foto de um dos
três políticos, com a palavra “PETRO DÓLAR”.
Entre as palavras de ordem gritadas
pelos sindicalistas estava: “Fora, PT” e “trabalhador unido jamais será
vencido”. Após a retirada, por seguranças, dos manifestantes do plenário, Cunha
retomou a sessão de votação da medida provisória. No entanto, pouco depois uma
discussão entre três deputados gerou nova suspensão.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP)
manifestava seu posicionamento sobre a medida provisória quando o deputado
Roberto Freire (PPS-SP) tocou o colega com as mãos pelas costas. Silva reagiu:
"Não toque em mim, não toque em mim". Em seguida, a deputada Jandira
Feghali (PCdoB-RJ), que estava ao lado de ambos, criticou Freire e o acusou de
tê-la empurrado.
Em meio à confusão que se formou no
plenário, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) foi a um dos microfones, contestou
a acusação da deputada e disse que “mulher que bate como homem, tem que apanhar
como homem também".
"Ninguém pode se prevalecer da
posição de mulher para querer agredir quem quer que seja. E eu digo sempre que
mulher que participa da política e bate como homem, tem que apanhar como homem
também. É isso mesmo, presidente", afirmou Fraga, o que gerou tumulto em
plenário e a suspensão da sessão por mais alguns minutos.
Jandira Feghali afirmou aos
jornalistas, posteriormente, que vai protocolar requerimento contra Fraga por
quebra de decoro parlamentar e que avalia processá-lo judicialmente.
Discussão
A previsão era de que a MP 665 fosse
votada nesta terça (5), mas, em uma manobra que surpreendeu o PT, o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), inverteu a pauta do plenário para analisar
antes da PEC da Bengala, proposta de emenda à Constituição que eleva de 70 para
75 anos a idade de aposentadoria compulsória de ministros de tribunais
superiores.
Durante a discussão da PEC, o líder
do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), anunciou que o partido não mais apoiaria as
chamadas MPs do ajuste fiscal. A decisão, segundo ele, foi motivada pelo
pronunciamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cadeia nacional de
rádio e TV, em que o petista criticou a aprovação pelos deputados do projeto de
lei que regulamenta contratos de terceirização.
A avaliação do peemedebista era de
que PT e governo “posam” de defensores do trabalhador, enquanto pedem que a
base aliada aprovem propostas que restringem direitos previdenciários. Após o
posicionamento do PMDB, os deputados petistas realizaram uma reunião nesta
quarta-feira (6) e divulgaram nota oficial oficializando o fechamento de
questão em torno das medidas provisórias.
“Fechamos questão no apoio integral
aos PLVs da 665 e 664. É um interesse hoje do país, pelas razões que já foram
apresentadas, a necessidade do ajuste na economia”, anunciou o líder do PT,
Sibá Machado (AC), da tribuna da Câmara. Enquanto discursava, o petista foi
vaiado por sindicalistas presentes às galerias da Casa. O líder do governo, José
Guimarães (CE), e o presidente da Câmara pediram silêncio aos manifestantes.
Guimarães também subiu à tribuna
para destacar que o governo apoia as medidas de restrição aos benefícios
previdenciários previstas nas MPs. “O governo quer votar a matéria, o governo
tem interesse em colocar suas digitais. Não há problema nenhum entrarmos em
debate de mérito sobre a importância dessa medida.” Já a oposição utilizou
instrumentos previstos no regimento para postergar ao máximo a votação. Para
PPS, DEM e PSDB, as medidas provisórias prejudicam o trabalhador. O deputado
Bruno Araújo (PSDB-CE) questionou a ausência de sindicalistas da Central Única
dos Trabalhadores, sindicato que fez uma grande mobilização contra o projeto de
lei que regulamenta terceirização- proposta apoiada pela oposição e pelo PMDB,
mas criticada pelo PT.
“A CUT traz uma cota pequena de seus
sindicalizados. Aliás, não se ouve a CUT. Vamos assumir uma posição enfática
contra a medida provisória. Queremos ver a CUT nas ruas. Essa posição é de
verdade ou de mentirinha?”, questionou.
“Estamos tirando dinheiro do
trabalhador brasileiro para cobrir o rombo fiscal do país”, criticou o líder do
PPS, Rubens Bueno (PR).
G1
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