CORRUPÇÃO NO FUTEBOL PARAIBANO: 'Quem escolhe o árbitro é o dirigente do clube', diz denunciante da Operação Cartola.
Cinco árbitros denunciaram à
Polícia Civil e ao Ministério Público da Paraíba o esquema fraudulento de
manipulação de resultados no futebol profissional da Paraíba. “Você só
trabalhava se fizesse parte da banda podre da arbitragem. Quem escolhe o
árbitro é o dirigente do clube”, revelou um dos denunciantes, que preferiu não
se identificar.
A Operação Cartola foi
deflagrada na última segunda-feira (9) e cumpriu 39 mandados de busca e
apreensão nas cidades de João Pessoa, Bayeux, Cabedelo, Campina Grande e
Cajazeiras. São pelo menos 80 pessoas investigadas, entre elas membros da
Federação Paraibana de Futebol (FPF), Comissão Estadual de Arbitragem da
Paraíba (CEAF), Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba (TJD/PB) e dirigentes
de clubes de futebol profissional da Paraíba.
Segundo os árbitros que
denunciaram o esquema, aquele escolhido para apitar a partida recebia propina
para garantir a vitória do time corrupto do campeonato paraibano. Uma partida
que permitia a possibilidade de uma classificação, poderia custar de R$ 30 mil
a R$ 35 mil, enquanto um jogo sem classificação em cheque custava de R$ 10 mil
a R$ 12 mil.
11 de fevereiro de 2018,
Botafogo-PB x CSP
O jogo cumpria a tabela da
primeira fase do campeonato paraibano, em João Pessoa, e terminou em um empate
de 3 a 3. No fim do jogo, objetos foram arremessados no campo. O árbitro do
jogo foi Francisco Santiago. À CBN, rádio que transmitia o jogo, ele disse que
os objetos foram arremessados pela torcida botafoguense e que colocaria na
súmula do jogo. No entanto, o Botafogo-PB não recebeu nenhuma punição. A
Polícia Civil já tem informações de que depois do jogo, dirigentes do
Botafogo-PB pressionaram o presidente da Comissão de Arbitragem da Paraíba,
José Renato Soares que, por sua vez, mandou o árbitro não colocar nenhum
problema na súmula da partida. “A equipe de arbitragem não conseguiu identificar
a torcida responsável pelos arremessos”, informou Francisco Santiago na súmula.
A reportagem do Fantástico tentou contato com o árbitro, mas as ligações não
foram atendidas.
25 de fevereiro de 2018,
Nacional x CSP
Os times se enfrentavam pela
penúltima rodada da primeira fase do campeonato paraibano. Segundo a Polícia
Civil, para conseguir uma classificação melhor, dirigentes do Botafogo-PB
queriam que o CSP vencesse a partida. Minutos antes do sorteio, determinaram
que o juiz fosse João Bosco Sátiro. O árbitro foi para o jogo e quanto a
partida estava 0 a 0, ele anulou um gol do Nacional, alegando impedimento. O
CSP venceu a partida por 2 a 0. O juiz não foi localizado pela reportagem.
15 de março de 2018,
Botafogo-PB x Sousa
O jogo valia uma vaga para
as semifinais. Aos 11 minutos do primeiro tempo, o árbitro Antônio Carlos
Rocha, também investigado por fazer parte do esquema, ele marcou um pênalti
para o Botafogo-PB, levando o time para a semifinal do campeonato. Segundo o
ex-árbitro Ulisses Tavares da Silva, que analisou o lance, o jogador que teria
recebido a falta não foi tocado pelo jogador do Sousa. O Botafogo-PB fez o gol
e ganhou a partida por 3 a 1. O juiz não quis gravar entrevista.
Na Paraíba, os sorteios dos
árbitros para as partidas são gravados pela Comissão de Arbitragem e ficam
disponíveis na internet. Mas, segundo o delegado Lucas Sá, “é um mero teatro. O
que é sorteado alí está atendendo diretamente os pedidos dos dirigentes”,
revelou.
Lucas Sá ainda afirma que
todas as vezes que um dirigente solicitava um determinado juiz para a partida
ao presidente da Comissão de Arbitragem, esse perdido era atendido. “A gente
tem fatos concretos que o próprio presidente da Comissão garante que aquele
árbitro vai ser sorteado”, ressalta.
O presidente da CEAF, José
Renato, nega as acusações. “Ninguém admite tratativas que venham relacionar a
qualquer tipo de manipulação de resultados. Isso pra mim é um absurdo”,
declara.
A Federação Paraibana de
Futebol (FPF) diz que não pensa em cancelar nenhum campeonato e quer que os
culpados sejam identificados.
De acordo com o advogado da
FPF, Hilton Souto Maior, a operação foi iniciada a partir de informações falsas
repassadas pelo vice-presidente da federação, que está em uma briga política
com o atual presidente. Ainda de acordo com o advogado da FPF, o último
balancete da federação foi aprovado pela Confederação Brasileira de Futebol
(CBF). O vice-presidente Nosman Barreiro, em nota, informou que não é alvo da
operação e foi um dos responsáveis pela denúncia.
Chefes do esquema criminoso
de manipulação de resultados
De acordo com o Grupo de
Ação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), foi possível identificar
dois núcleos na organização criminosa:
Primeiro núcleo: considerado
o líder do esquema, formado por membros da FPF, CEAF e dirigentes de clubes de
futebol profissional, que “conta com uma sofisticada rede de proteção, elevado
grau de articulação institucional”.
Segundo núcleo: formado por
membros executores ligados à CEAF (arbitragem), funcionários da FPF e de clubes
de futebol, que atuam a mando do primeiro núcleo, de acordo com o Ministério
Público.
Os campeonatos de futebol da
Paraíba de 2011 a 2018 estão sob suspeita de fraude, de acordo com o delegado
Lucas Sá. Os três maiores clubes da Paraíba foram campeões nestes anos. O Treze
venceu em 2011, o Campinense ganhou em 2012, 2015 e 2016 e o Botafogo-PB venceu
em 2013, 2014, 2017 e 2018.
G1
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