Leto Viana, ex-prefeito de Cabedelo, confessa à PF esquema para compra de mandato.
Preso
na 'Xeque-Mate' confirmou corrupção na prefeitura e participação do empresário
Roberto Santiago, que também está preso, para comprar mandato de Luceninha.
O
ex-prefeito de Cabedelo, Leto Viana, confessou à Polícia Federal o esquema que
resultou na compra do seu mandato junto ao ex-prefeito Luceninha e detalhou
como funcionou a organização. A confissão foi feita na Superintendência da PF
em Cabedelo, na Grande João Pessoa, no dia 9 de abril deste ano, mas o
documento só veio a público nesta segunda-feira (29). A Polícia Federal
indiciou Leto e outros 17 investigados na Operação Xeque-Mate.
Nos
depoimentos prestados à Polícia Federal, Leto Viana detalhou sobre a operação
para a compra do mandato de Luceninha. Contou como se deu a participação do
empresário Roberto Santiago, atualmente preso. Tratou da articulação feita pelo
radialista Fabiano Gomes, durante a articulação, e citou propina paga ao atual
prefeito de Cabedelo, Vitor Hugo, que era vereador à época dos fatos.
O
advogado de Leto Viana, Jovelino Delgado, informou à produção da TV Cabo Branco
que só irá se posicionar por meio de nota, que deve ser emitida nesta
terça-feira (30). O prefeito Vitor Hugo negou as declarações e disse que Leto
Viana não possui provas. O radialista Fabiano Gomes afirmou que confia no
trabalho da Justiça e que sua participação no esquema foi simples. A defesa do
empresário Roberto Santiago criticou o "vazamento proposital de
informações prestadas por um pseudo-delator mentiroso" e declarou
confiança na Justiça.
Depoimento
de Leto Viana
Segundo
depoimento do ex-prefeito, Roberto Santiago comprou o mandato de Luceninha por
meio de cheques, pois estava descapitalizado após a construção do Mangabeira
Shopping. Os canhotos apreendidos na primeira fase da Operação Xeque-Mate
corresponde ao cheques emitidos pelo empresário como garantia para compra do
mandato.
Leto
Viana reafirmou que o único interesse de Santiago na compra do mandato era de
impedir a construção do Shopping Pátio Intermares na cidade de Cabedelo. O
ex-prefeito ainda implicou outros indiciados pela Polícia Federal. Leto
confirmou que o radialista Fabiano Gomes, Olívio Oliveira e Lucas Santino, este
último vereador de Cabedelo à época, aplicaram um golpe em Luceninha ao saberem
da venda do mandato.
“Fabiano
Gomes recebia R$ 30 mil mensais (posteriormente R$ 20 mil) por sua participação
na compra do mandato e também para dar cobertura na imprensa contrária à construção
do Shopping Pátio Intermares”, contou Leto Viana ao delegado da Polícia
Federal, Fabiano Emídio de Lucena.
Olívio
Oliveira, por sua vez, ganhava R$ 5 mil por mês também pela intermediação na
compra do mandato de Luceninha. O pagamento a Fabiano Gomes e a Olívio
Oliveira, de acordo com a confissão do ex-prefeito, era feito a partir de um
outro esquema de corrupção decorrente da fraude na contratação de empresas para
coleta de lixo.
O
empresário Roberto Santiago passou a exigir uma contrapartida de R$ 100 mil por
mês à Prefeitura de Cabedelo após a compra do mandato. O dinheiro era
decorrente justamente das fraudes nas contratações das empresas que faziam a
coleta de lixo na cidade portuária da Paraíba.
Esquema
do lixo
A
confissão de Leto Viana também confirmou o que já havia sido encontrado pela
Polícia Federal e pelo Gaeco durante as investigações da Xeque-Mate. Roberto
Santiago passou a articular esquemas de beneficiamento a partir da contratação
de coleta de lixo, inclusive fazendo uma espécie de leilão para escolher a
empresa que passaria a ser responsável pela coleta.
Desvio
de salário de funcionários
O
ex-prefeito de Cabedelo, preso na Xeque-Mate, ainda confirmou um esquema de
desvio de salário de funcionários da prefeitura. Conforme o documento de
confissão, alguns servidores que recebiam R$ 10 mil de salário bruto, cerca de
R$ 7,7 mil líquido, ficavam com R$ 3 mil e devolviam a diferença para o
prefeito. O documento cita nominalmente 14 servidores que estavam implicados no
esquema de repasse de parte do salário.
Envolvimento
do atual prefeito
Leto
Viana, em sua confissão, afirma que o atual prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo
(PRP), então vereador na época, recebia mensalmente R$ 3 mil diretamente de
suas mãos. O dinheiro era proveniente justamente do esquema de desvio dos
salários do servidores. Ainda de acordo com ex-prefeito, que segue preso, Vitor
Hugo recebeu R$ 20 mil para aderir à sua base de apoio na Câmara de Vereadores
de Cabedelo.
O
documento que registra a confissão ratifica o esquema de compra de apoio com os
vereadores de Cabedelo. Segundo Leto, cada um dos vereadores da base de apoio
parlamentar indicaram uma pessoa para ser nomeado em um cargo comissionado de
R$ 5 mil de salário. O ex-prefeito detalha ainda outros valores mensais pagos
aos vereadores da base para manutenção do apoio.
Propina
de deputado federal
Outra
acusação feita pelo ex-prefeito durante sua confissão foi de que recebeu
propina da empresa Almed duas vezes, nos valores de R$ 200 mil e R$ 120 mil,
valores que foram usados para sua campanha de reeleição em 2016. As empresas em
questão tinham sido beneficiadas por meio de Atas de Registros de Preços feitas
pela Prefeitura de Cabedelo.
Ainda
no tocante à área de saúde, Leto Viana acusou o ex-deputado federal André
Amaral (Pros) de cobrar propina para liberar uma emenda parlamentar. O
pagamento da contrapartida então foi feita a partir de uma dívida que a
Prefeitura de Cabedelo tinha com a empresa Fort. A Prefeitura de Cabedelo pagou
parte da dívida que tinha de R$ 350 mil à empresa, que, por sua vez, repassou
R$ 100 mil ao então deputado federal André Amaral, mais especificamente ao pai
do ex-deputado.
Barrar
construção de shopping
Por
fim, o documento de registro da confissão de Leto Viana confirma o pagamento de
valores por parte do empresário Roberto Santiago aos vereadores de Cabedelo
para impedir a construção do Shopping Pátio Intermares. O ex-prefeito lista
nominalmente todos os vereadores que receberam propina do empresário, os
valores repassados a cada um deles em duas distribuições nos anos de 2012 e
2014.
Entenda
a 'Xeque-Mate'
A
operação Xeque-Mate foi deflagrada com o objetivo de desarticular um esquema de
corrupção na administração pública de Cabedelo, na Grande João Pessoa, mais
precisamente na Câmara Municipal e na Prefeitura. A ação foi coordenada pela
Polícia Federal, em conjunto com o Grupo de Atuação Especial contra o Crime
Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba.
A
operação moveu algumas peças na gestão da cidade e modificou, rapidamente, a
administração da cidade. Além disso, alguns vereadores que haviam sido
escolhidos na eleição passada, foram presos ou afastados, com novos nomes
assumindo as cadeiras da Câmara.
O
prefeito afastado e preso de Cabedelo, Leto Viana (PRP), foi identificado como
líder da organização criminosa. O coordenador do Grupo de Atuação Especial
contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba, Octávio
Paulo Neto, afirmou que Leto coagia os vereadores para tomarem decisões que ele
quisesse.
Equipes
da Polícia Federal também cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do
empresário Roberto Santiago, em João Pessoa. Segundo a PF, há indícios de que
houve a compra de vereadores de Cabedelo para impedir a construção do shopping
Pátio Intermares.
A
Polícia Federal cumpriu 11 mandados de prisão preventiva, 15 sequestros de
imóveis e 36 de mandados busca e apreensão expedidos pelo Tribunal de Justiça
da Paraíba. Além dos mandados, a Justiça decretou o afastamento cautelar do
cargo de 85 servidores públicos, incluindo o prefeito e o vice-prefeito de
Cabedelo, e o presidente da Câmara Municipal. Todos os 11 alvos de mandados de
prisão foram detidos.
Por
G1 PB
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