PF aponta pagamento de R$ 5,5 milhões em propina a líder do governo Bolsonaro.
Foto: Pedro França/Agência Senado |
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) –
A Polícia Federal aponta que o líder do governo de Jair Bolsonaro no Senado,
Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE), recebeu R$ 5,5 milhões em propinas de
empreiteiras encarregadas das obras de transposição do Rio São Francisco e de
outros contratos do Executivo federal.
A negociação e o repasse dos
valores teriam ocorrido de 2012 a 2014, época em que Bezerra Coelho era
ministro da Integração Nacional na gestão de Dilma Rousseff (PT) e integrava o
PSB.
Além do senador, também
teria sido destinatário de subornos o filho dele, Fernando Bezerra Coelho Filho
(DEM-PE), suposto beneficiário de R$ 1,7 milhão.
Bezerra Coelho, o filho e
outros investigados foram alvos de ações de busca e apreensão da PF nesta
quinta (19), determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz
Roberto Barroso.
As investigações da PF se
deram a partir das delações premiadas de empreiteiros e dos empresários João
Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite e Arthur Roberto
Lapa Rosal.
As apurações sobre Mello
Filho começaram após a PF descobrir, na Operação Turbulência, que ele era o
dono do avião que caiu em 2014, matando o ex-governador pernambucano e então
candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos. No correr do inquérito,
identificaram-se supostas operações financeiras ilícitas das empresas dele.
Mello Filho e os outros dois
colaboradores contaram ter feito o “pagamento sistemático de vantagens
indevidas” a Bezerra Coelho e ao seu filho por ordem das empreiteiras OAS,
Barbosa Mello, Paulista e Constremac Construções, envolvidas nas obras da
transposição e em outros projetos do governo federal.
A pasta da Integração,
comandada por Bezerra, era a responsável pela construção dos canais que levam
água do rio São Francisco para outras regiões do semiárido nordestino. Para
ocultar a origem ilícita dos recursos, pai e filho teriam se valido de um esquema
de lavagem de dinheiro, envolvendo empresários, operadores e outros políticos e
pessoas jurídicas.
O pedido de busca e
apreensão em endereços de Bezerra e dos demais investigados partiu da PF, mas a
então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, discordou da ação contra o
senador.
Dodge alegou que “não há
indícios de que ele registrasse os atos praticados, pois, ao contrário, adotou
todas as medidas para manter-se longe deles, de modo que a medida invasiva terá
pouca utilidade prática”.
O ministro Barroso, no
entanto, não considerou o argumento “convincente”. “Na criminalidade organizada
econômica, o natural é que todos os envolvidos tentem ocultar provas e não
evitar deixar registros de seus atos. A medida cautelar serve justamente para
tentar encontrar documentos mantidos sigilosamente, longe dos olhos do público
e das autoridades de investigação”, justificou, em sua decisão.
A ordem do ministro é do dia
9 deste mês, em meio à crise deflagrada após o presidente Jair Bolsonaro
declarar que trocará postos de comando da PF.
Barroso não autorizou o
bloqueio de bens de Bezerra e do filho, por considerar a medida prematura. Ele
liberou a PF para intimar os alvos da operação a prestar depoimentos nesta
quinta, caso estejam dispostos.
Alvo de operação da Polícia
Federal, Bezerra Coelho comandou o Ministério da Integração de 2011 a 2013,
durante o governo de Dilma Rousseff (PT), quando Eduardo Campos rompeu com o PT
para começar sua campanha presidencial e obrigou o PSB a entregar todos os
cargos.
Um dos focos da investigação
da PF desta quinta-feira são as obras de transposição do rio São Francisco. A
transposição é a maior obra hídrica do Brasil.
O eixo leste foi inaugurado
às pressas e, o Norte segue sem previsão para conclusão. O orçamento inicial de
toda a obra saltou de R$ 4,5 bilhões para R$ 12 bilhões.
A obra, sempre apontada como
a redenção do Nordeste a partir do beneficiamento de 12 milhões de pessoas e do
impulsionamento de um novo modelo econômico, hoje apresenta sinais visíveis de
deterioração, como mostrou o jornal Folha de S. Paulo em reportagem no início
deste mês: paredes de concreto rachadas, estações de bombeamento paralisadas,
barreiras de proteção rompidas, sistema de drenagem obstruído e assoreamento do
canal em alguns trechos.
Devido aos atropelos gerados
pela conveniência do prazo político, o empreendimento hídrico não suportou
entrar em funcionamento antes do tempo.
Foi inaugurado sem nem
sequer ter a drenagem completamente executada e o sistema operacional de
controle implantado.
O eixo leste, que corta
Pernambuco e Paraíba, foi inaugurado às pressas pelo ex-presidente Michel Temer
(MDB), em março de 2017, e logo em seguida, de maneira simbólica, pelos
petistas Lula e Dilma Rousseff.
A água sumiu há cinco meses
e parte da região, que vislumbrou o fim da indústria da seca, continua sendo
abastecida por carros-pipas.
FÁBIO FABRINI E WILLIAM
CASTANHO
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