Mulheres guerreiras: 8 de março – Dia Internacional da Mulher.
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O Dia Internacional da Mulher foi oficializado em 8 de Março pela ONU em 1975 |
O Dia Internacional da
Mulher é uma data comemorativa que foi oficializada pela Organização das Nações
Unidas na década de 1970. Essa data simboliza a luta histórica das mulheres
para terem suas condições equiparadas às dos homens. Inicialmente, essa data remetia
à reivindicação por igualdade salarial, mas, atualmente, simboliza a luta das
mulheres não apenas contra a desigualdade salarial, mas também contra o
machismo e a violência.
História do Dia
Internacional da Mulher
O Dia Internacional da
Mulher existe, enquanto data comemorativa, como resultado da luta das mulheres
por meio de manifestações, greves, comitês etc. Essa mobilização política, ao
longo do século XX, deu importância para o 8 de março como um momento de reflexão
e de luta. A construção dessa data está relacionada a uma sucessão de
acontecimentos.
Uma primeira história que
ficou muito conhecida como fundadora desse dia narra que, em 8 de março de
1857, 129 operárias morreram carbonizadas em um incêndio ocorrido nas
instalações de uma fábrica têxtil na cidade de Nova York. Supostamente, esse
incêndio teria sido intencional, causado pelo proprietário da fábrica, como
forma de repressão extrema às greves e levantes das operárias, por isso teria
trancado suas funcionárias na fábrica e ateado fogo nelas. Essa história,
contudo, é falsa e, por isso, o 8 de março não está ligado a ela.
Existe, no entanto, outra
história que remonta a um incêndio que de fato aconteceu em Nova York, no dia
25 de março de 1911. Esse incêndio aconteceu na Triangle Shirtwaist Company e
vitimou 146 pessoas, 125 mulheres e 21 homens, sendo a maioria dos mortos
judeus. Essa história é considerada um dos marcos para o estabelecimento do Dia
das Mulheres.
As causas desse incêndio
foram as péssimas instalações elétricas associadas à composição do solo e das
repartições da fábrica e, também, à grande quantidade de tecido presente no
recinto, o que serviu de combustível para o fogo. Além disso, alguns
proprietários de fábricas da época, incluindo o da Triangle, trancavam seus
funcionários na fábrica durante o expediente como forma de conter motins e
greves. No momento em que a Triangle pegou fogo, as portas estavam trancadas.
Influência do movimento
operário
O acontecimento em Nova York
é significativo, pois evidenciou a precariedade do trabalho no contexto da
Revolução Industrial. Isso, no entanto, não pode apagar a influência da luta
operária e dos movimentos políticos organizados pelas mulheres. Sendo assim, é
importante afirmar que o Dia Internacional da Mulher não foi criado por
influência de uma tragédia, mas sim por décadas de engajamento político das
mulheres pelo reconhecimento de sua causa.
Em 1910, na cidade de
Copenhague, ocorreu o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, que
foi apoiado pela Internacional Comunista. Nesse evento, Clara Zetkin, membro do
Partido Comunista Alemão, propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher,
sem, entretanto, estipular uma data específica.
Essa proposta era fruto
tanto do feminismo, que ascendia naquela época, quanto das correntes
revolucionárias de esquerda, como o comunismo e o anarquismo. Clara Zetkin era
engajada com campanhas que defendiam o direito das mulheres no âmbito
trabalhista. Sua proposta visava a possibilitar que o movimento operário
pudesse dar maior atenção à causa das mulheres trabalhadoras.
O incêndio de 1911 viria a
ser sugerido, nos EUA, como dia simbólico das mulheres (tal como sugerido por
Clara Zetkin). A maioria dos movimentos reivindicavam melhorias nas condições
de trabalho nas fábricas e, por conseguinte, a concessão de direitos
trabalhistas e eleitorais (entre outros) para as mulheres.
Vários protestos e greves já
ocorriam na Europa e nos Estados Unidos desde a segunda metade do século XIX. O
movimento feminista e as demais associações de mulheres capitalizaram essas
manifestações, de modo a enquadrá-las, por vezes, à agenda revolucionária. Foi
o que aconteceu em 08 de março de 1917, na Rússia.
O ano de 1917, na Rússia,
foi fortemente marcado pelo ciclo revolucionário que derrubou a monarquia
czarista. Nesse clima de agitação revolucionária, as mulheres trabalhadoras do
setor de tecelagem entraram em greve, no dia 8 de março, e reivindicaram a
ajuda dos operários do setor de metalurgia. Essa data entrou para a história
como um grande feito de mulheres operárias e também como prenúncio da Revolução
Bolchevique.
Dia Internacional da Mulher
Após a Segunda Guerra
Mundial, o dia 08 de março tornou-se aos poucos o símbolo principal de
homenagens às mulheres (em virtude da greve das russas). Também foi associado
ao mês de março, a partir de então, o evento do incêndio em Nova York, ocorrido
no dia 25, como narrado anteriormente.
A partir dos anos 1960, a
comemoração do dia 8 de março já tinha se tornado tradicional, mas foi
oficializada pela ONU apenas em 1975, quando essa organização declarou o Ano
Internacional das Mulheres, como uma ação voltada ao combate das desigualdades
e discriminação de gênero em todo mundo. Como parte desses esforços, o dia 8 de
março foi oficializado como o Dia Internacional da Mulher.
Importância do Dia da Mulher
O Dia Internacional da
Mulher não é um mero dia voltado simplesmente a homenagens triviais às
mulheres, mas diz respeito a um convite à reflexão referente a como a nossa
sociedade as trata. Essa reflexão vale tanto para o campo do convívio afetivo,
familiar e social quanto para as questões relacionadas ao mercado de trabalho.
Inúmeros estudos comprovam
que ainda hoje as mulheres sofrem com a desigualdade no mercado de trabalho em
relação aos homens. A presença das mulheres no mercado de trabalho ainda é
menor do que a dos homens, uma vez que dados de 2018 apontam que, no mundo,
apenas 48% das mulheres maiores de 15 anos estão empregadas – para os homens,
esse número é de 75%.
Atualmente, menos de 70% dos
homens concordam com o fato de que muitas mulheres preferem trabalhar a ficar
em casa cuidando de serviços domésticos. As mulheres ainda sofrem prejuízos no
mercado de trabalho por engravidarem, uma vez que o número de mulheres que abandonam
o seu trabalho por conta de seus filhos chega a 30%, enquanto que somente 7%
dos homens abandonam seus empregos pelo mesmo motivo.
Para agravar essa situação,
metade das mulheres que engravidam perdem seus empregos quando retornam da
licença-maternidade e ainda, em pleno século XXI, existem aqueles que defendem
que mulheres devem ganhar menos, simplesmente por poderem engravidar. Isso,
inclusive, é uma realidade no Brasil, pois as mulheres recebem, em média, 20%
menos que os homens.
Todas essas estatísticas
demonstram como o preconceito de gênero prejudica as mulheres no mercado de
trabalho. As mulheres, no entanto, não têm a sua vida prejudicada somente no
mercado de trabalho, uma vez que a violência de gênero, o abandono que muitas
sofrem de seu parceiro durante a gravidez e os assédios são realidades que
muitas mulheres sofrem.
O 8 de março é um dia para
reflexão a respeito de toda a desigualdade e a violência que as mulheres sofrem
no Brasil e no mundo. É um momento para combater o silenciamento que existe e
que normaliza a desigualdade e as violências sofridas pelas mulheres, além de
ser um momento para repensar atitudes e tentar construir uma sociedade sem
desigualdade e preconceito de gênero.
Por Daniel Neves e Cláudio
Fernandes - Professores de História
Fonte: Brasil Escola
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