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Ajuda chega a Manaus, mas cenário ainda preocupa autoridades.

Créditos: Força Aérea Brasileira - Twitter

Estoque de oxigênio começa a aumentar no Amazonas, mas autoridades locais temem que não seja o suficiente para tirar a rede de saúde do estado de um estágio de colapso tão rapidamente. Governador diz ser difícil conter nova cepa.

O Amazonas começou a abastecer o estoque de oxigênio para atender à demanda dos hospitais que carecem do insumo para impedir a morte de pacientes internados com covid-19 e outras doenças, mas autoridades locais temem que não seja o suficiente para tirar a rede de saúde do estado de um estágio de colapso tão rapidamente. O que mais preocupa é a variante do novo coronavírus, que tem se espalhado pelo estado nos últimos dias, e o governador Wilson Lima (PSC) admite que será muito difícil conter a cepa. O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a abertura de inquérito para apurar se houve omissão das autoridades locais.

“Nós rodamos todos os cenários possíveis, mas o que aconteceu no Amazonas foi algo extraordinário, algo excepcional. Temos essa mutação do vírus que tem alta transmissibilidade. Os próximos dias serão muito difíceis. A gente estima que a situação só vai melhorar dentro de dois dias. A gente também precisa analisar a curva de infecção para saber em que momento vamos baixar o número de internações. Só vamos ter uma regularização da situação no momento em que caírem as internações”, disse o governador.

A nova forma da covid-19, que assola o Amazonas, tem maior potencial de transmissão e contribuiu para que as estatísticas do novo coronavírus no estado chegassem a índices alarmantes. A taxa de ocupação dos leitos clínicos para a doença é de 98,85%, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, e as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com covid-19 estão lotadas em 90,29%.

Na semana passada, a unidade da Federação registrou o maior número de casos da enfermidade dentro de um período de 24 horas desde o início da pandemia: 3.816, na quinta-feira. Hoje, de acordo com o Ministério da Saúde, Amazonas tem 229.367 infectados e 6.123 mortos. Manaus é a cidade mais prejudicada. Também na quinta-feira, a capital atingiu o pico de novos casos em um único dia: 2.516. O levantamento mais recente do município mostra que já são 95.707 manauaras diagnosticados com covid-19 e 3.975 óbitos pelo novo coronavírus.

Uma das estratégias do governo local para tentar aliviar o serviço de saúde amazonense é a transferência de pacientes para outras unidades da Federação. Entre sexta-feira e ontem, 32 pessoas que estavam internadas em Manaus foram levadas para hospitais do Maranhão e Piauí. Além disso, três pacientes do município de Tabatinga seguiram para unidades hospitalares do Acre. Ao todo, 235 amazonenses devem ser remanejados para outras partes do país até que a situação no estado se normalize.

“São pacientes que têm nível moderado do perfil clínico que estão sendo recebidos pelos nossos irmãos. Os aviões foram adaptados para receber os pacientes. Existe um número máximo de recebimento e as nossas equipes de saúde estão acompanhando os pacientes”, disse o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo.

“O processo de embarque se dá dentro de um protocolo de segurança. Nós trabalhamos primeiro com a classificação desses pacientes pelo complexo regulador, dentro de uma estabilidade clínica, onde esse paciente é classificado pelo médico da unidade e atendido pelo médico regulador da unidade de destino. É um transporte realizado para que o paciente mantenha uma estabilidade desde o embarque até a recepção no hospital de origem”, reforçou a especialista em Urgência e Emergência da Secretaria de Saúde do Amazonas, Neylane Macedo.

Consumo em alta

Na madrugada de ontem, 70 mil metros cúbicos de oxigênio chegaram a Manaus. O insumo foi adquirido pelo governo estadual no último dia 10 e levado à capital do Amazonas por meio de balsas, que saíram de Belém. A quantidade, contudo, ainda não atende à demanda diária do estado. Por conta da escassez do insumo, o consumo de oxigênio em todo o estado, atualmente, é de 76 mil metros cúbicos.

Além disso, duas aeronaves da Força Aérea Brasileira transportaram 6 mil metros cúbicos de oxigênio líquido para Manaus, divididos em 13 tanques. Também ontem, havia a previsão de o Ministério da Saúde entregar 80 cilindros do insumo à capital amazonense, o que não aconteceu até o fechamento desta edição. A quantidade exata do gás não foi informada pela pasta. O transporte será feito com a mesma aeronave que buscará, em breve, 2 milhões de doses de vacinas contra covid-19 em Mumbai, Índia.

Para facilitar a entrega do insumo no Amazonas, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) decidiu flexibilizar as obrigações regulatórias relacionadas ao transporte doméstico e internacional de cargas de oxigênio destinado ao uso hospitalar. Segundo a ANTT, a medida foi tomada “em atenção à situação de emergência de saúde pública decorrente do coronavírus (covid-19) e do abastecimento de oxigênio nos hospitais de todo país, em especial, ao do Amazonas”.

Publicação enganosa

O Twitter afirma que uma publicação do perfil oficial do Ministério da Saúde violou regras sobre "informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à covid-19". O alerta da plataforma foi feito sobre texto publicado na terça-feira (12) que trata do “atendimento precoce”, que, no vocabulário do governo federal, significa o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra pandemia, como a hidroxicloroquina.

"Avalanche de pacientes"

Fernanda Soares, especialista em clínica médica e atenção domiciliar, conta que nunca trabalhou tanto na vida quanto na última semana. A médica acompanha pacientes acometidos pela covid-19 desde março, quando a doença chegou a Manaus, mas relata que a situação nunca esteve tão crítica quanto agora: se antes 75% dos pacientes que atendia testavam positivo para o novo coronavírus, neste início do ano 99% dos casos que chegam a ela são da covid-19. “O boom começou em 24 de dezembro. Vinha muito paciente, uma avalanche”, afirma. Agora, ela sente que os profissionais de saúde estão “enxugando o gelo”, porque a demanda por leitos, cuidados e tratamentos é muito mais alta do que a capacidade de atendimento dos hospitais.

O colapso da saúde na capital do Amazonas envolve hospitais públicos e particulares, além do abastecimento de equipamentos essenciais, como os tanques de oxigênio. Os oxímetros de pulso, que medem a saturação do paciente, são fáceis de usar em casa e normalmente vendidos em farmácia, também estão em falta.

O oxigênio é essencial, explica a médica, porque um paciente com inflamação pulmonar — muito comum na covid-19 — tem a entrada de ar comprometida. Doentes com outras enfermidades também precisam do equipamento, o que torna a crise de desabastecimento ainda mais grave. “Eu me sinto impotente. O paciente me chama, mas na verdade o que ele precisa mais do que um médico é o oxigênio”, desabafa Fernanda Soares.

A médica atribui a crise a dois fatores: o primeiro é a aglomeração em espaços públicos. Ela conta que as ruas de Manaus estão mais cheias hoje do que estavam no início da pandemia, em março e abril. O outro fator é a presença de nova cepa do coronavírus na cidade. Apesar dos estudos sobre a mutação ainda serem poucos, ela acredita que a maior capacidade de transmissão também seja responsável pela situação na capital amazonense.

Celebridades em todo o país se mobilizaram para enviar oxigênio e outros equipamentos médicos ao Amazonas.


(AF) Augusto Fernandes/Correio Braziliense

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