Operação resgata 140 trabalhadores de condições análogas à escravidão, 11 na divisa entre PB e RN, em minas de caulim.
Cento e quarenta
trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão em vários
Estados do País, 11 deles em garimpos e minas de caulim, na divisa entre a
Paraíba e o Rio Grande do Norte. Os resgates ocorreram este mês, durante a
‘Operação Resgate’, a maior força-tarefa de combate ao trabalho escravo já
realizada no Brasil. A ação foi anunciada nesta quinta-feira (28), Dia Nacional
de Combate ao Trabalho Escravo. Houve fiscalizações em 23 Unidades da
Federação. Integram a operação o Ministério Público do Trabalho (MPT), a
Polícia Federal (PF), a Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do
Ministério da Economia, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria
Pública da União (DPU).
“É lamentável que, em pleno
século XXI, os trabalhadores estejam jogados à própria sorte, em situações de
grave risco de vida e sejam submetidos a condições completamente degradantes
que violam a própria noção de dignidade humana”, afirmou o procurador do
Trabalho Marcos Antonio Ferreira Almeida, que participou da operação na divisa
entre Paraíba e Rio Grande do Norte, que foi iniciada na semana passada (18/01)
e só foi encerrada na última segunda-feira (25).
Em buracos abertos no solo,
com pouca iluminação, muito calor e pouco oxigênio, os trabalhadores do caulim
– chamados de “homens-tatus” – trabalham sem proteção alguma, nas chamadas
banquetas de caulim, minério branco usado na fabricação de cerâmica, pisos,
papel, tintas, etc.
“Amarrados e presos por
cordas em um carretel artesanal, esses trabalhadores descem as chamadas
banquetas de caulim, que são buracos cavados na terra, a mais de 10 metros de
profundidade. As condições são absolutamente precárias, com risco iminente de
acidente, soterramento e morte”, descreveu o procurador Marcos Almeida,
acrescentando que foram visitadas pela equipe de fiscalização quatro banquetas
para extração do caulim.
Conforme relatou o
procurador, as condições eram precárias nos locais visitados, sem água potável
para beber, alojamentos de lona e plástico, sem banheiro, em um ambiente
totalmente insalubre e inseguro.
O procurador informou que foram
pagos aos 11 trabalhadores resgatados aproximadamente R$ 95 mil de indenizações
por dano moral individual (cerca de R$ 8 mil a cada um), além das verbas
rescisórias decorrentes da extinção do contrato de trabalho. “Eles passarão
também a receber o seguro-desemprego por um período de até três meses até que
possam conseguir uma nova oportunidade de trabalho digno”, acrescentou.
“O MPT estará sempre
vigilante para que se possa promover – juntamente com diversos outros órgãos
parceiros – o devido enfrentamento do trabalho escravo contemporâneo, enquanto
violação manifesta dos direitos humanos do cidadão trabalhador”, finalizou
Marcos Almeida.
Dados do MPT
De acordo com dados extraídos do sistema MPT Digital, de 2015 a 2020, a instituição recebeu mais de 6 mil denúncias relacionadas aos temas ‘trabalho escravo’ e ‘aliciamento e tráfico de trabalhadores’. Neste período, foram firmados 1.316 termos de ajustamento de conduta (TACs) e ajuizadas pelo órgão mais de 500 ações sobre o assunto. Do total de denúncias no País, aproximadamente 200 foram recebidas pelo MPT na Paraíba.
“Escravidão contemporânea”
Atualmente, no Brasil,
quatro elementos definem a chamada “escravidão contemporânea”: trabalho forçado
(que envolve cerceamento do direito de ir e vir), servidão por dívida (um
cativeiro atrelado a dívidas, muitas vezes fraudulentas), condições degradantes
(trabalho que nega a dignidade humana, colocando em risco a saúde e a vida do
trabalhador) ou jornada exaustiva (levar o trabalhador ao completo esgotamento
dado à intensidade da exploração, também colocando em risco sua saúde e vida).
Sobre a operação nacional
Além do resgate dos
trabalhadores, a ação integrada tem como objetivo verificar o cumprimento das
regras de proteção ao trabalho, a coleta de provas para garantir a
responsabilização criminal daqueles que lucram com a exploração e a reparação
dos danos individuais e coletivos causados aos resgatados. Ao todo, no País,
foram realizadas até esta quinta-feira (28/01) 64 ações fiscais, lavrados 360
autos de infração e identificados 486 trabalhadores sem registro na carteira de
trabalho. Serão destinados cerca de R$ 500 mil em verbas rescisórias aos
trabalhadores flagrados em condições análogas à escravidão e cada um deles terá
direito a três parcelas do seguro-desemprego.
Em entrevista coletiva
realizada nesta quinta-feira (28), no Instituto Nacional de Criminalística da
Polícia Federal, em Brasília, as instituições destacaram o perfil variado das
vítimas. Entre elas, estão trabalhadores do meio urbano e rural, bem como
indígenas, adolescentes, trabalhadoras domésticas, migrantes estrangeiros,
pessoas com deficiência e idosos.
Para o procurador-geral do
MPT, Alberto Balazeiro, a ‘Operação Resgate’ é um marco interinstitucional por
ser a maior equipe já formada em uma única operação de combate ao trabalho
escravo. Balazeiro destacou que os números expressivos e a abrangência nacional
das fiscalizações demonstram que ainda há muito trabalho a ser feito. “As
atividades em que ocorre trabalho escravo são múltiplas, desde as oficinas de
costura até a atividade rural, doméstica e garimpo, que provam que ainda há um
cenário muito duro a ser combatido”, afirmou.
O procurador-geral do MPT
disse, ainda, que a instituição tem muito a contribuir para combater essa chaga
por meio de sua Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e
Enfretamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete).
O subsecretário de Inspeção
do Trabalho do Ministério da Economia, Rômulo Machado e Silva, destacou a
parceria institucional desenvolvida nos últimos 25 anos com a Polícia Federal,
o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Federal, a Defensoria
Pública da União e com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e outras
instituições. “A reflexão que a gente traz é que a atuação conjunta do Estado
na repressão desse terrível crime tem tido avanços. Precisamos trabalhar cada
vez mais estrategicamente e proativamente para que de fato a gente consiga
eliminar essa que é a pior forma de trabalho do nosso país”, ressaltou.
Também participaram da
entrevista coletiva o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da
PF, Igor Romário de Paula, o coordenador-geral de Repressão a Crimes contra
Direitos Humanos e Cidadania da PF, José Roberto Peres, e o defensor público
federal Murillo Ribeiro Martins.
Dia Nacional de Combate ao
Trabalho Escravo
O Dia Nacional de Combate ao
Trabalho Escravo foi criado em homenagem aos auditores-fiscais do Trabalho
Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida
Gonçalves, além do motorista Aílton Pereira de Oliveira, que foram assassinados
em Unaí, no dia 28 de janeiro de 2004, quando investigavam denúncias de
trabalho escravo em uma das fazendas de Norberto Mânica. O episódio ficou
conhecido como a chacina de Unaí (MG).
Fonte: Ascom/MPT-PB com
Ascom/PGT
Fotos: Jorge Fernandes/MPT-PB
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