Brasil ultrapassa a marca de 500 mil mortos por covid-19
Ministério da Saúde
contabiliza 11,5% da população vacinada com as duas doses. Foram registrados
2.301 óbitos nas últimas 24 horas.
O Brasil registrou, neste sábado (18), 2.3015 mortes por covid-19 e 82.288 novos casos diagnosticados, de acordo com os dados enviados pelos estados ao Ministério da Saúde e ao Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). Com isso, o país superou a marca dos 500 mil mortos por covid-19. O Brasil contabiliza agora 500.800 óbitos e 17.883.750 pessoas que já foram diagnosticadas com a doença.
Desde janeiro, quando a
primeira pessoa foi vacinada, até o momento, apenas 11,5% da população recebeu
as duas doses do imunizante contra a doença, o que corresponde a 24.426.291
pessoas.
O ministro da Saúde Marcelo
Queiroga usou as redes sociais neste sábado para lamentar os 500 mil óbitos no
Brasil provocados pela pandemia da covid-19. Ele disse que trabalha para
vacinar todos os brasileiros no menor tempo possível e mudar o cenário.
"500 mil vidas perdidas
pela pandemia que afeta o nosso Brasil e todo o mundo", escreveu Queiroga.
"Trabalho incansavelmente para vacinar todos os brasileiros no menor tempo
possível e mudar esse cenário que nos assola há mais de um ano."
Queiroga escreveu ainda:
"Presto minha solidariedade a cada pai, mãe, amigos e parentes, que
perderam seus entes queridos".
Para especialistas, a
lentidão da campanha de vacinação contribuiu não apenas para o grande número de
mortes, mas também para que o país se tornasse um perigo epidemiológico para o
mundo, o que deixa a população ainda mais vulnerável, sem perspectiva de
controle da pandemia.
Segundo a pediatra Flávia
Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), essa
insuficiência da campanha de vacinação contra a covid-19 mantém a alta
circulação do vírus e, portanto, maior possibilidade de contaminação e do
surgimento de novas variantes que contribuem para o aumento de hospitalizações
e mortes.
“Não podemos pensar só na
falha do controle da doença em si, mas nas consequências disso para a nação
como um todo. Isso dá margem para outras ondas, que gera um platô, em que
continuamos sendo um perigo epidemiológico iminente para o resto do planeta.
Não vamos conseguir recuperar todas as perdas em termos de desenvolvimento
econômico e emprego enquanto não tivermos um controle da situação”, afirma.
Para a especialista, o
Ministério da Saúde falhou em ter demorado nas negociações para a compra de
vacinas. “É uma tragédia que poderia ter sido evitada com a celeridade na
vacinação”, afirma. Ela cita como exemplo os Estados Unidos, que, após imunizar
grande parte da população, estão doando as vacinas que sobraram.
E doses insuficientes são o
que impedem que o país vacine mais de 1 milhão de pessoas por dia, como já fez
na campanha de imunização contra o vírus influenza. Uma investigação realizada
pela CPI Covid mostrou que o governo brasileiro ignorou, no ano passado, pelo
menos 53 e-mails de ofertas da Pfizer.
“O Brasil sempre teve a
expertise em vacinar. Porém, é necessário coordenação e gerenciamento,
definição de diretrizes, de metas e de cobranças de resultados que venha de um
PNI [Programa Nacional de Imunizações] fortalecido e que tenha apoio de todas
as áreas governamentais”, afirma.
Segundo o Ministério da
Saúde, 4,4 milhões de pessoas não retornaram para receber a segunda dose da
vacina dentro do prazo recomendado. Em nota, a pasta também informou que
enviou, até o dia 14 de maio, as doses da CoronaVac que estavam pendentes para
completar o esquema de vacinação.
A aplicação da segunda dose
deste imunizante chegou a ser interrompida, em grande parte das cidades após o
Instituto Butantan, que produz a vacina no Brasil, enfrentar o desabastecimento
dos insumos necessários, importados da China, para a fabricação da vacina.
“É importante que as
informações não sejam truncadas. Se a comunicação com a população é de má
qualidade e com informações controversas, a campanha de vacinação fica muito
difícil, os itens comunicação e divulgação são essenciais e isso também não
aconteceu”, afirma Flávia.
Além da falta de cobertura
vacinal, a especialista destaca que as medidas de restrição deveriam ter sido
tomadas de acordo com a epidemiologia de cada local, tendo em vista a
quantidade de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) disponíveis e a capacidade
de atendimento de cada região do país.
A médica também chama a
atenção para o afrouxamento das medidas não farmacológicas, como o uso de
máscara e distanciamento social, por parte da população. “A partir do momento
que a verdade é encarar a nossa lentidão e a escassez de vacinas, não podemos
de modo nenhum deixar de seguir as outras medidas de proteção”, afirma.
A especialista orienta que,
enquanto não houver vacinas disponíveis para todos, o uso de máscaras ainda é
necessário para evitar a transmissão do vírus.
Terceira onda
Vacinação lenta, a
descoberta e a chegada de novas variantes ao país, além da alta taxa de
transmissibilidade do coronavírus, ajudam a projetar a possibilidade do início
de uma terceira onda da pandemia ainda este mês no Brasil. Em maio, o ministro
da Saúde, Marcelo Queiroga, já admitia preocupação com a perspectiva.
O último boletim do
Observatório Covid-19 da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), aponta que é de alto
risco o atual cenário do país devido ao grande número de novos casos
diagnosticados, uma média de 60 mil por dia, e a manutenção de um platô elevado
de transmissão do coronavírus.
Além disso, a fundação
destaca que 18 estados e o Distrito Federal apresentam taxas de ocupação de
leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de pelo menos 80%, sendo que em
oito deles a ocupação é igual ou superior a 90%. Apenas os estados do Acre e
Rondônia são considerados fora da zona crítica.
Apesar do cenário, os
pesquisadores da Fiocruz afirmam que ainda é cedo para dizer que o país entrou
na terceira onda. “Semana após semana, cria-se a expectativa de que podemos
iniciar a temida terceira onda, abandonando a ideia de que ainda temos um
quadro crítico, como se [já] tivéssemos saído da segunda”, disseram.
Segundo Isaac Schrarstzhaupt,
cientista de dados e coordenador da Rede Análise COVID-19, o Brasil enfrenta um
momento de aumento leve de novos casos, que estava previsto com a chegada do
outono, clima que potencializa as chances de doenças respiratórias, que
preocupa pelo sistema de saúde já sobrecarregado.
“Os hospitais foram muito
massacrados na onda anterior, não tiveram tempo de se recuperar, então esse
aumento leve já é um transtorno. Não tem como prever os números [de uma nova
onda], porque já vimos que o teto dessa doença é inexistente. Se deixarmos, ela
sobe a números absurdos. Então, se há uma tendência de aumento de casos, já é
um sinal para agir e não pagar para ver”, afirma o cientista.
Além disso, Schrarstzhaupt
explica que a média de novos casos e mortes varia conforme as notificações são
realizadas pela vigilância epidemiológica de cada município e que isso sofre
influência direta de feriados, quando as equipes estão reduzidas, o que pode
refletir em uma queda significativa dos números por até uma semana, gerando uma
falsa perspectiva de que a pandemia está sob controle no país.
Segundo o cientista, uma
queda sustentada e real é aquela que se mantém por pelo menos 15 dias, de
maneira efetiva e forte. “Só vivemos isso em setembro de 2020, que foi um
período de queda mais sustentável. Depois, aumentamos a mobilidade da população
e estamos nessa situação de perigo constante”.
Ele destaca que a
flexibilização das medidas de restrição que tem ocorrido no país pode levar,
também, a uma falsa sensação de segurança para a população, o que favorece o
aumento da mobilidade entre as pessoas e, por consequência, o aumento da
transmissão do vírus, que resulta em novos casos e mortes por covid-19.
“Muitas pessoas se baseiam
no que o governo está fazendo: se restringiu, quer dizer que está ruim; se
liberou, é porque está bom. Mas o que estamos vendo é que não tem uma
correlação direta entre as medidas e o andamento efetivo da pandemia, às vezes
as flexibilizações ocorrem por pressões políticas ou econômicas”, afirma.
Ele acrescenta: “Se estou
amarrado a 1,80 metros no fundo de uma piscina e alguém a enche com mais dez
metros de água, estou me afogando. Se a água começa a cair para nove metros,
oito metros, e a pessoa vê que está caindo e volta a enchê-la, continuo me
afogando. Eu preciso que a água caia para menos que 1,80m para que eu possa
respirar. O Brasil não está deixando a água chegar nesse nível nunca”, afirma.
Hysa Conrado, do R7
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