ATENÇÃO: Governo eleva de R$ 9 bi para R$ 13 bi previsão de gasto com termelétricas; consumidor paga.
Estimativa feita pelo
Ministério de Minas e Energia mostra que o aumento do uso das usinas
termelétricas, provocado pelo cenário de crise hídrica, custará neste ano R$
13,1 bilhões para os consumidores.
O número representa 45% de
aumento em relação à estimativa anterior, informada em junho, que previa custo
de R$ 9 bilhões.
O cálculo é baseado em
simulações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e considera o uso
adicional das usinas entre os meses de janeiro e novembro deste ano.
O aumento no custo da
geração de energia é repassado aos consumidores por meio da bandeira tarifária,
taxa extra aplicada à conta de luz.
Caso a arrecadação com as
bandeiras ao longo do ano não seja suficiente para cobrir os custos, a
diferença é repassada para as tarifas de energia.
O que diz o governo
O ministério de Minas e
Energia e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) informaram ao
G1 que as ações adotadas pelo governo para preservar a água dos reservatórios
das hidrelétricas têm levado ao acionamento de mais usinas térmicas, garantindo
o fornecimento de energia.
Isso fez com que a previsão
de custo do uso da energia térmica ao longo deste ano passasse de R$ 9 bilhões
para R$ 13,1 bilhões.
"O custo adicional de
despacho termelétrico esperado até novembro aumentou em razão das medidas de
flexibilização adotadas, que têm permitido o maior armazenamento de água nos
reservatórios e, por consequência, a maior utilização de termelétricas para
atendimento à demanda do sistema”, informaram o ministério e a Câmara de
Comercialização.
A geração de energia por
usinas termelétricas tem batido recorde nas últimas semanas. Na sexta-feira
(9), o país gerou 19,2 mil megawatts médios (MWmed) de energia por térmicas. O
valor é recorde para a série histórica.
Para efeitos de comparação,
a produção térmica diária não ultrapassou 15,4 mil MWmed em janeiro deste ano.
Na crise energética de 2014, o recorde diário foi de 15,8 mil MWmed. Em 2001, o
Brasil praticamente não tinha usinas termelétricas.
Ainda de acordo com o MME, o
uso das térmicas de janeiro a junho já custou R$ 6,6 bilhões.
Bandeiras tarifárias
Desde junho, está em vigor
na conta de luz a bandeira vermelha patamar 2, a mais elevada do sistema. A
previsão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é que a bandeira
vigore até novembro, para cobrir os custos com o aumento da geração de energia
por termelétricas.
No final de junho, a agência
aprovou reajuste de 52% para a bandeira vermelha 2, que passou de uma cobrança
extra de R$ 6,24 para R$ 9,49 por cada 100 kWh consumidos, valor que será
cobrado em julho.
Para os próximos meses, a
agência discute se mantem o valor ou se aumenta para R$ 11,50 por 100 kWh
consumidos.
Reservatórios
O governo tem anunciado uma
série de medidas para preservar água nos reservatórios das hidrelétricas,
principalmente aqueles localizados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que
respondem por cerca de 70% da geração de energia do país.
O objetivo é que esses
reservatórios cheguem a outubro e novembro (fim do período seco) com nível
suficiente para geração de energia. Uma queda brusca poderia causar o colapso
do sistema elétrico, já que as demais fontes de geração de energia não têm
potencial para atender a toda demanda.
As usinas hidrelétricas
representam 62% da capacidade instalada de geração de energia elétrica do país,
segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). As usinas termelétricas,
solares, eólicas e nucleares respondem por 38%.
Na quinta-feira, os
reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste estavam com 28,4% da capacidade de
armazenamento. A previsão do ONS é que o percentual caia para 26,4% até o fim
de julho. Já a demanda por energia deve aumentar 4% em julho, na comparação com
o mesmo mês de 2020, segundo o ONS.
Como não há perspectiva de
chuvas forte na região dos reservatórios até novembro, e com a crescente
demanda de energia, na esteira da recuperação econômica, o ONS estimou, em
junho, que os reservatórios podem chegar a 10,3% de nível de água em novembro,
o menor nível mensal em 20 anos.
O esvaziamento dos
reservatórios é fruto, entre outros motivos, do pior nível de chuva em 91 anos.
Apesar da crise hídrica, o governo descarta racionamento de energia e
possibilidade de apagão em 2021.
Por Jéssica Sant'Ana, G1 — Brasília
Nenhum comentário