“É um equívoco vacinar adolescentes saudáveis antes de vacinar o último adulto”, diz diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Renato Kfouri, Diretor do SBIm. Foto: Reprodução/TV
Em entrevista exclusiva ao
portal Brasil 61.com, Renato Kfouri avaliou os riscos da inclusão de
adolescentes de 12 a 17 anos na fila da vacinação contra a Covid-19, já
anunciada por alguns estados e municípios.
Alguns estados e municípios
já anunciaram a inclusão de adolescentes de 12 a 17 anos na fila da vacinação
contra a Covid-19, mesmo sem uma recomendação formal do Ministério da Saúde. Em
entrevista exclusiva ao portal Brasil 61.com, o diretor da Sociedade Brasileira
de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, avaliou os riscos dessa aceleração.
Segundo ele, os estados e
municípios têm autonomia para tomar esta decisão, mas não é o recomendado. “É
um equívoco vacinar adolescentes saudáveis antes de vacinar o último adulto.
Nós não podemos começar a vacinação invertendo prioridades sob pena de deixar
os indivíduos com maior risco desprotegidos. Os adolescentes, menores de 20
anos, têm um risco muito menor de adoecimento e só devem ser vacinados quando o
último adulto receber a sua primeira dose”, afirmou.
A vacinação se tornou uma
disputa entre gestores para ver quem consegue imunizar mais pessoas. O Programa
Nacional de Imunizações (PNI) não orienta a vacinação de adolescentes
saudáveis. Ainda de acordo com o especialista, isso pode provocar a falta de
imunizantes para quem mais precisa.
“Não há uma recomendação
formal, o município que inverte essa priorização e começa a vacinação dos
adolescentes antes dos adultos não está seguindo a recomendação do Ministério
da Saúde e com a quantidade restrita de doses obviamente está deixando de
vacinar algum adulto de maior risco.”
A hierarquização, segundo o
médico, acontece diante de um cenário de falta de vacinas. “Obviamente se
tivermos vacinas em enorme quantidade estaríamos vacinando todos e nem
discutindo quem deve ser vacinado primeiro. Não é o nosso caso, então nós temos
primeiro vacinar os mais vulneráveis”, destacou.
Sobre os possíveis riscos e
efeitos colaterais da aplicação da vacina em menores de 18 anos, Kfouri
destacou que ainda não foram apontados perigos reais, mas que os estudos foram
desenvolvidos de acordo com os grupos prioritários, que são justamente aqueles
mais vulneráveis. Como a Covid-19 acomete crianças e adolescentes de maneira
muito desproporcional, com índices pequenos de hospitalizações e mortes, eles
não foram, no primeiro momento, estudados para vacinação.
“À medida que a vacinação de
adultos vai avançando – adolescentes e crianças respondem por um quarto da
nossa população –, é necessário incluí-las no programa de vacinação. Primeiro
para controle da transmissão e, segundo, porque entre adolescentes também e
menores de 20 anos de idade temos doentes crônicos, diabéticos, obesos,
gestantes, aqueles que têm fatores de risco que precisarão ser vacinados. E os
estudos já estão bem avançados nessa população”, destacou o diretor da SBIm.
Até o momento, o único imunizante
no País com autorização para aplicação em adolescentes de 12 a 17 anos é o da
Pfizer. De acordo com o médico, a segurança das vacinas deve ter uma atenção
maior entre as crianças e adolescentes. “Como a doença é mais rara, se você tem
um efeito colateral muito raro, mas a doença é muito frequente, o benefício da
proteção vai prevenir muito mais casos do que os raros efeitos colaterais. Onde
a doença é menos frequente, raramente agrava, o cuidado com a segurança da
vacina deve ser maior ainda”, pontuou.
Segundo Kfouri, a discussão sobre a imunização de crianças e adolescentes de risco deve ter uma aprovação em breve, não para os saudáveis.
Fonte: Brasil 61 -
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