Covid-19: sequelas de longo prazo geram alerta para pacientes no pós-alta.
Pesquisa da Coalizão COVID-19
Brasil, que integra estratégia da OMS para o enfrentamento à Long COVID, mostra
que o número de mortalidade geral pós-alta, em 6 meses, chega a 7%.
Dados do Ministério da Saúde
revelam que, até o momento, cerca de 20 milhões de pessoas infectadas com o
coronavírus já se recuperam da Covid-19. O problema é que boa parte desses
pacientes ainda sofre com as sequelas da doença, mesmo no pós-alta, como
explica o médico intensivista e pesquisador do Hospital Moinhos de Vento, Regis
Rosa.
“Os pacientes frequentemente
apresentam fraqueza muscular, cansaço e, eventualmente, até dor crônica. Os
pacientes que tiveram ventilação mecânica podem apresentar lesões na traqueia,
redução da sua capacidade física, alteração de memória e também redução da
velocidade de raciocínio”, destaca.
O especialista é o representante
brasileiro no grupo de trabalho formado pela OMS para o enfrentamento da Long
COVID e reabilitação dos pacientes. Um dos estudos elaborados pelo grupo é o
Coalisão VII. Dados parciais da pesquisa apontam que o número de mortalidade
geral pós-alta, em 6 meses, chega a 7%.
Quando se trata de pacientes que
precisaram de ventilação mecânica, esse número é de 24%. A reospitalização
geral, no mesmo período, é de 17%, enquanto a de pacientes que necessitaram de
ventilação mecânica chega a 40%.
Regis Rosa afirma, ainda, que,
tanto pacientes graves quanto de casos leves ou moderados estão sujeitos às
sequelas duradouras. Esses problemas, segundo ele, causam prejuízos à saúde
física, mental e até social das vítimas, como é o caso de quem não consegue
retornar ao trabalho ou aos estudos.
“Eles precisam ser avaliados por
um médico, por uma equipe interdisciplinar, para que se faça um diagnóstico e,
a partir disso, se estabeleça um plano de reabilitação. Porque grande parte
dessas sequelas, tanto em pacientes graves quanto não graves, são reversíveis.
Quanto mais rápido o paciente tiver acesso a medidas de reabilitação, mais
rápido ele vai recuperar a qualidade de vida”, considera.
O estudo é um dos nove
desenvolvidos pela aliança formada por Hospital Israelita Albert Einstein,
HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão
Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical
Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva
(BRICNet).
Entre as principais sequelas da
Covid-19, algumas estão relacionadas à parte psicológica das vítimas. É comum
que pacientes que passaram por todos os transtornos provocados pela doença
sofram, por exemplo, com ansiedade ou depressão. Os dados parciais da coalizão
mostram que casos de ansiedade, seis meses após alta médica, atingem 22% dos
pacientes. Já o estresse pós-traumático acomete 11%.
Camila de Oliveira, 31 anos, foi
diagnosticada com Covid-19 em outubro de 2020. Ela mora na França e, por lá,
nessa mesma época, a pandemia estava no auge da segunda onda e o governo local
decretava lockdown. O distanciamento social levou a estudante a ter problemas
psicológicos.
“A gente fica angustiada, porque
surge um cansaço. Eu não saí da cama e fiquei com medo de não conseguir mais
respirar, de ninguém poder me socorrer. Com isso, a gente fica apreensivo, se
perguntando se vai ficar em estado grave, se vai parar de respirar durante a
noite e não ter ninguém para ajudar”, relata.
Segundo o médico Fabrício da
Silva, especialista em cardiologia, clínica médica e emergências clínicas pela
Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pelo Instituto de Cardiologia do
Distrito Federal, os problemas psicológicos relacionados à pandemia não são
exclusividade de pessoas que foram infectadas pelo coronavírus.
“Isso não é exclusivo ao paciente
que foi acometido pela Covid-19, mas aos familiares que acompanharam de perto
internações ou que eventualmente perderam um ente querido. Já temos um tema do
transtorno do estresse pós-traumático. O paciente que tem uma internação
prolongada em UTI tem depois dificuldade com o sono, transtorno de ansiedade, e
que necessitam de um apoio profissional de psicólogo ou de psiquiatras”,
pontua.
Fonte: Brasil 61 -
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