Disputa de território: Ceará pode perder 13 cidades para o Piauí.
Estados nordestinos disputam
desde 2011 área com reservas minerais, hídricas, com potencial minerador e de
produção de energia eólica.
Cerca de 25 mil moradores do
Ceará podem se tornar cidadãos piauienses por conta de uma disputa territorial
entre os dois estados movida em 2011. Na ação civil originária (ACO) 1831,
movida pelo Piauí no Supremo Tribunal Federal (STF) — e que tem como
relatora a ministra Cármen Lúcia —, o estado requer 3 mil Km² do território
cearense, o que atinge 13 municípios do Ceará e oito do Piauí.
A pedido da ministra
relatora, o Exército está fazendo uma nova perícia técnica para dizer qual
unidade da federação, de fato, é a dona do território. A perícia é
dividida em quatro fases: planejamento; imagem e coleta de dados; análise de
dados históricos; e geração de produtos periciais. Os peritos do estiveram em
setembro e outubro na área disputada e foram acompanhados por representantes do
Ceará e do Piauí. A previsão é que o trabalho seja concluído até maio de 2024.
O advogado especialista em
Tribunais Superiores Vitor Covolato explica em que etapa o Supremo
está em relação a esse recurso.
“Este momento que estamos
agora é a fase que chamamos de fase instrutória, quando se faz a prova do
processo. O Exército vai funcionar como perito. Vai fazer os levantamentos
geográficos, georreferenciados, para dizer — do ponto de vista técnico — quem
tem a titularidade desse território. E depois isso vai para julgamento no
Supremo.”
Cidades cearenses envolvidas
na questão
Poranga
Croatá
Tianguá
Guaraciaba do Norte
Ipueiras
Carnaubal
Ubajara
Ibiapina
São Benedito
Ipaporanga
Crateús
Viçosa do Ceará
Granja
Áreas em disputa são
produtivas e podem gerar riquezas
As áreas disputadas possuem
reservas naturais, hídricas, minerais e extensas áreas de plantio, com
potencial turístico e de produção de energia eólica.
Segundo o economista e
professor da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo três motivos
levam os estados a disputar territórios. O primeiro com relação ao tamanho do
estado com relação ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM) — quanto maior
o território, maior o volume de recursos; outra razão que pode motivar a
disputa é a questão política — com relação à quantidade de eleitores e formação
de câmaras municipais; mas, segundo Bergo, outra questão pesa mais dessa
briga.
“A área é rica em minério e
também é uma área que pode ter um potencial grande para energia elétrica
eólica e solar, principalmente. Por isso a disputa entre os dois estados. E
como evoluiu bastante a questão cartográfica em termos de verificação, o Piauí
reivindica essa área — que o Ceará coloca como dele — mas diante desses
levantamentos mais modernos que foram feitos.”
Para o economista, existe
ainda uma questão social que deve ser levantada, já que “se houver a mudança,
os cearenses passam a ser piauienses”, explica Bergo. Mas, para o economista, a
grande questão ali é mesmo econômica. “Se não tivesse a questão econômica
envolvida, essa briga já teria sido solucionada há muito tempo.”
Histórico da disputa
A disputa tem origem na
interpretação do Decreto Imperial 3.012, de 1880, que determinou a troca de
territórios entre os dois estados. Enquanto o Ceará recebeu a Comarca de
Príncipe Imperial — que corresponde aos atuais municípios Crateús e
Independência, ambos no Ceará —, o Piauí recebeu em troca a região da Freguesia
de Amarração — hoje municípios Luís Correia e Cajueiro da Praia, no Piauí.
Entre a área que o Ceará
cedeu, ao norte, no litoral, e a que foi recebida, mais ao sul, no sertão,
existe a Serra da Ibiapaba, que é a divisa natural entre os dois estados — e o
foco da divergência.
O Piauí entende que parte da
Serra da Ibiapaba pertenceria ao estado. Já o Ceará contesta. Mas segundo a
análise dos documentos, a Serra da Ibiapaba não teria relação com essa divisão —
e por isso permaneceu inteiramente no território cearense.
Fonte: Brasil 61 -
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